O MME vai para o sal?
É impressionante como a classe política, historicamente, não dá o menor valor ao Ministério de Minas e Energia e até o trata com certo desrespeito.
Se olharmos com frieza, o Brasil não tem muitas ilhas de excelência para mostrar ao mundo. Tínhamos o futebol, mas o nosso futebol, coitado, já era há bastante tempo. Temos o crime e a violência, bem, mas esses não valem.
O agronegócio, sim, é um extraordinário desempenho que o Brasil mostra ao mundo. Temos a corrupção. Essa também não vale, mas o combate à corrupção que está sendo feito no Brasil tem sido fantástico e esse conta. Dele podemos nos orgulhar.
Nesse contexto de aspectos negativos e positivos que nos afligem, temos o setor de energia. Nesse, o Brasil é campeão, mas a classe política infelizmente não sabe disso. Entra governo, sai governo, o que a classe política mais gosta é tratar o Ministério de Minas e Energia como se fosse o cocô do cavalo do bandido, ignorando completamente que, nesse quesito, o Brasil, em termos mundiais, não é aluno e, sim, professor.
Quando se olha para a lista de ministros de Minas e Energia após a redemocratização, em 1985, alguns nomes indicados para chefiar o MME, de modo geral, foram lamentáveis.
Não é preciso fazer muito esforço para chegar a essa conclusão. Na lista estão, entre outros, nulidades absolutas como Moreira Franco, Edison Lobão, Dilma Rousseff, José Jorge, Rodolpho Tourinho, Alexis Stepanenko e Vicente Cavalcanti. Como ministros de Minas e Energia, todos foram zeros à esquerda, embora tenham sido ungidos ao alto cargo devido à força das composições políticas.
O próprio Fernando Coelho Filho, que foi um bom ministro, tocou horror no setor quando foi indicado por Michel Temer, devido à absoluta inexperiência na área. Mas soube dar a volta por cima, em alto estilo, face à sua vocação para o diálogo e ao respeito a sua equipe. Delegou poderes, confiou nos subordinados e teve a sorte de arbitrar corretamente as questões pendentes. Deu certo, mas tinha tudo para dar errado.
Agora, na formação da equipe do presidente eleito Jair Bolsonaro, o MME mais uma vez é tratado de uma forma como não merece, o que mostra que, tanto à direita, quanto à esquerda ou ao centro, a classe política não tem a menor apreço pela História do MME e desconhece totalmente a sua importância para o País.
Os nomes que já circularam dando conta de preferências para ocupar a chefia do MME são extraordinários. Já se falou em Paulo Pedrosa, ex-secretário-executivo da própria Pasta, que conhece o setor de trás para a frente. Também já se falou em Adriano Pires, um consultor tarimbado, do qual pode-se discordar em vários aspectos, mas não se pode negar que também conhece o funcionamento da Pasta.
Também se falou no professor Luciano de Castro, que é um acadêmico em tempo integral, bastante respeitado por sinal. Entende de energia, mas não conhece muito o Brasil, pois está afastado do País há muitos anos.
Depois que esses nomes deixaram de ser citados, aí começaram a aparecer nomes do mundo político, mostrando que Bolsonaro não é muito diferente de outros presidentes da República. Foi citado um deputado federal mineiro, Jaime Martins, que é um ilustre desconhecido em Brasília. Também foi citado o nome do deputado não reeleito José Carlos Aleluia, que é um grande nome do setor elétrico, mas que ao que tudo indica poderia receber o MME como uma espécie de prêmio de consolação face à derrota nas urnas em outubro passado.
Também como prêmio de consolação surgiu de repente o nome da atual senadora Ana Amélia, que embarcou na canoa furada da candidatura de Geraldo Alckmin, como candidata a vice-presidente, e trocou o Senado pelo nada.
A senadora Ana Amélia é excelente política e, no Senado Federal, deu provas de coragem e determinação. Mas precisaria fazer enorme esforço pessoal para não naufragar na condução do MME, considerando que é uma área com a qual não tem muita intimidade.
Nos últimos dias, um grupo chamado “bancada evangélica”, que de repente começou a achar que manda no País, passou a forçar a barra para cima de Bolsonaro para que o novo titular do MME seja o deputado federal Leonardo Quintão, outro nome inexpressivo do Congresso Nacional. Assim não dá, presidente.
A pergunta que surge é a seguinte: é possível ser um bom ministro de Minas e Energia, mesmo sem entender nada a respeito dos complexos temas que envolvem a Pasta? É. Fernando Coelho Filho demonstrou que sim, mas é fundamental contar com uma excelente equipe técnica. Mas esse tipo de situação infelizmente não é o mais comum. O que acontece normalmente é que ministros que não entendem nada a respeito de Minas e Energia se tornam pesos mortos na gestão federal, como alguns nomes aqui já citados.
E o Brasil, é preciso reconhecer, já não está em condições de ter um ministro que precisará de um ano para entender o beabá da sua Pasta.
Ao deixar a indicação do MME por último, o presidente eleito Jair Bolsonaro mostra que a sua visão da Pasta é rigorosamente igual à de José Sarney, de Lula da Silva, de FHC, de Dilma Rousseff, de Michel Temer ou de Itamar Franco. A Pasta está sendo aparentemente usada como moeda de troca de apoio político e, assim, provavelmente será colocado no MME um nome, qualquer nome, que atenda a determinado partido político, provavelmente o MDB, e a questão estará devidamente resolvida. Talvez não seja isso que vai acontecer, mas é o que presidente Bolsonaro deixa transparecer.
O Brasil inteiro torce para que o editor deste site esteja completamente equivocado e que o presidente Bolsonaro saiba escolher alguém de alto nível para conduzir o MME na sua gestão. Alguém que entenda a sofisticação técnica do funcionamento do MME nos dias de hoje.
Mas, se não acontecer desse jeito, lamentavelmente saberemos que Bolsonaro, nesse aspecto, fará exatamente igual aos presidentes que o antecederam, o que seria uma lástima e não corresponderia às expectativas formadas em torno do futuro presidente da República.