Paragominas, no Pará, dá o exemplo
No Brasil, as pessoas estão mais atentas ao que acontece em São Paulo ou no Rio de Janeiro. É natural, pois são as maiores cidades do País. Mas seria interessante olhar um pouco mais para o interior, pois grandes exemplos podem estar surgindo em cidades do interior, longe dos principais centros urbanos. É o que acontece com a cidade paraense de Paragominas, que está 300 km de distância de Belém e conta com uma população ligeiramente superior a 100 mil habitantes.
Nesta quinta-feira, 23 de março, realiza-se em Paragominas o seminário “O futuro e as energias renováveis”. Muito mais do que um simples evento, desses tantos que são realizados no país a cada dia, o seminário promovido em Paragominas é bastante emblemático das profundas transformações sofridas pelo município e pelo compromisso assumido com o desenvolvimento sustentável, nele se incluindo o uso de energia renovável.
Paragominas é um município relativamente novo, tendo surgido com a construção da rodovia Belém-Brasília. Cresceu de forma desordenada e as terras foram ocupadas simplesmente através da derrubada das florestas. Em determinado momento, foi o município que mais desmatava em todo o mundo, em um processo cuja violência atingia não apenas a vegetação nativa, mas, também, as pessoas. Paragominas era conhecida como “Paragobala”, porque o que valia era a lei do mais forte e o bom funcionamento da carabina 44 Papo Amarelo.
Aos poucos, as pessoas foram tomando consciência e o fato é que a situação mudou radicalmente. Tanto que a realização do seminário no dia 23 de março tem uma justificativa: é para comemorar o “Dia do Município Verde”, um conceito que passou a ser aplicado em Paragominas, desde o dia em que o município conseguiu sair da lista organizada pelo Governo Federal que contém os nomes das regiões que mais desmatam no Brasil.
Uma feliz convergência entre uma geração nova, voltada para valores modernos da cidadania, e gestores públicos que compreendem esse fenômeno, faz com que Paragominas possa ser, hoje, um exemplo para todo o País. Embora o que lá esteja acontecendo ainda não seja do conhecimento de grande parte do Brasil, pois tem sido solenemente ignorado pela grande mídia, o fato é que a mudança ocorrida em Paragominas já atrai inclusive a atenção internacional. Tanto que duas instituições alemãs — a Confederação Alemã das Cooperativas – DGRV – e a Agência Alemã para Cooperação e Desenvolvimento – GIZ – estão intensamente relacionadas com projetos que são desenvolvidos no município.
Neste mês de março, Paragominas registra o primeiro aniversário de funcionamento da Cooperativa Brasileira de Energia Renovável e Desenvolvimento Sustentável (Coober), um projeto pioneiro de geração de energia solar fotovoltaica, pois foi o primeiro do Brasil constituído na modalidade de cooperativa e não de investimento de um consumidor individual de energia elétrica.
O exemplo da Coober já está sendo discutido em várias esferas e tudo indica que vai se espalhar pelo País, pois, da mesma forma que na Alemanha, onde existem centenas de cooperativas de energia renovável, também no Brasil há muitos consumidores conscientes que querem que a sua energia elétrica tenha mais qualidade e não venha de uma térmica a óleo combustível ou de uma grande hidrelétrica que destruiu florestas ou invadiu áreas indígenas.
Este site cumprimenta as lideranças empresariais, políticas e culturais de Paragominas que se esforçam para que o município dê a volta por cima e tenha hoje uma imagem moderna, distante da destruição sistemática da Natureza efetuada no passado. E convida o resto do País a deixar de olhar apenas para o que acontece na Zona Sul do Rio de Janeiro ou na Avenida Paulista, pois, em várias partes, o Brasil atravessa uma revolução silenciosa. E Paragominas faz parte disso.