E agora, Chico de Lavor?
Pioneiro do mercado livre de energia elétrica, o empresário Francisco de Lavor, mais conhecido como Chico, lançou, nesta quarta-feira, 13 de dezembro, em São Paulo, o livro “E agora?”. Escrito pela jornalista Débora Rubin, o livro conta a trajetória de vida do fundador da União Comercializadora e outras empresas, desde a infância pobre no sertão do Ceará até o momento atual de empreendedor em São Paulo.
Débora passou mais de um ano entrevistando Chico de Lavor, sua família, funcionários, parceiros e amigos. “De cara, já simpatizei com a figura: me recebeu de chinelo e bermuda, recém-operado, em sua casa, num condomínio de Moema. Embora desfrute do luxo e ame fazer dinheiro, é um cara simples, que faz todo mundo se sentir bem em torno dele. Me assustou a sua pressa, pois queria o livro para ontem. Aos poucos, foi entendendo que livro é como qualquer grão que ele comercializa, tem o tempo de plantar, regar, fazer crescer e só então colher para, enfim, virar produto”, declarou a autora numa explicação sobre a obra.
O livro tem 190 páginas e conta a história de um menino que saiu do Nordeste num ônibus velho mais parecido com um pau de arara, na companhia dos pais, quatro irmãos e um papagaio. E venceu na vida na cidade mais rica do País, trabalhando duro desde a infância.
O lançamento ocorreu numa festa realizada no luxuoso Hotel Sheraton, na região da Berrini, que tem as áreas comerciais mais caras do País. Muitos executivos prestigiaram o evento, principalmente profissionais ligados ao mercado de commodities, pois desde 2010 Chico não opera mais na área de energia elétrica.
As suas empresas atuantes, hoje, são a União Corretora, a CBC Negócios (um site que se destaca na comercialização do agronegócio) e a Brasil Fretes, que opera na área de logística.
Apaixonado pelo time de futebol Corinthians, Chico é emoção pura. Ele levou para o mercado livre de energia, que estava nascendo no início dos anos 2000, essa mesma emoção e a vontade de fazer negócios. Várias de suas ideias se tornaram realidade muitos anos depois, inclusive quando já tinha sido colocado para fora do mercado. Foi conselheiro da Abraceel, a associação dos comercializadores de energia.
No final dos anos 2000, a sua comercializadora — que era muito atuante — teve dificuldades com o PLD, que disparou devido à escassez de água nos reservatórios e à conseqüente necessidade de gerar energia a partir de térmicas. Enfim, um filme que tem sido visto várias vezes desde então. Ele e a empresa foram punidos. Nunca conseguiu um entendimento com a CCEE em torno de eventual negociação, embora tenha tomado iniciativas nesse sentido.
Vale lembrar que, naquele tempo, o que se chama de mercado livre ainda era um mundo muito regido pelos tecnocratas da Engenharia Elétrica, que desconheciam até mesmo como funcionam os mercados. Muitos não sabiam (e alguns ainda não sabem) que as operações dos mercados são assim mesmo assim e têm certa flexibilidade. Na área bancária, por exemplo, se um banco tem dificuldades de caixa, pode, conforme o caso, recorrer ao redesconto do Banco Central, que opera linhas de assistência à liquidez das instituições bancárias. É para isso, aliás, que servem os bancos centrais.
O caso da União Comercializadora foi administrado de forma dogmática e Chico de Lavor inclusive teve que se desligar da Abraceel, voluntariamente, para não ser formalmente expulso. Hoje, a inadimplência que trava o Mercado de Curto Prazo, decorrente de liminares para não pagamento do GSF (risco hidrológico), é tratada de forma extremamente paciente pelas autoridades do setor elétrico.
É verdade que são empresas lastreadas em liminares. Mesmo assim, são agentes que basicamente já nasceram no setor elétrico, ao contrário da União Comercializadora, que veio do mercado de commodities e era considerada uma intrusa, uma espécie de patinho feio na área de energia elétrica, que ousava contestar a sabedoria dos engenheiros.
É possível que, se tivesse ocorrido hoje, a União Comercializadora teria tido um outro tratamento por parte das autoridades do setor elétrico. Se é verdade que a União teve as suas dificuldades comerciais, também é verdade que a empresa foi tratada de forma extremamente preconceituosa.
No evento de lançamento, Chico lembrou um pouco da sua trajetória de vida. Que, aliás, muito se parece com a do ex-atleta profissional Cafú, antigo capitão da seleção brasileira de futebol, do qual é grande amigo e também participou da festa. Toda a renda do livro será destinada à Fundação Cafú, que, na periferia de São Paulo, presta serviços sociais a cerca de 1 mil menores carentes.
O livro é uma edição do próprio Chico e está sendo vendido a R$ 50,00. Quem se interessar em comprá-lo pode entrar em contato com a assistente Juliana Tomosada, através dos endereços Juliana@cbcnegocios.com.br ou Juliana@uniaocorretora.com.br.
No futuro, quando alguém escrever a história do mercado livre de energia elétrica no Brasil, vários nomes se destacarão. Um deles, com certeza, será o de Chico de Lavor. No início dos anos 2000, a maior parte dos agentes de comercialização de energia ainda estava aprendendo a operar no mercado. Muitos aprenderam com o Chico, embora hoje não gostem de reconhecer essa verdade.
Quase todos eram engenheiros extremamente competentes, mas que, de modo geral, tinham passado muitos anos em empresas estatais, tocando coisas de Engenharia Elétrica, como distribuição, turbinas e transformadores, e naturalmente careciam de noções de mercado.
Nesse contexto, a figura de Chico de Lavor, com a sua vasta experiência de mercado, seguramente era um ponto fora da curva dentro da recém-criada Abraceel. Em vez de ser criticado por alguns engenheiros de obras feitas, merece, em vida, ser homenageado com um busto na sede da Abraceel, de onde nunca deveria ter sido expulso, por toda a vibração e dinamismo que injetou no mercado livre brasileiro.