Mercado é maior do que um agente
As empresas afetadas pela quebra de um agente do mercado deverão passar este final de semana reunidas com seus advogados, para tentar encontrar a melhor solução possível para cada uma. Embora seja um impacto e tanto, o mercado com certeza saberá dar a volta por cima, pois, mesmo que exista um risco de contágio, é forte o suficiente para continuar operando em benefício dos consumidores.
É possível que toda a confusão esteja relacionada com operações envolvendo o PLD. Este mesmo site publicou uma nota, no dia 19 de janeiro, dando conta que a tendência do PLD preocupava o mercado, pois está ocorrendo uma hidrologia extremamente atípica.
Janeiro, por exemplo, é o mês mais chuvoso no Sudeste e o PLD continuou subindo, quando deveria estar em baixa. Acontece que, com a seca, as hidrelétricas, em vez de estarem vertendo água, como deveria acontecer nesta época do ano, estão atravessando momentos de preocupação, pois as chuvas no Sudeste não vieram com a intensidade que historicamente deveriam ter.
Quando se olha para uma barragem de hidrelétrica, aquela água que está retida é muito mais do que um local para praticar turismo. Aquilo é energia pura, só que na forma de água. O valor do PLD é calculado com base no comportamento da hidrologia e da quantidade de água que chega aos reservatórios.
Muitos agentes, na hora de fechar contratos, naturalmente enxergaram PLD´s de valores mais baixos nesta época do ano, só que a realidade está sendo mais dura. Aparentemente, as surpresas do PLD estão por trás de toda a crise atual, que levou um agente à ruína, embora isto seja uma situação excepcional e não represente todo o mercado.
É preciso deixar claro que o mercado livre é muito maior do que isso.
Não é bom que uma empresa quebre, mas há agentes e agentes. Pode-se comparar com a situação dos bancos. Uma instituição pode ter problemas, mas o Banco Central sabe identificar exatamente até onde vai o alcance da confusão. Não significa que todos os bancos estejam com dificuldade.
Aliás, por coincidência, a associação dos comercializadores, a Abraceel, acaba de divulgar um estudo e os dados revelam que, embora um agente tenha sido infeliz nas suas operações, isso não compromete a saúde do mercado de forma global.
Segundo a Abraceel, citando dados até o final de novembro de 2018, em um ano o volume de energia elétrica de responsabilidade dos agentes de comercialização cresceu 37%, o que é um resultado extraordinário e demonstra que os consumidores estão animados com a perspectiva de serem livres.
Em 2018, o destaque foi para o mês de outubro, quando foram transacionados quase 70 mil MW médios, um recorde histórico absoluto e que só pode ser entendido como produto de extrema confiança no papel desempenhado pelos comercializadores.
“Os dados mostram como o mercado livre de energia, apesar de todas as restrições, é um dos segmentos mais pujantes entre os mercados brasileiros e a solução de competitividade para a economia nacional”, afirmou o presidente executivo da Abraceel, Reginaldo Medeiros.
Aliás, o próprio poder público também já enxerga dessa forma. Tanto que o Ministério de Minas e Energia, no apagar das luzes do Governo Michel Temer, liberou a Portaria 514, que reduz de 3 mil kW para 2.500 kW, a partir de 1º de julho de 2019, e para 2 mil kW, a partir de 1º de janeiro de 2020, o limite de carga para que consumidores, atendidos em qualquer tensão, possam participar do mercado livre.