Sucessão no MME provoca ansiedade
Enquanto os partidos e os políticos profissionais pensam apenas na sucessão do presidente Michel Temer, as áreas empresariais do setor elétrico brasileiro têm foco somente no nome que sucederá o atual ministro, Fernando Coelho Filho.
Por mais que dirigentes de associações empresariais não queiram, o fato indiscutível é que ambos os processos estão profundamente interligados.
As organizações empresariais têm lá suas razões para torcer para que o atual secretário-executivo da Pasta, Paulo Pedrosa, faça a mudança do 7º para o 8º andar da sede do ministério e passe a mandar plenamente em todos os níveis do MME, mesmo com um mandato-tampão que, a princípio, poderá ser de apenas sete meses.
Afinal, na atual gestão houve um acordo tácito entre Pedrosa e o ministro, que, não sendo um especialista na parte técnica, confiou no seu imediato e abriu amplo espaço para que este desse as cartas na condução técnica dos assuntos relacionados com o ministério.
Coube a Coelho Filho, que é um político que se destaca pelo bom senso, arbitrar as questões e tomar as decisões políticas. Foi um arranjo pragmático, que acabou dando certo. A relação de confiança funcionou razoavelmente bem, embora tenha dado totalmente errado em muitas gestões anteriores no MME organizadas com base na mesma equação: ministro político e secretário técnico.
Oriundo do tucanato, Pedrosa é um anfíbio, que transita com igual desenvoltura nos campos técnico e político. Quando deixou a Aneel e assumiu a presidência-executiva da Abraceel, por volta de 2005, ele disse reiteradas vezes que havia um simbolismo naquela mudança, pois, a partir de então, ele gostaria de ser reconhecido apenas como um técnico e que lhe fariam um grande favor se esquecessem as suas raízes tucanas.
Não foi bem o que aconteceu, pois, com muita habilidade, ao longo do tempo, ele sempre soube manter as caravelas devidamente em posição, de modo que pudesse atracar quando necessário em portos tucanos. Talvez seja o especialista em setor elétrico, dentro do Governo, que tenha mais habilidade política, o que é reconhecido inclusive pelos seus adversários.
Só que um consultor que acompanha com atenção a trajetória de Pedrosa lembrou a este site que, neste momento em que o presidente Temer está aparentemente picado pela mosca azul e talvez queira embarcar no processo de reeleição, surfando na onda do combate à criminalidade — embora estrategicamente ainda diga que não é a sua perspectiva política — talvez não haveria lugar para Pedrosa, no MME, para ocupar a posição de ministro.
No raciocínio dessa fonte, se Pedrosa for visto exclusivamente pelo ângulo técnico, não haveria chance para ele, pois Temer certamente aproveitará a pasta para uma negociação política. Caso se olhe para o atual secretário-executivo como uma opção política, custaria a crer que Temer colocaria alguém afinado com o PSDB na cadeira de titular do MME. Se Temer for candidato, não colocará azeitona na empada de Geraldo Alckmin dentro de uma Pasta estratégica como o MME.
Além disso, dentro do MDB — que não se pode esquecer é o partido do presidente da República — existe uma profunda resistência ao nome de Pedrosa. Muitos barões do partido não o suportam e não esquecem as críticas que ele fez à sigla nos dois anos de gestão no MME.
Inclusive, existem aqueles que enxergam o dedo da cúpula do MDB no pedido de CPI para investigar o processo de privatização da Eletrobras, feito pelo senador Hélio José, que é do Pros do Distrito Federal, mas que até pouco tempo atrás utilizava o carimbo do PMDB.
Um técnico da Aneel que trabalhou com Pedrosa na agência, durante os quatro anos em que ele foi diretor, também comentou com este site que, embora exista uma propalada unanimidade em torno de Pedrosa, no mundo real não é exatamente assim. Dentro da agência existem pessoas que o consideram bom tecnicamente, mas que entendem que ele valoriza demasiadamente o seu marketing pessoal, “que é melhor ainda do que o conhecimento técnico”.
Na agência, também se comentou com malícia que tudo o que foi prometido pela dupla Coelho-Pedrosa “por enquanto não passa de promessa”. Foi lembrado, por exemplo, que a proposta do novo modelo do setor elétrico ainda está presa no Palácio do Planalto, que a privatização da Eletrobras é um tema indigesto para ser apreciado pelos congressistas em ano eleitoral e que o MME não conseguiu resolver a difícil questão do GSF.
“O GSF deveria ter sido a principal prioridade do MME, pois se isso não for resolvido o setor vai parar em algum momento próximo. O modelo é importante, mas interessa mais aos que defendem a expansão do mercado livre e a privatização da Eletrobras só tem relevância, a rigor, para ajudar a compor as contas do Tesouro Nacional”, argumentou a mesma fonte.
As associações empresariais do setor elétrico, em sua maioria, estão totalmente engajadas na campanha em favor de Pedrosa. Elas entendem de forma racional que, sucedendo o atual ministro, Pedrosa — que mandou na parte técnica nos últimos dois anos — terá mais condições do que qualquer outro para implementar as medidas que possam destravar o setor, modernizando-o e permitindo que contribua efetivamente para o desenvolvimento econômico do País.
Entretanto, como foi lembrado a este site, ao final da gestão da presidente Dilma, as associações se jogaram de corpo e alma em favor de um nome que fosse do próprio setor, cansadas que estavam de ministros políticos ineficientes e secretários-executivos inexpressivos à frente do MME.
Perderam totalmente com a indicação de Fernando Coelho Filho, mas ganharam um senhor prêmio de consolação, que foi a indicação de Pedrosa para a Secretaria-Executiva. Afinal, naquele momento não havia outro nome mais identificado com as associações do que Paulo Pedrosa.
A mesma fonte, entretanto, também explicou que embora os dirigentes das associações empresariais sejam bons executivos, que conhecem os seus segmentos e na maior parte das vezes sabem o que estão falando, têm as suas limitações. Na realidade, não são eles que mandam nas suas respectivas associações e todos eles são empregados, que devem obediência aos seus conselhos de administração.
Assim, indicados pelas empresas associadas, os conselheiros é que representam o efetivo poder dentro das associações. Quando existe convergência entre os conselheiros e os diretores das associações, tudo bem. Mas, quando não existe, manifestam-se rapidamente a disciplina funcional ou então o lado mais fraco da corda.
Essa questão foi apontada, segundo a mesma fonte, porque estaria em gestação um processo de retomada do MME por parte do MDB, com a renúncia próxima do ministro Fernando Coelho Filho. Controladores de alguns grupos já estão sendo discretamente contatados.
Na negociação que está em jogo, é possível que Pedrosa não seja escolhido e que o sucessor seja um técnico de reconhecida competência, mas possuidor de relações históricas com o MDB. Inclusive já existiriam nomes na mesa.
São questões, enfim, que serão definidas nas próximas semanas, no curto prazo que existe para que o ministro Coelho Filho possa se desincompatibilizar. É uma novela que está ficando cada vez mais interessante à medida que se aproxima do capítulo final.