A estatal Eletrobras será um capítulo da História
Recentes acontecimentos relacionados com a privatização do Sistema Eletrobras mostram claramente que o que está em jogo, no momento atual do setor elétrico brasileiro, é muito mais do que a simples indicação de um sucessor para o atual ministro de Minas e Energia.
Na realidade, o que se revela com toda a falta de sutileza da História é a distinção entre o novo e o velho Brasil no que diz respeito à energia.
O novo é representado pela modernização nas relações de consumo, pela introdução de novas tecnologias, pelo surgimento das energias renováveis, pela ampliação do mercado livre de energia elétrica e, sem dúvida, pela privatização do Sistema Eletrobras, começando por umas distribuidoras falidas, que somente não foram extintas até agora porque as populações locais que elas atendem não podem ficar sem o suprimento de energia. Apenas por isso.
Não que essas distribuidoras sejam intrinsecamente más. Não se trata disso. Em algum momento, talvez tenham até tido um significado e uma razão para existir. Mas é preciso reconhecer que essas empresas foram devastadas durante anos e anos pelas classes políticas dos respectivos estados, impondo padrões administrativos que apenas beneficiaram grupos políticos locais, em detrimento das boas práticas de gestão.
Consequentemente, são empresas que hoje valem apenas um real, não mais do que isso. Se aparecer alguém interessado nelas, praticamente terá que recomeçar do zero. Os sindicalistas que bagunçaram as audiências públicas em Maceió e Teresina apenas fizeram aquilo que sindicalistas normalmente costumam fazer nessas horas. Apesar das confusões, essas distribuidoras serão vendidas e, em outra oportunidade, será a vez das grandes geradoras e das dezenas de participações que elas possuem em outros empreendimentos.
Para não restar qualquer dúvida, vale repetir que, na opinião deste editor, o Brasil não precisa ter estatais. Contudo, como é bom ser realista, é difícil dizer que haveria condições políticas para transferir o Banco do Brasil e a Petrobras à iniciativa privada. Embora não haja necessidade que sejam estatais, são empresas cujo simbolismo ultrapassa a realidade da vida.
Este site, então, entende que o Brasil poderia ter não mais do que quatro estatais: o BB, a Petrobras e a Embrapa. E também a usina de Itaipu, considerando que se trata de um acordo especial com o Paraguai, com cláusulas únicas. A Embrapa pode continuar como estatal, considerando que é uma empresa eficiente, que faz um belo trabalho que só poderia ser feito pelo Estado. Então, não tem problema mantê-la dentro da administração pública. Quanto ao resto, bem, o resto é o resto. Privatização para todas as demais estatais.
Não se trata de ser contra a Eletrobras. Ao contrário, é preciso reconhecer que a estatal cumpriu o seu papel ao longo das décadas. Hoje, no entanto, a realidade do País é completamente diferente e a sociedade brasileira não faz qualquer questão de ter estatais sugando o dinheiro do Tesouro Nacional, ou seja, dos contribuintes.
No próprio setor elétrico, existem alguns exemplos interessantes. Como a distribuidora Cemar, do Maranhão. Era uma empresa falida, da mesma forma que as seis distribuidoras que estão sendo privatizadas agora. Um dia foi vendida para um grupo americano, que pagou uma nota preta por ela, mas não teve competência para administrá-la.
Esse grupo entregou a concessão à Aneel, que, em seguida, vendeu a Cemar aos atuais controladores por um real. Aos poucos, os novos administradores colocaram ordem na casa, de modo que a Cemar, hoje, é uma empresa rentável, que tem bom valor no mercado, sem contar que melhoraram as condições de atendimento aos seus consumidores. É o que vai acontecer com essas seis distribuidoras.
O resto é papo de sindicalista, cujo discurso infelizmente está parado nos anos 60. Ninguém sente falta da Telebras, da Portobras, da Rede Ferroviária Federal, da Siderbras, da Vale do Rio Doce e da Embraer estatizadas. Viraram um capítulo da História, o que vai acontecer também com a Eletrobras.
No final dos anos 90, o Governo FHC teve a coragem de vender o sistema telefônico, basicamente a telefonia fixa, pois a celular ainda estava engatinhando. Vendeu caro, por uma grana elevada. Foi o melhor negócio que o Brasil já fez. Hoje, a telefonia fixa é uma coisa do passado e as concessionárias praticamente dão o telefone de graça para os assinantes, pois as linhas sobram na prateleira.
Telefonia fixa já foi tão importante, que entrava até no Imposto de Renda das Pessoas Físicas. Ninguém hoje faz questão de ter telefone fixo em casa. Apesar disso, ainda existem alguns sindicalistas que de vez em quando saem da tumba para dizer que o Governo FHC “entregou” a telefonia fixa ao capital estrangeiro. Bobagem total.
Esse tipo de situação também alcança o setor elétrico. Distribuição já foi um negócio interessante. Em sã consciência, o investidor tem que pensar muito na hora de aplicar o seu dinheiro em distribuição, que é a parte antiga do setor elétrico. O filé mignon hoje chama-se comercialização, sem contar que a geração ainda é bom negócio e a transmissão tem receita garantida. Hoje, é preciso coragem empresarial para investir em distribuição.
É verdade que existem grupos que se especializaram em distribuição. Embora seja mau negócio para alguns empreendedores, que não dominam o segmento, tem gente que ganha dinheiro com a entrega de energia elétrica aos consumidores. Aí estão, por exemplo, a Energisa, a CPFL, a Enel e a Neoenergia, entre outros, que sabem tocar o negócio de distribuição.
A sociedade brasileira ainda vai sofrer um pouco com o ataque que a proposta de privatização do Sistema Eletrobras sofrerá dentro do Congresso Nacional. Não se pode esquecer que ali se encontram alguns dos responsáveis por levar a Eletrobras para dentro do buraco. E eles não querem perder a chance de continuar a sugar nas tetas da estatal.
Porém, é apenas questão de tempo. No final, prevalecerá o bom senso e tudo isso será privatizado. Ganharão os contribuintes, ganharão os consumidores e, enfim, ganharão todos aqueles que torcem para que o Brasil possa sonhar com melhores dias.