Ajuste fiscal é só brincadeira
Ao permitir que dívidas contratadas por concessionárias de energia elétrica possam ser assumidas por entes públicos que controlam essas empresas, o Conselho Monetário Nacional mostrou claramente que ainda não dá para confiar muito na gestão do presidente Michel Temer. Afinal, essa decisão do CMN mostra que empresas totalmente falidas possam ser salvas por governos estaduais também falidos. Isto significa que, lá na frente, vai entrar dinheiro público para salvar os governos estaduais, que, por sua vez, salvaram as suas estatais falidas. É uma péssima sinalização dada pelo presidente Michel Temer, pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e pelo ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho.
O Brasil é realmente um país engraçado. Passa a governar uma equipe econômica que veio em nome da transparência e da eficiência, sinalizando em várias oportunidades que não iria compactuar com a sustentação de distribuidoras totalmente falidas, que durante anos e anos foram conduzidas por gestores irresponsáveis ou então praticantes de um tipo de filosofia administrativa que costuma ser enquadrada no Código Penal. Com total respaldo de vários governadores, essas empresas foram jogadas na lona.
Agora, quando era o momento mais do que adequado para passar essas empresas à iniciativa privada — mesmo que da forma simbólica de R$ 1,00, pois é muito possível que exista patrimônio líquido negativo no meio delas, ou seja, mais dívidas do que patrimônio — o Governo do presidente Michel Temer simplesmente jogou a toalha, não soube enfrentar a pressão da classe política desses estados e permitiu que se chegasse à decisão do Conselho Monetário. Jogou o problema para a frente.
Já se sabe qual é a justificativa para amparar a decisão do CMN: não vale a pena contrariar a classe política em um momento estratégico como este, de véspera da histórica sessão do Senado que examinará o afastamento definitivo da presidente Dilma Rousseff. E tome blá-blá-blá. Lá na frente a classe política saberá encontrar outro argumento de alto nível para justificar a não privatização dessas distribuidoras.
Seria lamentável, se não fosse trágico. Pobre Brasil.