Mercado livre de energia discretamente agitado
Muita conversa de bastidores no mercado livre de energia elétrica em consequência do alto nível de alavancagem de duas grandes operadoras. Está todo mundo de olho, até mesmo gente do próprio Governo, tentando entender o processo. Embora o nível de preocupação seja alto, isso não chega a prejudicar a migração de novos consumidores, que estão fugindo do mercado cativo e buscando amparo no mercado livre. Além disso, o mercado também está preocupado com as linhas de transmissão que escoarão a energia gerada pela UHE Belo Monte, cuja entrada em operação está super-atrasada e a cada dia que passa isso pressiona ainda mais os preços do ML.
Uma fonte argumentou que, durante anos e anos, os comercializadores vêm se esforçando para mostrar que o mercado livre é bom para o País e para os consumidores, tese com a qual este site concorda em gênero, número e grau. Nessa estratégia, esperaram pacientemente que o Governo do PT virasse farelo, na expectativa que um Governo mais liberal pudesse, enfim, agitar o mercado de energia elétrica, permitindo que o ML tivesse um pouco mais que a atual parcela de 25%/26% do mercado, a qual está limitado há cerca de 10 anos. Era difícil acabar com o ML no período petista, mas ele também estava proibido de ocupar mais de 1/4 do mercado.
A alavancagem é uma característica dos mercados de modo geral. Através dela, os operadores adquirem uma maior exposição no mercado, gastando relativamente pouco, pois parte-se do pressuposto que, lá na frente, o preço do produto comprado será muito bom e haverá condições de remunerar os gastos iniciais. A alavancagem permite ampliar resultados, mas é uma ferramenta de trabalho sensível e delicada, que exige muito sangue frio, pois também aumenta o risco das perdas. Não se pode pensar no setor financeiro, por exemplo, sem falar nos riscos da alavancagem. E isso também vale para o setor elétrico. Não é um pecado, mas precisa ser executado com competência.
Na avaliação de especialistas, esse contexto, embora não chegue a ser alarmante, não vem em momento adequado, pois, de qualquer forma, coincide com uma estratégia dos comercializadores de expandir o mercado. Dentro do Governo, por enquanto a luz é só amarela, de acompanhamento. Uma fonte disse a este site que não é uma situação agradável, principalmente agora que o MME decidiu encampar uma antiga tese do próprio mercado livre e se prepara para abrir uma consulta pública para saber o que a sociedade pensa a respeito da expansão do ML.
Entre os operadores, principalmente aqueles que têm uma visão mais ponderada do mercado e preferem trabalhar em bases mais conservadoras, ganhando menos, mas ganhando sempre, esses rompantes de alavancagem não contribuem para nada, a não ser para dar razão aos críticos do ML, que só enxergam nele um componente altamente especulativo. Essas fontes reconhecem que os mercados, sem especulação, são estruturas apenas burocráticas, que não têm muito sentido. Entretanto, alegam que, em um setor fortemente ideologizado, nos últimos 10 anos, devido à intervenção petista, os excessos eventuais de alavancagem, neste momento, não contribuem para a causa da expansão. Nesse contexto, seria mais pragmático, então, trabalhar em bases menos agressivas no mercado, para não dar suporte aos adversários.
Essas divergências estão apenas aflorando. No início do próximo ano, quando o MME começar a analisar as contribuições da consulta pública que amplia o ML, aí, sim, as tênues linhas ideológicas que sustentaram o ML durante toda a era petista provavelmente assumirão outros contornos, pois será muito dinheiro em jogo e espera-se uma briga pela ocupação do mercado de energia elétrica como provavelmente nunca se viu neste País. Isto está apenas começando.