Presente de Papai Noel
Dez entre 10 executivos da área de energia elétrica querem o mesmo presente de Papai Noel: regras claras e estáveis, que permitam tocar os negócios de forma mais organizada e previsível, sem a necessidade de passar pela enorme quantidade de sustos aos quais todos estão submetidos nos últimos anos. Ninguém aguenta mais o estresse provocado por tantos remendos no chamado modelo do setor elétrico.
Aliás, é até difícil achar que exista mesmo um modelo para o setor elétrico, nos dias de hoje, tamanha a confusão. Vale lembrar que o setor elétrico já foi, em outra encarnação, um dos segmentos mais organizados da economia brasileira. Antes do regime militar já era assim, mas em menor escala, e, depois, com os militares e a grande capacidade de organização que os caracteriza, essa situação se aprofundou.
Mais tarde, com a redemocratização, houve um período de incertezas, mas depois a coisa foi novamente organizada. Na primeira gestão do presidente Lula, curiosamente com a presidente Dilma Rousseff como ministra de Minas e Energia, houve um modelo razoável, que não era o melhor dos mundos, mas funcionou de forma satisfatória. Hoje, com a mesma Dilma na Presidência da República, a situação está irreconhecível e o ministro Eduardo Braga, que não tem qualquer tipo de culpa no cartório e apenas pegou o bonde andando, tem se esforçado, é verdade, mas também tem tido enorme dificuldade para acertar as pendências, que são muitas.
Na realidade, o setor não quer muita coisa. Só sonha com o básico, que é voltar a planejar as suas atividades com mais tranquilidade, com menos medidas provisórias, com menor número de decisões que são tomadas a toque de caixa para remendar outras, que, por sua vez, também foram aplicadas para tentar consertar os estragos de outras decisões. E por aí vai, como se fosse a coisa mais natural em um mundo de negócios que envolve bilhões e bilhões de reais em ativos.
Os executivos estrangeiros, então, sofrem um pouco mais do que os nativos. Afinal, normalmente eles procedem de países onde existe a tal da previsibilidade e as decisões são tomadas de forma mais responsável. Quando aqui aportam com seus capitais, eles se assustam com uma espécie de mundo louco e fica difícil explicar como o Brasil funciona para os controladores que estão lá fora.
O fato concreto é que o setor elétrico não pode continuar operando do jeito que está, pois seria um mero suicídio organizacional e em nada contribuirá para preparar o País para o momento em que a economia voltar a crescer. Com ou sem a presidente Dilma — não vem ao caso — é preciso pensar no Brasil de amanhã, quando a recessão passar e o parque industrial precisar de energia.
Uma das bandeiras deste site é a necessidade de um diálogo em alto nível entre as autoridades e as empresas, para que a situação se estabilize em outro patamar, sem muito estresse. O ministro Eduardo Braga tem a chance de fazer com que isto aconteça e poderia conduzir um processo altamente salutar, e para o bem do Brasil, colocando as principais lideranças do setor elétrico naquela enorme mesa que fica no nono andar do MME, em Brasília, para que de uma boa conversa possam surgir soluções que contribuam para melhorar o futuro do setor elétrico brasileiro, que, hoje, está literalmente quebrado. Trata-se apenas de uma decisão política.