Não ao eletroterrorismo
A Aneel estará cometendo um grave erro se não fizer nada diante das ameaças de morte endereçadas nominalmente a dois de seus diretores, André Pepitone e Rodrigo Limp, conforme divulgado pelo site “Paranoá Energia”.
Alguém poderá dizer assim: “São asneiras postadas clandestinamente por algum maluco”. Este site concorda integralmente que é maluquice pura. Só alguém que praticamente perdeu a razão e vive no mundo da lua é capaz de entrar no computador e escrever o monte de bobagens disponibilizadas por este site.
Só que existem dois detalhes que vale a pena destacar: 1. Terroristas são malucos; 2. O eletroterrorismo está em fase de crescimento no Brasil, ganhando espaço a cada dia.
Ninguém sabe quem postou todas aquelas ameaças homofóbicas e de morte contra os dois diretores. Uma das ameaças é contra o filho de um dos diretores. Uma investigação da Polícia Federal, que dispõe de recursos tecnológicos capazes de efetuar essas descobertas, talvez poderia chegar aos autores das ameaças.
Uma simples avaliação por parte deste site, que não é uma autoridade policial, mas tem um pouco de experiência no jornalismo investigativo, leva a três premissas que podem ser um ponto de partida para uma análise mais ampla de eventuais conexões: 1. Algumas palavras indicam que podem ter sido escritas por pessoas vinculadas a religiões conservadoras, dessas que hoje estão com a corda toda e ameaçam a sociedade com uma espécie de fundamentalismo; 2. Nas ameaças, há menção positiva ao nome de um deputado federal que há pouco tempo foi na agência e teve 15 minutos de fama ao falar um monte de besteiras durante a reunião semanal da diretoria colegiada da agência; 3. Embora este site não tenha destacado, em vários momentos as ameaças, nos seus delírios, têm caráter homofóbico.
É fundamental entender, nessa questão, que existe uma espécie de eletroterrorismo em curso. Pode-se perguntar à Aneel: seus diretores, assessores ou técnicos se sentem seguros, hoje, para ir a determinados estados para participar de processos de audiência pública? Provavelmente, não.
O eletroterrorismo tem crescido pouco a pouco e só não enxerga quem não quer. No início do ano passado, de forma mais branda, alguns integrantes da Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados, todos eles parlamentares de primeiro mandato e típicos representantes do Baixo Clero, tomaram algumas atitudes que foram interpretadas como prenúncio de alguma coisa mais grave. Ninguém deu bola para isso, pois se atribuiu à inexperiência desses parlamentares com o mundo congressual em um momento de início da legislatura.
Logo em seguida, propostas de avanço do setor elétrico, no âmbito do Congresso Nacional, passaram a ser torpedeadas por esse pessoal (até aí, nada demais, pois isso faz parte do jogo político e democrático). Alguns deputados, de forma discreta, em seguida, passaram a acompanhar as sessões públicas da diretoria da Aneel, até o momento em que se sentiram confiantes para, abusando das atribuições parlamentares, querer tutelar as reuniões, que são de caráter técnico.
Quando isso aconteceu, o site “Paranoá Energia” entrou de sola e fez uma matéria mostrando o posicionamento absolutamente antidemocrático e sem educação de um parlamentar, que aos gritos resolveu ofender a Aneel, seus diretores e corpo técnico.
Embora este site nunca tenha dado publicidade a respeito disso, o que só o faz agora, considerando que a questão mudou de perspectiva, o fato é que o diretor responsável deste site, depois dessa matéria, recebeu de seis a oito mensagens, não apenas com críticas, mas também com ameaças à liberdade de imprensa.
Entretanto, como as mensagens deixaram de ser enviadas para o “Paranoá Energia”, foram simplesmente deletadas, considerando que eram apenas um monte de lixo.
É interessante recuperar o assunto, pois pode existir uma conexão entre as ameaças (não de morte, mas à liberdade de imprensa) feitas ao “Paranoá Energia” e as ameaças, estas sim de morte, que agora foram feitas aos diretores da Aneel.
Tudo isso mostra uma pobreza de espírito extraordinária. Provavelmente, é um caso para psiquiatras. Então, este site convida o setor elétrico como um todo a refletir sobre tudo isso, pois não se pode menosprezar o poder do eletroterrorismo.
O que era simples fundamentalismo foi ganhando corpo e agora mudou de patamar. Isso está, sem dúvida, vinculado a uma forma conservadora de se ver o mundo, à vontade de querer resolver tudo na porrada e ganhar no grito, e ao espírito, digamos, de milicianos, que aparentemente está fazendo escola e envolve todas essas atitudes autoritárias e à margem da lei.