O chá de mulungu e o MME
Faltando pouco mais de duas semanas para terminar o prazo para desincompatibilização do atual ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, ao que tudo indica a questão da sua sucessão no MME já está resolvida. O novo ministro só não será o atual secretário-executivo, Paulo Pedrosa, caso este, na reta final, desista do cargo.
A sucessão, entretanto, não é tão simples assim, como possa parecer à primeira vista. Até uns dias atrás, quando o presidente Michel Temer ainda alimentava a quimera de ser candidato do Centrão ao novo mandato, o nome de Pedrosa ficou ameaçado, pois o presidente queria utilizar o cargo de titular do MME para fazer algum tipo de composição política em seu próprio benefício.
Contudo, fulminado por decisões recentes de Raquel Dodge, a implacável procuradora geral da República, e pelo próprio ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, Temer, em uma atitude de bom senso, recolheu-se a sua insignificância no mundo político e aparentemente abriu espaço para o atual ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Rodrigo Maia diz que quer se candidato à Presidência da República, mas garante-se que ele quer mesmo é ser governador do Estado do Rio de Janeiro.
Essas mudanças no campo político teriam levado à confirmação do nome de Pedrosa, como sucessor de Coelho Filho, considerando inclusive que existiria um acordo entre os dois, há vários meses, para que assim fosse a definição sucessória na área do MME. Isso colocaria uma pedra na vontade de partes do MDB de retomar o controle da Pasta, algo que somente se justificaria na condição de Temer como candidato a presidente.
Pedrosa é um executivo mais do que preparado para ser ministro. É verdade que ele não agrada a alguns segmentos, mas ele próprio atribui isso à necessidade de se tomar opções que geram stress entre empresas, exatamente porque nem todas podem sair ganhando ao mesmo tempo. As partes que se sentem prejudicadas naturalmente colocam a boca no trombone.
Na avaliação de especialistas do setor, Pedrosa é um nome que une, mais do que separa os vários segmentos que integram o setor elétrico brasileiro. Ele fala a língua do conhecimento técnico, da ideia da privatização, da eficiência, da competição e da transparência, palavras, aliás, que são pronunciadas favoravelmente pela maioria absoluta daqueles que trabalham no setor elétrico brasileiro.
Além disso, foi o principal responsável pelo encaminhamento de diversas propostas de destaque na Pasta, como a definição do novo modelo (que o Palácio ainda está engavetando) e o projeto de privatização do Sistema Eletrobras, que navega em mar agitado dentro do Congresso.
A sua eventual indicação seria uma espécie de garantia para a continuidade da atual política do MME, fortemente baseada no diálogo com as áreas empresariais.
Alguns (poucos) especialistas do setor elétrico não acreditam muito que Pedrosa queira permanecer no MME. O argumento é que, ficando, terá que cumprir quarentena a partir de janeiro de 2019 e, quando voltar à atividade, os principais postos já estarão ocupados em um novo governo, acreditando-se que seja um pessoal que tenha afinidades com ele.
Nesse raciocínio, se Pedrosa sair nos próximos dias, poderá cumprir quarentena imediatamente e ainda se envolver na campanha presidencial de alguém, podendo voltar em alto estilo se o seu candidato emplacar ou então como resultado de alguma composição partidária.
Tem muita gente ansiosa e à beira de um infarto por causa dessa indefinição no MME, mas a vida é assim mesmo. Tenham paciência, Senhores: nos próximos dias, a sucessão no MME estará resolvida. Enquanto isso, o chá de mulungu pode ser interessante para que as pessoas possam perder um pouco da ansiedade e dormir com mais tranqüilidade.