Sobre a “paulistização” da Abraceel
Terminada a eleição para o Conselho de Administração da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), nesta quarta-feira, 08 de março, houve quem tenha tido a preocupação de ligar para este site, demonstrando preocupação com o fenômeno da “paulistização” da associação, conforme deixavam claros os resultados da eleição.
Não há razão para se falar nestes termos em relação à associação dos comercializadores, até porque o que se pretende alegar como predomínio de empresas constituídas no estado de São Paulo sobre outras do resto do País, na realidade já ocorria na composição anterior do Conselho. O que aconteceu agora foi apenas uma consolidação do fenômeno que alguns comercializadores denominaram como “paulistização”.
Quando se olha para o Conselho que acaba de encerrar as atividades, já existia a prevalência de empresas paulistas. Sete conselheiros eram de empresas constituídas em São Paulo e apenas um vinha de Santa Catarina.
Na eleição realizada nesta quarta-feira, o fenômeno apenas se repetiu, sem surpresas. Afinal, já era esperado que ocorresse desde o momento em que se encerrou o prazo de registro dos candidatos, na segunda-feira, dia 06 de março.
Dos 13 candidatos habilitados à eleição, para ocupar as oito vagas no Conselho, nove eram de comercializadoras constituídas no Estado de São Paulo, dois eram do Paraná, um de Minas e a única candidata era do Rio de Janeiro.
O fato é que o resultado no dia eleição, ocorrida nesta quarta-feira, 08 de março, não podia ser diferente. Só que, momentos antes da eleição, acreditava-se que a bancada paulista teria em torno de uns cinco nomes, sobrando eventualmente uma vaga para o Paraná, uma para Minas e uma para o Rio de Janeiro.
Os comercializadores de São Paulo passaram a motoniveladora sobre as empresas de outros estados: sete em oito, mais uma vez, eram paulistas, enquanto a única vaga que sobrou, para comercializadora de fora de São Paulo, foi destinada ao representante da Cemig.
Os números que saíram da urna de votação não têm qualquer relação com a representação estadual da associação e refletem mais o poder econômico do País, que está concentrado em São Paulo. Isso parece óbvio.
De qualquer forma, talvez seja interessante aos dirigentes da associação tentar entender o processo. Mesmo considerando que o mecanismo de escolha dos conselheiros foi e é absolutamente transparente, pode gerar uma distorção na representatividade das empresas associadas.
Trata-se de uma questão complexa, pois, na realidade, não se pode reclamar de uma “paulistização” se candidatos de outras unidades da federação não se apresentam para disputar o voto. Ninguém pode culpar as empresas de São Paulo, se seus dirigentes se registram como candidatos, mostram que querem ser eleitos, enquanto os de outros estados preferem apenas participar como eleitores.
Quando se olha para a constituição da Abraceel, observa-se que a associação tem uma fortíssima concentração de associados no estado de São Paulo, embora esteja razoavelmente distribuída através dos estados nos quais o mercado livre tem alguma importância.
Atualmente, a associação dos comercializadores conta com 71 empresas vinculadas, das quais 44 estão constituídas em São Paulo. Mas 12 são do Rio de Janeiro, cinco de Minas Gerais, cinco do Paraná, três de Pernambuco, um de Goiás e um de Santa Catarina.
O que a associação talvez possa fazer é tentar desenvolver algum tipo de política interna que leve as empresas a demonstrar interesse pelo processo político interno. Está claro que não basta apenas discutir aspectos técnicos., o que as empresas da Abraceel fazem muito bem. Talvez a associação tenha que se democratizar um pouco mais, visando a aumentar a capilaridade da sua representação.
Com certeza, não há um bruxo do tipo do General Golbery manipulando os bastidores da associação e costurando os destinos da Abraceel em benefício das suas empresas paulistas. O que está acontecendo é que as demais empresas, dos outros estados, não querem ou não sabem participar do processo político interno.
Vale lembrar que o processo eleitoral da Abraceel é bastante peculiar e a escolha dos conselheiros se dá através do voto direto. Uma vez, o dirigente de uma importante empresa que não faz mais parte da Abraceel, reclamou com um diretor da associação que a sua companhia, embora poderosa, não mandava absolutamente nada dentro da associação e que sequer tinha um conselheiro, enquanto comercializadores menores eram representados no Conselho.
Embora poderoso associado, esse cidadão jamais tinha lido o Estatuto Social da Abraceel e não sabia, até aquela data, que o ambiente aparentemente anárquico da associação era, ao contrário, um antídoto contra as grandes empresas que se sentem proprietárias de determinadas associações.
Essa história serve para ilustrar a seguinte situação: não basta reclamar, tem que participar. Se a governança fosse viciada, tudo bem, mas não é. Ao contrário, é totalmente transparente e moderna.
Além disso, nesse mecanismo de governança através do voto direto é necessário entender que o processo eleitoral não ocorre apenas duas ou três semanas antes do dia da eleição. Ele acontece todos os dias. Quem pensa em ser eleito um dia para o Conselho, precisa trabalhar internamente, durante meses e meses, ou seja, precisa participar e demonstrar interesse nos destinos da associação.
Essa é a principal mensagem que resulta da eleição para o Conselho da Abraceel. Sem qualquer conotação indireta para outras associações, este site cumprimenta a organização dos comercializadores por dispor de uma governança transparente. Mostra claramente que a eleição direta é uma excelente solução e que os comercializadores, portanto, podem se orgulhar de contar com um mecanismo moderno e atualizado de escolha dos seus conselheiros.