Bolsonaro: nota zero em Eletrobras
A vida do candidato Jair Bolsonaro passou por inúmeras transformações nos últimos tempos. Durante praticamente todo o seu tempo na Câmara dos Deputados foi um parlamentar do chamado “baixo clero”, quando não se destacou por algo que se possa classificar como muito importante. Mas, carismático, idealista, impôs um estilo e uma liderança na política, mesmo sem contar com apoio partidário ou de mídia.
Teve o grande mérito de identificar o impacto negativo de políticas públicas extremamente equivocadas no combate à criminalidade e como isso contribuía para o sofrimento da população brasileira, seja rico, seja pobre, seja negro, seja branco, seja sulista ou nordestino.
Ninguém pode tirar esse mérito de Bolsonaro, pois ele compreendeu o fenômeno muitos anos-luz à frente de todos os partidos e dos demais integrantes da classe política e transformou o tema do endurecimento na luta contra a bandidagem no carro-chefe da sua campanha à Presidência da República.
Bem, dentro de menos de 20 dias, Jair Bolsonaro provavelmente será eleito o próximo presidente da República, pois dificilmente o seu oponente terá condições para captar 1 milhão de votos por dia até lá. Fernando Haddad está fazendo força e não é impossível, mas é preciso reconhecer que é muito difícil, até porque muita gente da esquerda já está jogando a toalha antes da hora.
Este editor concorda com Jair Bolsonaro em várias questões. É verdade que, como qualquer político, ele às vezes fala demais e quem tem a língua grande sempre paga o preço. Mas os políticos de modo geral são assim mesmo e às vezes acham que não faz muita diferença entre falar muito ou falar pouco. Eles gostam de falar, independentemente dos partidos. Falar é com eles mesmos.
Não se pode comparar Jair Bolsonaro com o candidato Fernando Collor em 1989. Este foi seguramente um produto de marketing, acobertado pelas elites, que temiam a chegada da esquerda ao Poder. Bolsonaro é completamente diferente. Em janeiro deste ano, se alguém dissesse que ele seria o novo presidente, bem, isso seria considerado uma enorme piada. O fato é que ele chegou ao final do primeiro turno com 46,18% dos votos válidos e por muito pouco quase já levou a Presidência no próprio dia 07 de outubro.
Só que Bolsonaro não é um produto de marketing. Ele catalisa uma enorme força popular de caráter conservador, algo que talvez nunca tenha ocorrido na História do Brasil. É um movimento que reflete várias tendências conservadoras, que convergem para o nome de Bolsonaro. Nem o PT, até agora o partido político mais organizado que já surgiu no Brasil, conseguiu segurar a onda Bolsonaro. A primeira pesquisa Datafolha para o segundo turno o coloca numa posição de muito conforto para ganhar a eleição. Se não cometer erros, a faixa presidencial está no papo de Bolsonaro.
Não é fácil estar na posição de Bolsonaro, o quase novo presidente, até devido às suas delicadas condições de saúde. Seu oponente faz o jogo político de tentar atraí-lo para o ringue, mas ninguém pode negar que a situação física de Bolsonaro é difícil. A facada em Juiz de Fora gerou um corte no peito, que vai do umbigo até quase a goela. A foto é impressionante. Ele já passou por duas cirurgias, está sendo acompanhado por médicos e ainda usa uma bolsa de colostomia. Nesse contexto, ainda perdeu 15 quilos. Podem falar o que quiser, mas não é fácil a situação de saúde de Bolsonaro.
É absolutamente natural que no meio de uma campanha em que o candidato ficou recolhido ao hospital e depois em sua casa, como tem sido nas últimas quatro semanas, ocorram ruídos entre ele e seus assessores. Um fala uma coisa, outra fala outra coisa. É difícil controlar as bobagens, até porque alguém precisa falar e nem sempre é possível trocar uma ideia prévia com o candidato. Tudo isso é normal e compreensível, até porque Paulo Guedes ou o vice general Mourão não são originários do mundo político e estão passando por um aprendizado de curtíssimo prazo.
O próprio candidato tem direito a cometer os seus erros (e ele os tem cometido), mas seria recomendável que Bolsonaro evitasse falar sobre situações a respeito das quais ele está ligeiramente desinformado. O setor elétrico é uma delas.
O candidato tem o direito de pensar o que quiser. Aliás, no momento atual Bolsonaro pode pensar o que quiser, pois está pilotando em céu de brigadeiro. Mas seria interessante se ele pudesse mostrar um pouco mais de sensibilidade/modernidade em algumas ideias, pois a sua desinformação/desatualização de fato preocupa o País.
Uma das poucas coisas acertadas que o Governo Temer fez foi a iniciativa de privatizar o Sistema Eletrobras, o carcomido sistema elétrico brasileiro. A proposta está travada no Congresso. Já teve a sua história, mas hoje é apenas uma lembrança do passado, de quando o Brasil pertencia aos tempos do general Geisel e era chamado de “Brasil Grande”. O Sistema Eletrobras, hoje, é um monstro que faz mal à sociedade brasileira, que precisa comparecer, como contribuinte, para cobrir os monumentais rombos de empresas deficitárias.
Só que Jair Bolsonaro, o mesmo político que vem com força para combater a criminalidade e a corrupção, ou até alterar os costumes, pensa exatamente como o general Geisel. E, para não ficar mais distante, a mesma coisa que a ex-presidente Dilma e o PT, dos quais, aliás, ele deveria se diferenciar. Nesta quarta-feira, Bolsonaro derrubou os papéis da Eletrobras (veja matéria neste site), pois entende que a sua privatização não é prioridade.
Está enganado, candidato Bolsonaro. A privatização do Sistema Eletrobras é extremamente prioritária para o Brasil. Aliás, o seu economista-chefe, Paulo Guedes, carinhosamente chamado de “Posto Ypiranga”, já mostrou com enorme didática porque é necessário vender esse monte de ferro velho chamado Eletrobras.
Neste quesito, o candidato Bolsonaro ainda está na Idade da Pedra. No Neolítico Inferior. Talvez seria mais razoável se ele aproveitasse um pouco mais as aulas que certamente Paulo Guedes tenta dar a cada dia.
O mal dos políticos, de todos os políticos, não apenas de Bolsonaro, é quando eles se acham. O ex-presidente e atual presidiário Lula é um desses que se acham, não importa o tema. Neste caso de Bolsonaro, a perspectiva de Poder é tão intensa, que Jair Bolsonaro, que praticamente já está eleito, já chegou à conclusão que entende de tudo. Não, não entende. Poderia ser um pouco mais humilde e deixar que o seu principal assessor econômico fale sobre o setor elétrico.
Seria mais fácil entender porque o novo Brasil, que se espera surja com a eventual vitória de Jair Bolsonaro, precisa contar com a privatização do Sistema Eletrobras.