O Brasil desce a ladeira em alta velocidade
Este site é focado em energia em geral, com destaque no campo da energia elétrica, mas não se pode ignorar determinadas situações que afetam o mundo macroeconômico. Assim, acreditamos que nossos leitores compreendem que o “Paranoá Energia” não pode fugir da responsabilidade de posicionar-se a respeito da decisão anunciada na manhã desta quarta-feira, 24 de fevereiro, pela agência de classificação de riscos Moody´s, a qual mostra claramente que o Brasil é um ônibus sem freio que desce a ladeira sob o comando de um motorista embriagado. Já era esperado, mas quando acontece de se perder o grau de investimento, como agora, isso nos obriga a aumentar a reflexão.
Ao retirar o selo de bom pagador do Brasil, a Moody´s completou o trio das grandes agências que avaliam o risco soberano dos países. A primeira a rebaixar a nota do Brasil foi a Standard and Poor´s (S&P), em setembro do ano passado. Há uma semana, a S&P diminuiu novamente a nota do País. A segunda agência a retirar o selo de bom pagador foi a Fitch. Agora, chegou a vez da Moody´s, que de uma vez só cortou dois degraus na nota do Brasil, o que dá uma ideia da gravidade do nosso quadro macroeconômico. A Moody´s atribuiu a sua decisão à deterioração das contas públicas do Brasil em geral, enfatizando que o endividamento do Governo deverá superar 80% do PIB nos próximos três anos, se não ocorrer uma mudança drástica na condução da economia brasileira.
Não há dúvidas que foi formada uma tempestade perfeita, para a qual o Governo Federal não consegue encontrar soluções. A deterioração do ambiente de negócios é evidente e, diante de tantas incertezas, as empresas e as pessoas estão sem saber direito o que fazer. Este site não faz proselitismo político, mas também não pode ignorar que do jeito que está é impossível continuar.
O Brasil levou anos para alcançar o grau de investimento. Embora isso tenha acontecido durante a gestão do presidente Lula, em 2008, foi o resultado de um trabalho de muitos anos, que na realidade começou na década de 80, logo após a redemocratização, quando se acabou com a chamada Conta Movimento entre o Banco do Brasil e o Banco Central, passando depois pela criação da Secretaria do Tesouro Nacional, a privatização de estatais, principalmente dos bancos estaduais (que se transformaram em determinado momento numa espécie de órgão paralelo de emissão de moeda), os vários planos financeiros de salvação nacional até chegar no Plano Real, que acabou com a inflação. De repente, o Brasil se tornou um país sério, mas houve muito sofrimento no meio do caminho.
Até que veio o Governo da presidente Dilma. Graduada em Economia, com curso de pós-graduação, imaginava-se que a presidente Dilma estava capacitada para compreender como funciona a macroeconomia e que o Estado, da mesma forma que as pessoas, não pode gastar mais do que ganha. Dona Dilma fez tudo o contrário do que manda o figurino. Gastou muito mais do que podia, quebrou o Tesouro, tomou decisões estratégicas erradas, quebrou a Petrobras (aqui nem se fala da corrupção, apenas da má gestão da estatal), permitiu a volta da inflação e afugentou investidores.
Enfim, gerou um quadro econômico dramático, extremamente pessimista, no qual o fim do grau de investimento é apenas uma fotografia. Pior do que isso, muito pior, é o desemprego, que atinge milhões de pessoas.
Embora alguns alucinados (poucos, felizmente) e sem conhecimento da História insistam, nas ruas, em pedir a volta do regime militar, essa não é obviamente a saída, até porque o Brasil amadureceu politicamente e os próprios militares tampouco estão interessados em reviver os tempos de golpismo. Eles também, como instituição, sofreram bastante mas felizmente descobriram que são apenas funcionários públicos como os demais, com a diferença que estão autorizados a usar armas de grosso calibre. O fato concreto é que o Governo hoje tem zero de credibilidade, as pessoas e as empresas já estão em um nível de incerteza muito alto e isso precisa ser resolvido pela via constitucional.
Este site não pode adivinhar o que vai acontecer, mas torce para que a classe política consiga encontrar rapidamente uma solução adequada para recolocar o Brasil no caminho da recuperação econômica. Temos um longo caminho pela frente novamente: enfiar o Estado dentro de limites rígidos de gastos, acabar com a inflação, recuperar a credibilidade, atrair novamente os investidores, recriar os empregos. Enfim, é uma pauta para vários anos, até que o Brasil, novamente, possa se orgulhar de contar com o grau de investimento das agências de classificação de risco.