O Brasil na UTI
Há muito tempo já se sabe que o setor elétrico é um dos principais indicadores sobre a saúde de qualquer economia. No Brasil não poderia ser diferente. E os números divulgados pelos organismos oficiais ou pelas empresas revelam que a atual crise econômica brasileira, vista sob o prisma do setor elétrico, mostram um verdadeiro desastre, como um recente número da revista inglesa “The Economist” já havia divulgado.
Não se trata aqui de ser apoiador do PT ou anti-PT. De ser Dilma ou anti-Dilma. O que se discute é outra coisa, que diz respeito aos números fúnebres que envolvem a economia brasileira, não apenas no ano que recém-terminou, como também quando se trata das perspectivas para 2016. Vendo friamente os números, é um caso típico do “salve-se quem puder”.
É verdade que, em relação ao setor elétrico, há algumas notícias positivas, como a garantia dada pelo Ministério de Minas e Energia de que não há preocupação quanto ao abastecimento em 2016. Neste aspecto, há uma situação que contribui para o relativo conforto, que é o razoável início do período chuvoso no Sudeste, depois de uma excelente temporada de chuvas na região Sul (inclusive provocando inundações).
Há uma outra situação que também ajuda na tranquilidade quanto ao suprimento, mas, neste caso, não é por um bom motivo: a recessão econômica reduziu enormemente o consumo da energia elétrica, devido à queda da produção industrial. É aqui que mora o perigo, pois aparentemente o Governo perdeu o rumo e não sabe como reencontrar a trilha do desenvolvimento econômico.
Estamos vivendo, enfim, o problema maior do populismo, que é o momento em que acaba o gás. O populismo na economia é um fenômeno interessante, pois, por um instante, mostra que vai tudo muito bem, obrigado. Todo mundo coloca o dinheiro no bolso e sai por aí gastando. O Estado faz a mesma coisa, como se viu na desastrada iniciativa do MME de reduzir à força os preços da energia elétrica, desprezando totalmente a teoria econômica.
De repente, chega a hora da verdade e o castelo de cartas desaba, como está acontecendo agora, com o Brasil no fundo do poço. Aqueles quase 8% de crescimento do PIB, quando a economia foi artificialmente inflada para se ganhar uma eleição presidencial, mandou a fatura e não se tem como pagá-la. A conta de luz diminuída graças ao “Diário Oficial” mostrou que a realidade é mais complicada um pouco.
Infelizmente, a economia brasileira está na UTI. Poderá ficar pior ainda se a terceira maior agência de classificação de riscos (Moody´s) também reduzir a nota de crédito do Brasil. E, se o Federal Reserve aumentar a taxa de juros nos Estados Unidos, então será um “Deus nos acuda”.
Não adianta mais ficar batendo na tecla de um impacto internacional nas contas internas e ficar jogando a culpa de tudo sobre o pouso suave da economia chinesa ou sobre a estagnação econômica na Europa. Ou então que a culpa é da Operação Lava Jato. Essas desculpas não colam mais, pois, antes de tudo, é preciso ter a plena convicção que estamos mergulhados num gravíssimo problema de natureza fiscal.
Quem está no poder foi eleito com a missão de resolver o problema e já está passando da hora de mostrar competência. Caso contrário, nos próximos três anos vai se esgotar o estoque de água benta.