Pepitone e a liturgia do cargo
O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), sr. André Pepitone, perdeu uma excelente oportunidade para ficar quieto na sua casa, em Brasília, no início desta semana, em vez de participar de uma reunião, no Rio de Janeiro, com o presidenciável Jair Bolsonaro, dirigentes de empresas e um conhecido lobista do setor elétrico.
O registro fotográfico que mostra o sr. Pepitone todo sorridente, ao lado de executivos de empresas, de Bolsonaro e do lobista, é absolutamente patético.
Quando foi indicado para ocupar a vaga de Romeu Rufino na direção-geral da Aneel, este site não economizou críticas à decisão do presidente Michel Temer, sob o argumento que o sr. Pepitone, embora tenha seus méritos como técnico em energia elétrica, é muito envolvido com o mundo político, mais do que deveria ser. E que isso poderia causar dificuldades para a agência reguladora, que ele provavelmente transformaria em um apêndice do Ministério de Minas e Energia.
Essa reunião com Jair Bolsonaro mostra que o site Paranoá Energia estava certo nas suas avaliações. Afinal, o que o diretor-geral da Aneel foi fazer lá, na companhia de dirigentes de empresas e de um lobista? Aliás, esse lobista, vale lembrar, também circula com muita liberdade no MME, onde é uma espécie de queridinho.
Resolver questões fundamentais do setor elétrico? Com certeza, não. Provavelmente foi mostrar serviço. Ou melhor, foi mostrar que está disposto a trabalhar em conjunto com o Poder Executivo. O que é uma péssima referência para o sr. Pepitone.
Não que o diretor-geral da Aneel tenha que ser adversário do Poder Executivo. Não se trata disso. Só que existe um pequeno detalhe chamado liturgia do cargo, que provavelmente André Pepitone desconhece como funciona. Alguém precisa com rapidez explicar para ele como funciona esse troço, antes que ele meta os pés pelas mãos novamente.
Em primeiro lugar ele não pode se misturar com lobistas. Em segundo lugar, na condição de dirigente de uma agência reguladora federal, ele não pode privilegiar candidatos, como fez com Jair Bolsonaro.
O fato que não se pode negar é que o diretor-geral da Aneel é possuidor de uma irrefreável vontade de aparecer na companhia de gente do mundo político. Há menos de 10 dias, ele estava numa missão do Governo brasileiro em Portugal, junto com o ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, o presidente da EPE, Reive Barros, e Moacir Bertol, secretário-adjunto de Planejamento do MME.
Uma coisa que o sr. Pepitone precisa ter com clareza é que a sua agenda, como diretor-geral da Aneel, não pode ser a mesma do Poder Executivo. Ou de lobistas. Por mais que existam questões relacionadas com o setor elétrico nesses compromissos. É por isso que ele é dono de um mandato. Não tem que dar satisfação a ninguém. Simplesmente tem que fazer o seu trabalho, que consiste na regulação da área de energia elétrica.
Não tem que se misturar com lobistas, não tem que se misturar com empresas, não tem que se misturar com o Ministério de Minas e Energia. E muito menos com presidenciáveis, mesmo que Jair Bolsonaro, ao que tudo indica, seja o próximo presidente do Brasil.