Façam o jogo, Senhores
Quem já jogou roleta sabe que quando o “croupier” — o profissional do cassino que comanda a mesa — diz “façam o jogo, senhores” é porque está na hora de colocar as fichas nos números e apostar livremente, de acordo com a vontade de cada apostador.
Passado o Carnaval, finalmente os brasileiros começam a enfrentar o ano de 2018. Tudo o que aconteceu até agora, desde 1º de janeiro, foi uma espécie de aperitivo para os fatos que efetivamente deverão definir a cara do que será este ano.
Só agora, chegou a hora da verdade em relação às mudanças que o Governo Federal pretende introduzir no sistema elétrico, com a ampliação do mercado livre e a privatização do Sistema Eletrobras.
Ninguém duvida que o exercício de 2018 será totalmente atípico. Nos próximos 100 dias, se falará bastante de política, mas, à medida em que se aproximar o período da Copa da Rússia, o futebol naturalmente ocupará todos os espaços, ofuscando até mesmo uma campanha presidencial.
Os políticos continuarão trabalhando (e atrapalhando), mas ninguém estará preocupado com o que farão ou deixarão de fazer, considerando que a instituição chamada futebol aparentemente tem mais credibilidade que os partidos e os detentores de cargos eletivos.
Nesta metade de fevereiro, ninguém em sã consciência pode cravar com certeza o que acontecerá com os projetos de privatização do Sistema Eletrobras e do novo modelo do setor elétrico, quando ambos estiverem tramitando normalmente no meio legislativo.
Só então, as lideranças do Governo trabalharão para encaminhar as duas propostas de acordo com os interesses do Governo. Ao mesmo tempo, as lideranças da Oposição, tentarão ganhar o máximo de tempo possível para minar o apoio à proposta do Governo. É possível que em ambos os projetos exista o grande perigo do tal fogo amigo.
Mesmo que os textos fiquem travados dentro do Congresso, por conta das dificuldades da base de apoio ao Governo e das circunstâncias típicas do calendário eleitoral, o fato a se considerar é que foi muito importante dar encaminhamento aos dois temas. Aliás, é incrível como um Governo incrivelmente fraco e desmoralizado, como é a gestão do presidente Temer, conseguiu materializar as duas propostas.
É verdade que o Governo Temer poderia não ter feito nada. Talvez fosse até mais cômodo deixar o barco simplesmente descer o rio, sob o ponto de vista de quem está no último ano de gestão, com índices muito baixos de popularidade. Enfim, conseguiu-se de uma forma quase milagrosa que as duas propostas saíssem do âmbito do MME.
O que acontecerá dentro do Congresso, agora, é uma enorme incógnita. No caso do novo modelo, os comercializadores já anunciaram que vão trabalhar para tentar antecipar o quanto antes a data de abertura do mercado. Logicamente, as forças que trabalham em sentido contrário farão de tudo para travar a evolução do mercado. São circunstâncias normais do jogo político-empresarial, mas é quase certo que essa disputa pelo mercado deixará mortos e feridos pelo caminho e longas amizades desfeitas, pois tudo isso já está acontecendo. É muita grana que está em jogo nessa disputa de mercado.
No caso da privatização da Eletrobras, então, vai ser um duelo de gente brava. Congressistas de todos os partidos, independentemente de cores ideológicas, são contra e a favor da privatização do Sistema Eletrobras. Afinal, as estatais ineficientes que o integram ainda ajudam muita gente a ganhar eleição e esses caras não querem entregar a rapadura de jeito nenhum.
Não estão nada interessados em eficiência das empresas. Só se preocupam efetivamente com os nacos de poder que essas estatais esclerosadas ainda são capazes de oferecer. E que o Tesouro Nacional cubra sem chorar os buracos que surgem anualmente nos balanços de cada uma dessas empresas, como vem acontecendo há décadas.
É possível que até a Copa do Mundo essas questões fundamentais do setor elétrico já estejam resolvidas no Poder Legislativo. Passada a Copa, já no segundo semestre, nada de importante será apreciado pelo Congresso, pois os senadores e deputados federais estarão em campanha pelos respectivos estados, buscando a tão sonhada reeleição. O que todo mundo duvida, hoje, é se o Governo Temer terá condições de governabilidade para aprovar as propostas dentro dos próximos três meses.
Este site dá total apoio à privatização da Eletrobras e ao novo modelo do setor elétrico, o qual, enfim, permitirá a tão sonhada ampliação do mercado livre brasileiro de energia elétrica. O Governo Temer faria uma enorme gentileza ao povo brasileiro caso deixe de lado as questões polêmicas em que se envolve desde o início — e nas quais gasta enorme energia — e consiga administrar a sua complicada base partidária de forma competente, de modo que possa aprovar rapidamente as propostas no âmbito do Legislativo. O Brasil merece.