A eleição para o CA da CCEE
O empresariado brasileiro trabalha de uma forma que às vezes é difícil de entender. Adora, por exemplo, dizer que ao Estado não cabe opinar em determinadas situações que são exclusivas da área empresarial. Isso tem sido uma verdade há anos e anos. Quando o Estado, por alguma razão, mete a colher de pau em assuntos específicos da área empresarial, a repercussão é imediata.
No entanto, na próxima segunda-feira, de 30 de março, às 10 horas, está agendada uma reunião através de plataforma online entre o secretário de Energia Elétrica do Ministério de Minas e Energia, Rodrigo Limp, e seu secretário-adjunto, Domingos Andreatta, para discutir exatamente o que? Para discutir a indicação de um novo conselheiro da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), uma escolha que cabe à categoria Consumo dos agentes da CCEE.
Dessa reunião eletrônica estão previstas as participações de Paulo Pedrosa, presidente da associação dos grandes consumidores industriais de energia, a Abrace, e Reginaldo Medeiros, presidente da associação dos comercializadores, a Abraceel. Estes dois nomes da área empresarial são justamente aqueles que falam em nome da categoria Consumo. Na assembleia, votam os agentes que são consumidores industriais e comercializadores.
Há alguns dias, conforme já foi noticiado por este site, a Abrace e a Abraceel chegaram ao entendimento que um nome de consenso para ocupar a vaga da categoria consumo seria o de Marcelo Loureiro, da associação dos autoprodutores de energia, a Abiape.
Então, a pergunta que não quer calar é a seguinte: se cabe à categoria Consumo indicar o nome que vai representá-la no próximo Conselho de Administração da CCEE e se esse nome já está escolhido, qual é a razão que levará os dois executivos ao MME, para discutir com o Governo a indicação de um nome para a CCEE que é exclusivamente da responsabilidade da categoria? Este site não está querendo encontrar chifre na cabeça de cavalo. É uma questão relevante.
O site “Paranoá Energia” não pode, obviamente, adivinhar o que vai acontecer na reunião eletrônica da próxima segunda-feira. Mas tem uma desconfiança. Eleições para a escolha de conselheiros da CCEE têm mostrado, quase sempre, uma enorme vontade do Governo, via MME, de atravessar o samba, trabalhar nos bastidores e usar o seu poder de pressão para que seja eleito um nome que não é aquele pelo qual os agentes trabalham. Isso já aconteceu várias vezes, inclusive com o próprio Marcelo Loureiro, na assembleia que escolheu uma conselheira como representante da categoria Mercado.
Naquela oportunidade, o Governo, através da Eletrobras, manobrou fortemente nos bastidores e foi eleita uma senhora que até conhece alguma coisa do setor, mas que não era o nome que os agentes queriam. Por uma série de razões, que não vale a pena repetir aqui, Loureiro foi preterido em favor dessa senhora. Aliás, foi uma eleição histórica, pois junto ao Governo, bem alinhados, trabalharam alguns agentes que traíram a escolha da categoria e preferiram apoiar um nome por razões absolutamente provincianas.
Será que a traição vai comer solta novamente? Será que o Governo vai se envolver e na hora da assembleia vai tirar um outro nome da manga da camisa e enfiar pela goela abaixo dos agentes? Vale a pena acompanhar os desdobramentos dessa reunião de segunda-feira.