Tinha que manter isso, viu?
Por equívoco, costuma-se atribuir às personalidades políticas qualificações que elas não merecem. Como estudou Economia e fazia marketing disso, a ex-presidente Dilma Rousseff, mereceu créditos indevidos e cometeu, na Economia, as maiores asneiras que um presidente da República pode cometer. O seu somatório de erros foi tão grande e grosseiro, que se encontrou uma razão técnica para tirá-la da Presidência, pois, caso contrário, este País teria entrado num buraco sem fim, meio parecido com o caos do fim do mundo que se observa hoje em Caracas.
Com o presidente Michel Temer se passa mais ou menos o mesmo. Quando ele assumiu, em maio de 2016, sabia-se que não era a melhor opção para o Brasil, mas era a alternativa constitucional que existia. Como uma espécie de consolo, pensava-se que, sendo um político da velha guarda, com vasta experiência nos diversos escalões do mundo político, nem de longe cometeria os erros da sua antiga companheira de chapa. Engano total. Temer adora errar. Tem uma incrível vocação para o erro, inclusive na área de energia.
É verdade que em relação à área de petróleo e gás natural, Temer mais acertou do que errou. Soube escolher um presidente para a Petrobras que é um fenômeno em termos de trabalho. Um dos maiores conhecedores da administração pública, Pedro Parente e seus colegas de diretoria em apenas dois anos colocaram a maior estatal brasileira no caminho da recuperação. Desmontaram os esquemas funcionais que levavam facilmente à corrupção, souberam definir um plano de negócios correto, venderam ativos, pagaram dívidas e enxugaram o quadro de pessoal. Enfim, cortaram custos e simplesmente seguiram os manuais de administração. Resultado: a Petrobras apresentou um lucro líquido de quase R$ 7 bilhões no primeiro trimestre de 2018. Com o óleo bruto em alta, no mercado internacional, agora ninguém segura a Petrobras.
Entretanto, em relação à área de energia elétrica o presidente Michel Temer meteu os pés pelas mãos e desmontou uma das poucas áreas da sua gestão que, ao contrário de dor de cabeça, só dava boas notícias.
Quando se chegou na data-limite para a desincompatibilização das autoridades públicas, o então ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, deixou o Ministério de Minas e Energia, pois é candidato em outubro próximo. Teria sido extremamente sensato da parte do presidente da República fazer apenas o que aliás ocorreu em outras Pastas, promovendo o então secretário-executivo Paulo Pedrosa para o lugar vago de Coelho Filho.
Essa era a opinião praticamente unânime no setor elétrico brasileiro. Por uma razão muito simples: Pedrosa representava a garantia da continuidade de uma gestão que vinha dando certo.
Uma eventual promoção a ministro representaria muito mais do que um simples agrado de natureza pessoal. Seria uma espécie de sinalização, um reconhecimento que o trabalho que vinha sendo feito continuaria no mesmo ritmo, com a mesma equipe, até o final de dezembro. O presidente não entendeu nada do que estava acontecendo nessa Pasta-chave do seu ministério.
Já nos acréscimos do segundo tempo, quando todo o mercado acreditava que Pedrosa seria confirmado, o presidente da República mudou subitamente de opinião e indicou o seu amigo pessoal Moreira Franco para a Pasta. Por mais que as pessoas queiram agradar o novo ministro, buscando reuniões, etc, etc, o fato concreto é que foi uma tremenda ducha fria em todo o setor de energia elétrica. Embora se esforce para tentar entender a situação atual do SEB, Moreira não transmite credibilidade.
Não é nada pessoal da parte de ninguém, mas não se pode negar que o trabalho foi todo desmontado. A equipe levada por Pedrosa simplesmente se demitiu do MME junto com ele, inclusive o presidente da EPE, Luiz Barroso. Por outra razão, o secretário de Energia Elétrica voltou para o seu estado de origem, onde ganhou uma sinecura. Assessores qualificados de Pedrosa pediram o boné e retornaram aos seus setores de origem no serviço público. O novo secretário-executivo, Márcio Félix, conhece bastante a área de petróleo e gás, mas é um neófito na área de energia elétrica. Quase não se fala nele.
O presidente da República teve o mérito de ser leal a um amigo e garantiu-lhe um belo cargo na Esplanada dos Ministérios. Ocorre, porém, que o ministro Moreira Franco tem várias qualidades, mas não é do ramo e não tem equipe para trabalhar.
Dentro de um mês começa a Copa do Mundo e o Brasil, como o restante do planeta, vai parar por quatro semanas. Quando terminar a Copa, os deputados federais e senadores, que já estão mergulhados nos respectivos processos de reeleição nos estados de origem, vão desaparecer por completo de Brasília. Várias decisões capitais da área do MME passam pelo Congresso.
Como se trata se uma eleição que provavelmente terá segundo turno, ou seja, se definirá quem será o presidente apenas no final de outubro, haverá somente mais dois meses para completar o mandato presidencial, sendo que a segunda metade de dezembro já estará contaminada pelas festas natalinas.
Ou seja, o presidente da República não soube mexer no seu tabuleiro político e colocou um belo freio de arrumação no MME, que era uma das poucas áreas da sua gestão que funcionava razoavelmente bem. O ministro Moreira Franco terá, até o final do ano, direito ao tapete vermelho, aos sorrisos fáceis e gentis, ao tradicional tapinha nas costas, mas no final será apenas um assistente privilegiado numa espécie de contagem regressiva para o 31 de dezembro. Se acontecer alguma coisa importante na sua gestão, será uma enorme zebra.
Concretamente, o setor elétrico como um todo olha para 2019 e começa a se preparar para o próximo Governo e com quem vai mandar. Será o Ciro? Será o Bolsonaro? Será a Marina? Será o Haddad? Será o Alckmin? Os assessores de Relações Institucionais das grandes empresas e das associações empresariais mergulham a fundo no trabalho de tentar entender quem poderá ocupar o lugar de Moreira Franco. Tudo ainda é embrionário, mas não tem ninguém sinceramente preocupado com o atual ocupante da Pasta.
Não é culpa do ministro, mas das crueldades do mundo político. Culpa talvez de um presidente que não sabe escolher adequadamente. Em relação ao MME, era, sim, razão suficiente para manter isso, viu? Mas o presidente tinha outras ideias e errou muito além de uma simples vírgula.