MME: Bolsonaro em dúvida
O presidente eleito Jair Bolsonaro tomou uma decisão correta ao manter o Ministério de Minas e Energia separado da nova Pasta da Infra-Estrutura. Reconheceu que a área de energia em geral tem situações que são completamente diferentes do segmento representado por portos, aeroportos e rodovias. Ponto para Bolsonaro ao preservar a independência do MME.
A pergunta que todos fazem agora é por que não foram indicados ainda os nomes dos titulares do MME e da Infra-Estrutura? São situações muito diferentes, mas está claro que, pelo menos na área de energia, por enquanto, o presidente eleito não está seguro quanto aos nomes que circulam no mercado.
Os nomes que têm sido citados são tecnicamente competentes. Isso vale para Paulo Pedrosa, Adriano Pires e José Carlos Aleluia. Só que a decisão presidencial não se limita a aspectos técnicos. E, no meio político, todo mundo sabe que o lobby come solto. Pelo menos é o que está sendo evidenciado nos últimos dias e isso não é bom para nenhum dos candidatos a titular do MME. Só está faltando candidatos ao MME saírem no tapa. Não vai acontecer isto, que é uma mera figura de linguagem, mas dá uma ideia da agressividade do lobby que atua em apoio a cada nome.
Durante a campanha, Bolsonaro foi acusado várias vezes de não refletir muito sobre os vários temas e falar ou tomar atitudes impensadas. Desde então, o presidente mudou bastante, amadureceu politicamente e tudo indica que hoje a ponderação faz parte do seu cardápio diário. Bolsonaro está fazendo um intensivão para ser presidente da República, a partir de 1º de janeiro, e já está aprendendo que, tanto na hora de falar quanto de agir, precisa errar o menos possível. Isso que está acontecendo com Bolsonaro é muito bom para o País, pois não se pode ter um presidente da República que só atue com base na reação do fígado, como Trump, por exemplo.
Na visão do mercado, o nome de Pedrosa claramente perdeu força nos últimos dias, pois se descobriu que ele assinou um artigo defendendo a MP 579, a desastrada iniciativa da ex-presidente Dilma Roussef que praticamente destruiu o setor elétrico brasileiro. A MP é de 2012. Até hoje, seis anos depois, seus efeitos ainda rondam por aí, como fantasmas, assustando muita gente, tamanho o potencial de destruição que ela causou. Ter apoiado a MP 579 não honra o currículo de ninguém e isso certamente afeta Pedrosa.
Em termos práticos, Pedrosa de fato cometeu um suicídio político, visto sob o ângulo de hoje, ao apoiar a 579. Entretanto, é bom ver em que contexto isso se deu. Em 2012, ele presidia uma associação empresarial de consumidores intensivos de energia elétrica que só conseguem enxergar uma coisa: o valor da conta de luz no final do mês. Ora, se aparece uma MP dizendo que o preço da energia será reduzido na marra em 20%, como fez Dilma Rousseff, ele, como executivo do setor, somente poderia apoiar. Não ia ficar contra.
Depois, ele se redimiu em larga escala, já como secretário-executivo do MME na gestão Temer e tomou, inúmeras vezes, atitudes liberais e modernizantes, que o País estava esperando há muito tempo e que certamente dignificam o seu currículo. De certa forma, não é justo crucificá-lo apenas por aquele infeliz apoio à 579.
Quanto a Adriano Pires, que é um consultor bastante requisitado pela área de energia em geral, atua fortemente na área de gás natural, o que é uma ótima credencial neste momento, pois o Governo quer abrir o segmento para a iniciativa privada. Só que o seu apoio político basicamente está centrado no MDB, o que não é um bom indicativo nesta antevéspera de Governo Bolsonaro.
Vale lembrar que o MDB sempre se considerou uma espécie de “dono” do MME. Tanto que, na coalizão com o PT, o Partido mandou na Pasta durante muito tempo. Perdeu o comando do MME assim que Michel Temer assumiu, mas, dois anos depois, recuperou a propriedade do ministério e emplacou Wellington Moreira Franco como ministro. Adriano Pires circula com muita facilidade no MME sob o comando de Moreira Franco. Tem qualificações técnicas, sem dúvida, mas o que se pergunta é até que ponto é bom, politicamente falando, ser um nome que vem do MDB?
José Carlos Aleluia, que está terminando um dos seus muitos mandatos de deputado federal e não foi reeleito, é um dos maiores conhecedores do setor elétrico brasileiro, respeitado pelo Congresso e empresariado. Tem contra si o fato de ser do Democratas, um partido que já tem outros ministros.
Bolsonaro sabe que se indicar Aleluia fará o seu ministério pender muito para o lado do Democratas, que, na campanha, apoiou Geraldo Alckmin e já conta com outros representantes no futuro ministério. É uma questão politicamente indigesta para o presidente eleito, mesmo que Aleluia o tenha apoiado individualmente na Bahia, contrariando a decisão da cúpula do seu Partido.
Esse é o quadro geral para o MME. Como o nome não sai, tudo indica que Bolsonaro está pensando o que fazer em relação ao MME. Ele está ponderando. Não seria surpresa se, diante de tantas pressões, surgir um nome novo, que não tenha sido citado até agora, alguém de características liberais e que não esteja relacionado com os padrinhos desses três nomes que já estão em debate.
Aflito, o mercado aguarda a decisão, que poderá sair até o final desta semana.