Terremoto, seguido de tsunami, à vista?
Entreouvido nesta quinta-feira, 14 de abril, em Brasília, em um intervalo do evento sobre transmissão de energia elétrica promovido pela Aneel e pelo Instituto Acende Brasil: “Se a presidente Dilma Rousseff perder o emprego, haverá um terremoto, seguido de tsunami, na cúpula do setor elétrico brasileiro”, diante do que poderá acontecer com o ministro Eduardo Braga, com o secretário-executivo Luiz Eduardo Barata, com o professor Maurício Tolmasquim, na EPE, e com Hermes Chipp, no ONS.
Embora tenha sido um mero comentário feito por um dos participantes, o raciocínio tem lógica. O ministro Eduardo Braga, por exemplo, se considera da cota pessoal da presidente da República e fechou com a presidente quando o PMDB disse “tchau, querida”. Tanto que o seu partido, o PMDB, deixou a coalizão de apoio ao governo e ele não entregou o cargo e nem deu bola para a iniciativa do Partido. É verdade que o PMDB é um partido que causa surpresas a cada dia.
Assim, não seria surpreendente se, com um eventual governo presidido pelo atual vice, Michel Temer, Braga continue à frente do MME, pois o PMDB tem muitas facções e ele poderia talvez se reconciliar com a parcela de poder comandada pelo vice. Essa turma obviamente pode estar meio bronqueada com Eduardo Braga, pela fidelidade demonstrada à presidente Dilma e, ao mesmo tempo, pelo apreço zero manifestado em relação ao partido. Mas a política dá muitas voltas e não é impossível que a paz seja restabelecida entre eles. Braga é considerado um bom ministro, seu trabalho é apreciado pelos agentes e isso talvez possa facilitar a sua reinserção na cúpula do PMDB.
Em relação a Maurício Tolmasquim, aí, sim, cabe muito bem a palavra terremoto combinado com tsunami. Ele é o principal ideólogo do Governo na área de energia elétrica. Ainda em 2002, foi um dos formuladores de uma proposta radical para o PT, na área de energia, caso o partido vencesse as eleições daquele ano. Bem, o PT ganhou a eleição e a proposta de Tolmasquim (e outros especialistas) foi vista como tão radical, que logo foi abandonada em nome do pragmatismo do presidente Lula. Ninguém nunca mais falou na tal proposta. Tolmasquim se enquadrou e, como se não tivesse acontecido nada, colou nos líderes do PT e acabou virando secretário-executivo da então ministra Dilma Rousseff. Foi eventualmente ministro e depois da criação da EPE tem sido o seu presidente, mandando e desmandando na condução da política energética. É verdade que perdeu um pouco de poder, depois que Eduardo Braga virou ministro de Minas e Energia, mas Tolmasquim ainda manda bastante, pois é o principal homem do partido na área de energia elétrica.
Hermes Chipp é outro que desde o início do Governo do PT manda e não pede. Praticamente, é quem manda dentro do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), que foi feito sob medida para ele, até porque ninguém no governo entende mais de Operação do que Chipp. No CMSE, é o ONS quem dá as cartas e ponto final. Nesse conselho, a cúpula do MME é quase que uma ala de figurantes. É verdade que o terceiro mandato de Chipp termina em maio próximo. Ele já foi reconduzido por uma medida provisória assinada pela presidente Dilma e, nos corredores do MME, dizia-se, há cerca de um mês, que ele teria negociado uma segunda MP com a presidente, para permanecer à frente do Operador. Entretanto, como tudo indica que o mandato da própria presidente da República está aparentemente virando farelo, dificilmente Chipp teria condições para permanecer à frente do ONS em um novo governo, embora seja um excelente técnico e grande conhecedor da Operação. Na oposição do setor elétrico, tem muita gente que gostaria de comer o fígado de Hermes Chipp (e também de Tolmasquim).
Quanto ao secretário-executivo do MME, Luiz Eduardo Barata, é tido como petista, embora sempre tenha sido muito discreto na sua atuação política. Se for efetivamente petista, provavelmente é do tipo ultra-light, que eventualmente poderá ser até aproveitado por um eventual novo governo, pois não se pode negar que é um técnico competente e conciliador, transitando bem entre várias tendências diferentes. Não se sabe de alguém na oposição que queira comer as suas vísceras.
Como uma fonte comentou com este site, se realmente ocorrer a alternância de poder, não se trata apenas de competência na hora de aproveitar o pessoal que hoje manda. É verdade que se a presidente Dilma for afastada, muitos automaticamente pedirão o boné. Mas existem aqueles que se dizem técnicos e que vão querer permanecer nos cargos atuais. Certamente um critério que será avaliado é o do grau de envolvimento político/partidário. Isso porque a política está muito polarizada e, embora não exista uma sede de retaliação, há em grande proporção, entre aqueles que desejam o impeachment da presidente, o desejo de varrer para longe tudo aquilo que diz respeito ao PT . E, no setor elétrico, se a presidente Dilma perder o mandato, esse sentimento não deverá ser muito diferente.