Não vamos misturar fé religiosa e geração de energia elétrica
Maurício Corrêa, de Brasília —
Embora seja absolutamente agnóstico, este editor ganhou de presente e gosta de usar um calendário católico, produzido pela gráfica de uma antiga ordem monástica. Tem sido um calentário bastante útil.
Hoje, por exemplo, dia 14 de março, a Hagiografia, que é o estudo dos santos da Igreja Católica, indica que é dia de Santa Matilde, São Eutíquio e São Afrodísio.
Este editor respeita a fé de todo mundo, mas confessa que não tem interesse na Hagiografia. Está mais interessado em outra parte do calendário católico, que indica que nesta mesma data também se comemora o “Dia Mundial de Luta contra as Barragens e em Defesa dos Rios, da Água e da Vida”.
Esse é um belo discurso e o editor concorda que todos devem se preocupar com a preservação dos rios, da água e da vida. Provavelmente até os barrageiros concordam com esse discurso.
O raciocínio que se impõe é que existe uma vertente ambientalista que não está preocupada apenas com a floresta, mas, também, com a salvação das almas.
Isso também é interessante, mas a pergunta que surge é a seguinte: tudo bem, não pode construir hidrelétricas, não pode construir termelétricas, não pode construir usinas nucleares. E o valoroso povo brasileiro vai tirar energia de onde para dar suporte à nossa gigantesca economia? Para gerar empregos e produzir riquezas?
Será que esse povo que é contra as barragens acredita que apenas a energia solar ou a energia eólica serão suficientes para gerar a quantidade de energia que o Brasil precisa a cada dia?
Agora, em Brasília, há uma discussão interessante nesse sentido. Uma ONG ligada à Igreja Católica está dificultando o andamento do processo de licenciamento para construção de uma térmica a gás natural na cidade-satélite de Samambaia. É a mesma ONG que se bate contra a utilização de combustíveis fósseis em geral, em nome da fé.
Não foi perguntada a opinão deste editor, mas ele gostaria de torná-la pública. Este velho jornalista respeita a fé de todo mundo (já teve fé religiosa um dia, mas hoje não tem mais), mas seria interessante não misturar as coisas.
O site “Paranoá Energia” dá o seu total apoio à construção de hidrelétricas (grandes, pequenas, de qualquer tamanho, de preferência com reservatórios). Também é a favor da construção de usinas termelétricas a gás natural e da expansão da rede de gasodutos.
O site também defende uma mudança na Constituição, para que a energia nuclear deixe de ser atribuição exclusiva da União. E que empresas privadas, por sua conta e risco, inclusive estrangeiras, possam construir e operar usinas nucleares no Brasil.
O editor concorda que a usina hidrelétrica de Balbina foi um atentado contra a Natureza, mas vale lembrar que esse projeto foi um produto da ditadura militar, quando um pequeno grupo de senhores que mandavam tomavam decisões sem consultar o restante da sociedade.
Hoje, em pleno regime democrático, o mundo é diferente e o Brasil felizmente já aprendeu o suficiente para tratar a energia de modo maduro, sem precisar consultar Santa Matilde, São Eutíquio ou São Afrodísio. Que eles repousem em paz nas suas respectivas tumbas e que sejam devidamente reverenciados por todos aqueles que acreditam nos santos.