Chega de jogo de empurra
Há poucos dias, em conversa com os comercializadores de energia elétrica, o senador Marcos Rogério (DEM/RO) demonstrou entusiasmo ao dizer que tentará colocar na pauta, em agosto, a proposta que resolve de vez o problema mais imediato do setor elétrico brasileiro, que é o risco hidrológico, mais conhecido pela famosa sigla GSF.
Segundo as contas feitas pela associação dos comercializadores, a Abraceel, no dia 10 de julho o jogo de empurra em relação ao tema já existia há exatos 1.892 dias. Uma vergonha.
É verdade que trata-se de uma questão polêmica. Este site sabe que existem interesses empresariais gigantescos envolvidos. Mas é para isso que os eleitores elegem congressistas e líderes do Executivo: para tomar decisão. Não para ficar empurrando com a barriga.
O pior de tudo é que antes se argumentava que algumas questões dificilmente seriam resolvidas no atual exercício, devido ao período eleitoral no segundo semestre. Aí veio a pandemia do coronavírus para dar uma ajuda na dificuldade das autoridades para decidir alguma coisa. Não é verdade que a pandemia seja a culpada por tudo.
O fato é que, apesar do entusiasmo do senador Marcos Rogério (políticos, de modo geral, são muito entusiastas quando encontram determinados públicos para discutir questões relevantes) há sérias dúvidas se o problema do GSF será resolvido até ao final de 2020.
A pandemia fez um estrago razoável em todas as áreas, inclusive nas agendas tanto do Senado Federal quanto da Câmara dos Deputados. E as eleições municipais, que serão realizadas no final do ano, injetam mais dúvidas no mercado.
Este site não quer jogar no time dos pessimistas, porém sabe-se que as eleições municipais são cruciais no mundo político. Elas reforçam as posições dos partidos políticos em relação ao futuro, que, no caso, são as eleições gerais de 2022, quando muita coisa estará em jogo.
Embora a maioria das pessoas se lembre apenas do cobiçado cargo de presidente da República, em 2022 também serão eleitos os integrantes das duas Casas do Congresso. No caso do Senado, apenas uma parte. Então, aquele deputado federal e senador que aspira uma reeleição precisa se envolver de corpo e alma nas eleições municipais deste ano, mas olhando para 2022. Ninguém quer perder o direito ao tapete vermelho e à boa vida de Brasília. A coisa mais importante na vida de qualquer político é a próxima eleição.
Enquanto isso, a área de energia vai amassando barro com as suas pendências pela frente. Há também o PLS 232, que trata da modernização do setor elétrico, estabelece a portabilidade da conta de luz e amplia o chamado mercado livre. O relator, aliás, é o próprio senador Rogério.
Além disso, este site observa que, no início de julho, representantes de várias associações pressionaram o Ministério de Minas e Energia com vistas à aprovação do projeto de lei do gás.
Esse é outro caso em que existem fortes divergências empresariais. O Governo ouve os argumentos de um lado, ouve de outro lado e fica em cima do muro, filosofando. Enquanto isso, o tempo passa.
O senador de Rondônia, na mesma conversa, mostrou uma visão positiva e acha que até o final deste ano se resolve tudo.
Pode ser até que se resolva, mas é melhor ficar com um pé atrás. É verdade que existe uma janela de oportunidade, mas só mesmo um milagre fará com que três assuntos tão polêmicos entre as empresas, com interesses estratégicos e financeiros enormes, sejam resolvidos nos relativamente poucos dias de atividade legislativa que haverá até o final do ano, considerando a necessidade de envolvimento dos congressistas nas eleições municipais.