Eleição é incógnita para SEB
O setor elétrico brasileiro tem algumas peculiaridades interessantes e uma delas consiste exatamente no enorme receio de chamar determinadas coisas pelos nomes que efetivamente elas possuem.
Em muitos encontros do SEB nos últimos tempos muita coisa tem sido falada, mas as pessoas evitam diplomaticamente mencionar o nome do demônio que pode melar tudo, que é a eleição de outubro próximo.
Todo mundo sabe que o mais importante de tudo é a eleição, mas ela fica ali, meio escondida, apenas subentendida, como se fosse crime ou pecado mencioná-la.
Isso não aconteceu, entretanto, na reunião que a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) realizou em São Paulo, no dia 11 de setembro passado, oficialmente chamada de “interação” com as associações empresariais que atuam no setor elétrico. Isto é, para colocar todo mundo em dia com as atividades desenvolvidas pela Câmara e ouvir críticas e sugestões. Um bom procedimento, que faz parte do jogo democrático.
Nessa reunião, no meio de discussões sobre preço-horário da energia elétrica, desenvolvimento do mercado livre, subsídios. lastro e outras questões técnicas que afetam o mercado, a CCEE mostrou uma transparência com uma enorme interrogação e a palavra “eleição”. Enfim, alguém com responsabilidade no SEB, no caso a CCEE, tomou a iniciativa de reconhecer que, apesar de boas ideias que fervilham por aí, tudo terá algum sentido dependendo apenas do caminho que o País vai trilhar, a partir de 2018, com os resultados da eleição de outubro.
O site “Paranoá Energia” vem batendo nessa tecla há vários meses, mesmo antes da troca de comando no MME. Era evidente que o atual governo tinha perdido totalmente aquilo que se chama de governabilidade e que não havia mais o que fazer, infelizmente, a não ser aguardar o resultado das urnas e torcer, depois, por uma rápida transição.
É verdade que, na mesma reunião, a CCEE ainda mostrou algum otimismo. É possível que aquela simpática velhinha de Taubaté, personagem inesquecível do escritor e cronista Luiz Fernando Veríssimo, agora despache dentro da CCEE. Afinal, a Câmara prevê para 2019 uma expansão da carga da ordem de 3,7%, podendo chegar a 3,8% em 2020, 3,9% em 2021 e 4% em 2022. Números bastante expressivos, considerando o estágio atual da economia, com tudo na lona ou próximo dela.
Ainda bem que existem os otimistas, pois ninguém agüenta mais o pessimismo que grassa neste País. Para a CCEE, depois das eleições provavelmente haverá algum acerto para que o Brasil finalmente volte a crescer. E, nesse contexto, a energia deverá seguir junto.
Voltando à questão específica do gargalo chamado “eleição”, há muitas situações que estão represadas por conta única e exclusivamente das incertezas geradas pelo processo eleitoral. Principalmente o novo modelo comercial do setor elétrico brasileiro, que poderá modificar profundamente as relações de consumo, ampliando o papel do mercado livre.
O enorme ponto de interrogação mostrado na palestra da CCEE quer dizer apenas que, se a esquerda ganhar, é possível que não exista evolução alguma. Afinal, a esquerda, por questão ideológica, odeia a liberdade de mercado e gosta mesmo é da velha centralização, mais típica do SEB nos anos 60.
Nessa hipótese, em vez de abertura do mercado, é possível que tenhamos de volta o correto professor Maurício Tolmasquim (que tem ideias ligeiramente atrasadas, típicas do SEB na época do presidente Geisel, mas que é um homem público que merece todo o respeito).
Ao contrário, se prevalecer um voto em favor do liberalismo econômico, é possível que tenhamos um aprofundamento do processo de privatização do Sistema Eletrobras e até mesmo (não seria surpreendente) uma modernização do modelo comercial mais intenso do que aquele proposto pela própria Abraceel.
As urnas dirão qual a direção que será tomada não apenas pela vida política, mas, também, pelo setor elétrico.