A crise continua
Engana-se quem acredita que a crise política vai passar depois que o Tribunal Superior Eleitoral rejeitou a proposta de cassação da chapa Dilma-Temer. A crise apenas muda de lugar: deixa o tribunal e volta para o âmbito do Congresso Nacional.
O mais lamentável em todo esse processo é ter ficado escancarado que o movimento principal do PMDB consiste em tentar desmoralizar a Operação Lava Jato, o ministro Luiz Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, e a Procuradoria Geral da República. Da mesma forma como tentou demolir a tese defendida pelo ministro Herman Benjamin, que, mesmo tendo o seu relatório vencido por 4×3, no TSE, foi o grande vencedor.
Em outras palavras, quando se olha para o Governo o que se vê nitidamente é que ele gasta grande parte da sua energia tentando desconstruir as coisas boas que o País criou nos últimos anos, que são sintetizadas na luta contra a corrupção. É coerente. Para um Partido que tem sido sinônimo de corrupção em grande parte da sua história, não vai ser dele que vai partir alguma iniciativa para reforçar o combate à roubalheira desenfreada.
Neste episódio da rejeição à cassação Dilma-Temer, foi lamentável observar o comportamento de alguns ministros do TSE, que ignoraram provas cabais de corrupção de grosso calibre na última eleição direta para a Presidência da República, sob o argumento que era necessário preservar a estabilidade política. No entendimento desses ministros, uma nova troca de presidente, com a cassação de Michel Temer, não contribuiria para a estabilidade do País, no momento em que se ensaia uma recuperação econômica.
A função do TSE não é preservar a estabilidade política. Ao TSE cabe a missão de zelar pela lisura dos processos eleitorais. Se determinada chapa venceu uma eleição usando o poder econômico e dinheiro irregular de caixa 2, caixa 3, etc, numa clara manipulação das regras do jogo eleitoral, é dever do TSE colocar a ordem na casa e punir os culpados. Se isso vai gerar instabilidade política ou econômica, não é problema do TSE. Sob todos os ângulos, foi profundamente lamentável ver quatro ministros do TSE tentando esgrimir argumentos estapafúrdios apenas para preservar o atual mandato do presidente Michel Temer.
Decisão da Justiça é para ser cumprida. Então, agora a crise muda de endereço e volta para a Praça dos Três Poderes. Primeiramente, há que se acompanhar qual será o posicionamento do PSDB, depois da decisão tomada pelo TSE. Os tucanos têm uma certa dificuldade para tomar decisões e ficar ou não na base de apoio ao presidente tem sido um dilema existencial que o partido não consegue resolver.
A cúpula do PSDB se apega às benesses do Poder, principalmente pelo fato de ocupar alguns ministérios. Mas grande parte dos deputados federais já percebeu que é uma fria, junto à opinião pública (leia-se eleitorado), ficar fiel a um governo cada vez mais impopular e perdido em histórias de corrupção, malas de dinheiro ou jatinhos de origem desconhecida, etc.
Além do PSDB, o presidente também poderá enfrentar uma possível denúncia contra ele que ao que tudo indica será formulada pela Procuradoria Geral da República. Ou seja, o presidente terá uma nova batalha de vida ou morte dentro do Congresso.
Infelizmente, as perspectivas para o País não são boas, até porque a mentira tem perna curta e a cada dia é necessário desmentir a explicação do dia anterior. Num dia, o sr. Joesley Batista não passa de um falastrão, mas tem liberdade para entrar sem se identificar na residência oficial de Michel Temer. Mas no dia anterior, ele foi o gentil empresário que emprestou um jatinho para o então vice-presidente passear com a família em Comandatuba. O ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, que era íntimo da casa presidencial, agora curte a sua solidão na penitenciária da Papuda, enquanto tenta construir uma história para justificar a sua mala de R$ 500 mil.
Diante das circunstâncias em que estava afundando o País, com todas as histórias que a Lava Jato descobria a cada dia, era impossível manter a presidente Dilma no Palácio do Planalto. É mais fácil dizer que ela não foi derrubada: ela caiu sozinha, pois a incompetência era muita. Temer foi a saída constitucional, mas está mostrando claramente que também não está à altura da função. Do seu Partido nem se fala.
Dá um frio danado na barriga, mas não resta ao Brasil outra alternativa que não seja tentar começar tudo de novo, encontrando um nome que possa conduzir o País até o final de 2018, por via indireta, ou então, mudar a Constituição e zerar o jogo, promovendo eleições gerais. Quem ganhar, leva.