Solução do GSF veio a passo de tartaruga: 1.926 dias
A aprovação, pelo Senado Federal, em 13 de agosto, do acordo que resolve o problema do risco hidrológico e destrava o chamado mercado de curto prazo, induz automaticamente a uma reflexão.
Dirigentes públicos e congressistas precisam ter um pouco mais de responsabilidade no desempenho de suas funções. Afinal uma conta atualizada diariamente pela associação dos comercializadores de energia, a Abraceel, indica que, exatamente no dia da aprovação do Projeto de Lei 3975, de 2019, o tempo em que o assunto ficou enrolado, engavetado, sem solução, enfim, somou 1.926 dias.
Não está se falando aqui de 19 dias ou 190 dias e, sim, de 1.926 dias. Ou seja, durante cinco anos e meio o mercado de curto prazo ficou praticamente travado, pois as suas excelências do Governo e do Congresso foram incapazes de cumprir suas obrigações e simplesmente deixaram o tempo correr.
Enquanto suas excelências não faziam o que tinham que fazer, que era apenas cumprir suas obrigações, quem tinha a receber no MCP não recebia e quem tinha a pagar não pagou. A soma dessa brincadeirinha alcançou a bagatela de R$ 8,7 bilhões. Para as autoridades, esse valor não passa de uma soma de dados da contabilidade da CCEE, mas para as empresas que tiveram as suas atividades bagunçadas, o significado é bem diferente.
Algumas autoridades, sorridentes, comemoram o fato, como se seria possível comemorar alguma coisa. Não há nada a comemorar. Ao contrário, há apenas que se lamentar que levou-se o tempo de 1.926 dias para se tomar uma decisão. Para quem ainda não entendeu o que é o tal do Custo Brasil, este é um exemplo simples e pedagógico.
As sorridentes autoridades precisam entender apenas que apenas cumpriram as suas obrigações e, ainda assim, com considerável atraso. Levaram, aliás, um tempão para fazê-lo. Mas, com enorme lentidão, praticamente a passo de tartaruga, conseguiram, enfim, encontrar uma solução para o risco hidrológico.
Este site não cumprimenta nenhuma autoridade pela aprovação do Projeto de Lei. Ao contrário, se solidariza com todos aqueles agentes que tiveram seus balanços e rotinas diárias afetados pela má vontade e lentidão do Poder Público, principalmente do Congresso Nacional.
Esse mesmo “espírito público” está por trás da falta de decisão quanto à proposta de modernização do setor elétrico brasileiro e a ampliação do setor elétrico e até mesmo da nova lei do gás. Oxalá, nesses casos não se chegue também a 1.926 dias.
Espera-se que a questão do GSF faça cair a ficha e que as sorridentes autoridades alterem os seus péssimos hábitos e cumpram as suas obrigações de outra forma, pois só assim vão conseguir recuperar credibilidade junto à sociedade.