Paulo Pedrosa, o ideólogo
Quem teve a oportunidade de ouvir o discurso feito pelo secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Paulo Pedrosa, na abertura do 17º Encontro da Apine com seus Convidados, em Brasília, no dia 05 de outubro, saiu sem qualquer dúvida.
O titular do MME, deputado Fernando Bezerra Coelho Filho, inquestionavelmente exerce, na plenitude, o comando político da Pasta, mas o seu secretário-executivo é quem traça toda a estratégia técnica do MME. E ele o faz com inteligência, entusiasmo, simplicidade e coerência, o que o diferencia bastante de algumas figuras deslumbradas com o Poder que o antecederam.
Historicamente, o MME tem sido ocupado por ministros políticos, que às vezes pouco entendiam sobre a área de energia. Só para citar alguns casos, isso aconteceu, por exemplo, com o senador Edson Lobão, com a então ministra Dilma Rousseff ou com o falecido ministro Rodolpho Tourinho. Coelho Filho se enquadra nesse grupo, mas, com modéstia, reconhece a sua limitação técnica e, ao mesmo tempo, esbanja bom senso na hora de decidir. É por isso que a dobradinha com Pedrosa tem funcionado bem.
Durante toda a era petista, o ideólogo da Pasta de Minas e Energia foi o professor Maurício Tolmasquim, que foi secretário-executivo do MME e presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
No Governo do presidente José Sarney, o ministro Aureliano Chaves, dotado de sólido conhecimento na área, conduziu o MME à sua maneira. Ele era o seu próprio ideólogo.
Antes da gestão petista, o presidente Fernando Henrique teve vários ministros de Minas e Energia, mas a política setorial sempre foi idealizada principalmente pelos professores David Zylberstajn e Afonso Henriques Moreira Santos, que ocuparam cargos nas diretorias da ANP e da Aneel, respectivamente.
O atual ministro tem a humildade de reconhecer que o seu conhecimento técnico, por não ser da área, é limitado, ao contrário de outros e outras que o antecederam e que meteram os pés pelas mãos o tempo inteiro, pois, mesmo não entendendo nada de energia, achavam que sabiam mais do que os especialistas do setor. Coelho Filho pode não conhecer tanto assim, mas pelo menos vem demonstrando, depois de firmar suas convicções, que não tem medo de tomar decisões.
Disciplinado ao extremo, Paulo Pedrosa nunca desafiou o espírito de liderança do titular do MME e sempre soube trabalhar dentro dos seus limites como secretário-executivo. Ao contrário, em público ou conversas reservadas, sempre fez questão de deixar claro que o titular do MME é o ministro Fernando Coelho Filho, que é a autoridade política. A ele, Paulo Pedrosa, como secretário-executivo, cabe apenas trabalhar para que o ministro Coelho Filho disponha do maior número de informações possíveis para decidir com segurança.
Há muitas afinidades entre Paulo Pedrosa e o ministro Fernando Coelho Filho, o que facilita o trabalho do ideólogo atual. No discurso feito na abertura do evento da Apine, Pedrosa afirmou que, embora no passado recente o setor de energia tenha sido usado para um projeto de Poder, isso não anula as qualificações institucionais. “O País flertou com o bolivarianismo”, disse o secretário-executivo, mas, agora, ao contrário, o caminho é de renúncia do Poder.
No setor elétrico brasileiro, foi concebido o modelo intervencionista que, na sua visão, caracterizou a gestão petista. Para Pedrosa, é justamente o setor elétrico que está sendo agora um dos principais pilares para a recuperação da economia brasileira.
Como explicou, o Governo atual quer renunciar ao seu próprio Poder e a privatização da Eletrobras é o maior exemplo da nova política setorial. “O Governo compartilha o Poder com a sociedade. Precisamos nos reorganizar para entender esse processo, dentro de um movimento de mudança cultural”. Como lembrou, as tentações intervencionistas são diárias e quem está no Poder precisa afastar a vontade que surge no dia a dia de, com um canetada, resolver os problemas do setor elétrico.
O caminho, segundo Paulo Pedrosa, consiste em insistir na transparência e no diálogo, reduzindo o intervencionismo. Para tanto, é fundamental que “o mundo empresarial mude a sua cultura”. Ele entende que é legítimo defender interesses específicos. Entretanto, alerta que é necessário compreender a lógica do novo modelo de pensamento. “Vamos fazer porque é difícil, não porque é fácil”, ponderou.
O ideólogo do MME garante que o movimento de mudança tem consistência e que o consumidor ganha com a competição e a inovação. “A oportunidade é agora. O momento de enfrentamento é agora”.
Pedrosa é um executivo sobretudo carismático. Organizador nato e dotado de visão estratégica, assume com naturalidade o fato de ser um liberal convicto. É um inimigo de primeira da palavra “subsídio”, da mesma forma que não esconde a sua admiração pela palavra “eficiência”. Para o secretário-executivo do MME, os preços devem sempre refletir a realidade. Nesse contexto, na gestão passada a sociedade teria sido enganada. “Aquela energia barata não era barata”, disse, razão pela qual “não adianta ter um saudosismo de um setor que não existe mais”.
Ele se orgulha de integrar a equipe do ministro Coelho Filho, contribuindo para construir um novo modelo para o setor elétrico brasileiro, que ele classifica como uma “gigantesca transformação” que serve para mudar a própria sociedade. Nesse contexto, ele se permite afirmar que “a privatização da Eletrobras é semelhante à Operação Lava Jato”. O desafio de privatizar a gigante brasileira do setor elétrico, segundo Pedrosa, não é apenas do setor elétrico. “É do País e cada um de nós tem responsabilidade nisso”.