A turma do Rio de Janeiro
Muito satisfeito com os resultados dos leilões A-4 e A-6, o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, alinhou vários pontos que ele considerou positivos, sob o ponto de vista da política energética, e, ao final, assinalou que “os investimentos em infra-estrutura, com a participação do setor privado, são a mola propulsora da economia em diferentes regiões, gerando milhares de empregos e renda”.
Este site compreende que o ministro, sendo um político em tempo integral, às vezes é levado pelas circunstâncias a supervalorizar as situações. Essa foi uma delas, pois apenas parcialmente a opinião do ministro é verdadeira. Na realidade, sob o ponto de vista do investimento, não há muito o que comemorar. Menos, ministro, menos.
Quando se olha para os resultados dos dois leilões, observa-se que, no leilão A-4, realizado no dia 18 de dezembro, foram contratados 25 projetos de geração elétrica, com capacidade instalada de 675 MW. Foram 20 projetos de usinas solares, duas usinas de fonte hidrelétrica (uma CGH e uma PCH) e uma termelétrica a biomassa.
No leilão A-6, realizado em 20 de dezembro, foram contratados 63 projetos de geração elétrica, sendo 49 usinas eólicas, duas termelétricas a gás natural, termelétricas a biomassa e seis PCH´s.
Como muito bem assinalou um texto elaborado pela Agência Reuters, pela primeira vez o Brasil contratou energia eólica e solar a preço mais baixo do que a hídrica. Percebe-se claramente que alguma coisa precisa ser muito melhorada e com urgência, na fábrica de leilões controlada pelo Governo Federal (uma espécie de caixa preta que calibra os preços mínimos exigidos dos participantes). É uma turma que fica no Rio de Janeiro e que deitou e rolou durante a gestão petista e que aparentemente continua dando as cartas no atual governo, impondo as suas fórmulas mágicas que pouca gente entende, só eles, os gênios.
O mínimo que se pode dizer, depois desses dois leilões, em termos de investimento, é que o Brasil como um todo saiu perdendo, ao contrário do raciocínio de Sua Excelência. Uma única térmica contratada no leilão, que vai beneficiar apenas uma região, terá o mesmo efeito que todas as PCH´s habilitadas, as quais espalhariam o investimento, o emprego e a renda por todo o País. O mínimo que se pode dizer, hoje, é que o MME está acabando com o sistema de PCH´s.
Ademais, quando se contrata termelétricas a gás natural, usinas eólicas ou usinas solares, a maior parte do investimento vai para os fabricantes no exterior. Turbinas de grandes térmicas, aerogeradores ou placas solares são importadas. Aqui, ficam os gastos residuais com a mão-de-obra mais barata utilizada na construção civil dessas usinas.
Ao contrário, as PCH´s é que contribuem efetivamente para dinamizar a economia e gerar empregos. A cadeia produtiva das PCH´s é toda nacional. As turbinas são feitas no Brasil, os projetos idem. As PCH´s movimentam todos os segmentos da Engenharia e efetivamente geram emprego e renda. Em um total de 88 projetos contratados nos dois leilões, apenas sete foram de PCH´s e um de CGH. Ou seja, uma espécie de cala-boca. Uma beiradinha, para o pessoal das PCH´s não chiar muito.
Os empreendedores de PCH´s participaram com cerca de 1 mil MW de capacidade nos dois leilões. Venderam quase nada, pela simples razão que os preços não eram competitivos. É muito difícil argumentar que PCH´s não possam ter preços competitivos. É lógico que podem ter e elas sempre foram competitivas. Elas não podem é competir com a caixa preta da fábrica de leilões do MME, pois os valores definidos pelo grupo de gênios que assessora o Governo é que ficaram em patamares difíceis de serem atingidos pelas PCH´s.
O mínimo que se pode dizer, hoje, é que o MME está demolindo o sistema de PCH´s, depois de algumas centenas de milhões de reais investidos, tecnologia consolidada e conhecimento acumulado. Um dia essa história macabra será escrita.
Os empreendedores de usinas a biomassa, que nos dois leilões apresentaram 84 projetos e comercializaram apenas sete, aplaudiram o fato de terem conseguido voltar ao mercado. Mas ficaram com um pé atrás e também reclamaram dos preços, que eles entendem podem ser melhorados.
Todo mundo, afinal, apenas não consegue entender porque razão o Brasil ainda privilegia projetos de grandes térmicas a gás natural, em outras palavras a Petrobras ou algum amigo do rei, em detrimento de fontes que não causam preocupação ao meio ambiente e que, ao contrário, contribuem para limpar a matriz energética, oferecendo a mesma segurança ao sistema que eles dizem ser a causa da contratação das térmicas.
O que se observa é que mudou o Governo, mudou a equipe do Governo, mudou a forma como o Governo se relaciona com a área empresarial, mas a semente plantada pelo professor Maurício Tolmasquim germinou e cresceu no MME e continua dando as cartas na forma das suas fórmulas mágicas, pouco compreensíveis para a maioria dos especialistas, mas muito compreensível para alguns poucos.