O País perde um grande homem público
Os desdobramentos do caos político e econômico em que o País está mergulhado praticamente esconderam a notícia sobre o falecimento do professor Antônio Dias Leite, ocorrido no Rio de Janeiro, no dia 06 de abril. O Ministério de Minas e Energia tomou a atitude correta de distribuir uma nota de pesar, lamentando a sua morte. Ele foi um dos principais titulares da Pasta, no período entre 1969 e 1974, quando o Brasil passou por grandes transformações no campo da energia.
O professor Dias Leite estava com 97 anos e totalmente lúcido. Morreu em consequência de uma queda. Nos últimos tempos, foi um crítico de primeira linha do populismo que levou à desorganização levada ao setor elétrico pela ministra e depois presidente Dilma Rousseff.
Formado em Engenharia e Economia, mais tarde foi professor na Escola de Engenharia e diretor da Faculdade de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, da qual recebeu o título de professor emérito. Foi subsecretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, durante a gestão do ministro San Tiago Dantas, em 1963, e, nessa condição, contribuiu para aperfeiçoar a metodologia de apuração das Contas Nacionais. Também presidiu a Vale e foi autor de 18 livros, um dos quais é “A Energia do Brasil”, um calhamaço que é considerado um clássico por todos aqueles que se interessam em estudar o tema.
A sua grande contribuição ao País, entre tantas, se deu à frente do Ministério de Minas e Energia, que ele ocupou durante todo o Governo militar do presidente Médici. Dias Leite era o que se poderia classificar como um tecnocrata sofisticado, tendo retornado dos Estados Unidos, onde fez um curso de aperfeiçoamento, com ideias muito claras a respeito da necessidade de modernização da infraestrutura brasileira, principalmente na área de energia elétrica.
Antônio Dias Leite trabalhou firme na defesa de suas ideias e participou de projetos que mudaram o retrato do Brasil, como o Projeto Radam (de identificação das riquezas minerais da Amazônia), da Plataforma Continental (de aproveitamento das reservas de óleo e gás), de assinatura, com o Paraguai, do tratado binacional que resultou na construção da usina hidrelétrica de Itaipu, e no projeto de criação e desenvolvimento da Eletronorte.
Sem dúvida, nestes tempos de tanta mediocridade e incompetência técnica, o professor Dias Leite foi um exemplo de homem público dedicado às grandes causas nacionais, pois ele sempre entendeu que o Brasil só poderia sair da pobreza absoluta através da estruturação de um moderno sistema elétrico e do aproveitamento do seu potencial energético. Muito do sistema elétrico que temos hoje é devido a ele.
Na galeria de ex-ministros de Minas e Energia, a sua fotografia é a nona, pela ordem cronológica (o MME foi criado em 1961). Depois de 1988, quando se olha para a galeria de fotos dos ex-ministros, percebe-se com tristeza que, após a gestão de Aureliano Chaves à frente do MME, com raras exceções a Pasta passou a fazer parte do toma-lá-dá-cá da política e passou a ser chefiada por alguns incompetentes, que de energia elétrica sabiam apenas acender e a apagar a luz e olhe lá. É lamentável que tenha se chegado a tanto, a ponto de ver três antigos titulares do MME representando a Pasta na Operação Lava Jato.
A missa de sétimo dia em sua homenagem será realizada na terça-feira, dia 18 de abril, às 18 horas, na Igreja da PUC, na Gávea, zona sul da capital carioca. O site “Paranoá Energia” se associa aos votos de pesar pelo falecimento do professor Antônio Dias Leite e manifesta condolências aos filhos, netos e bisnetos.