O modelo energético de Biden
Pode-se falar o que quiser da democracia americana. É verdade que ela tem defeitos. Um deles é terrível: permitir que um cidadão compre armas em qualquer quantidade, como se vai ao supermercado para se comprar fralda descartável. Este é um problema que os americanos precisam ainda enfrentar e não tiveram coragem para fazê-lo.
Um dos aspectos mais extraordinários da democracia americana é a fiel observância da rotatividade do Poder, dentro da norma principal que é quem ganhar, leva. Aquele país não é uma brincadeira em que um picareta diz que ganhou a eleição e quer simplesmente melar o resultado. Não é assim que funciona.
Este editor está fazendo um breve preâmbulo apenas para dizer como deve ser bom viver em um país em que um psicopata desqualificado como Donald Trump perde no voto e é obrigado a ceder o espaço para um estadista chamado Joe Biden.
Agora, apenas poucos meses depois de empossado, Biden, conforme havia prometido na campanha, dá um cavalo de pau na economia americana e coloca as suas cartas na mesa. Ele não só quer apagar todo o desastre que foi a gestão Trump, como quer implementar um novo modelo energético, totalmente lastreado nas energias renováveis e na proteção do meio ambiente.
Enquanto o antigo presidente, com a sua monumental empáfia e arrogância, como se fosse imperador do Planeta Terra, teimou durante quatro anos em brigar com a História, Biden, na sua simplicidade que esconde a esperteza de grandes políticos, percebeu que o negócio não era exatamente esse e que os Estados Unidos estavam no caminho errado. A visão correta do momento histórico estava na China e na Alemanha, que, há vários anos, entenderam que era preciso cortar alguns laços com o passado e investir numa economia verde.
A Alemanha, que possuía 17 usinas nucleares, em um passo corajoso iniciou um programa de desativação dessas termonucleares. Hoje, ainda existe meia-dúzia em atividade, mas é apenas questão de tempo. O programa alemão não se limita apenas a alterar a matriz energética. Nos últimos anos, a Alemanha tem investido fortemente na produção de tudo o que existe de mais moderno no campo da economia verde: tecnologia para veículos elétricos, produção de biogás, eletricidade gerada por plantas solares e eólicas.
Não podemos esquecer que a Alemanha é um país que vive de exportações. Assim, as representações diplomáticas alemãs espalhadas pelo mundo, inclusive no Brasil, estão dotadas de pessoal qualificado para vender aos outros países o melhor da tecnologia alemã no campo da economia verde.
O plano do presidente Biden é baseado numa premissa relativamente simples: ele quer investimentos numa economia que produza energia limpa. Essas baixas emissões farão com que possa se colocar um freio no aquecimento global.
Joe Biden percebeu que os americanos estavam por fora, ao persistir em investir numa economia baseada em combustíveis fósseis. Mas mirando para outro país, no caso a China, Biden entendeu que os americanos precisavam mudar. Dentro de pouco tempo (4 anos? 5 anos?), a China assumirá o papel de maior economia do mundo, superando a americana.
Essa condição dos chineses não será obtida sem sacrifício e criatividade. Hoje, a China dispõe de reservas cambiais da ordem de 3,2 trilhões de dólares (atenção leitores, é isso mesmo) e com todo esse dinheiro ela está mudando o mundo e aplicando o seu “soft power”.
O que deixou Biden e sua equipe preocupados é que a China já lidera em todos os campos da economia verde: turbinas eólicas, módulos fotovoltaicos, armazenamento de energia, veículos elétricos, rodovias inteligentes e por aí vai. A China vai se tornar o país de maior PIB do mundo ao mesmo tempo em que a sua tecnologia verde invade países em todos os continentes. Isso significa mais vendas, mais fábricas produzindo na China, mais renda para os trabalhadores.
O evento internacional que o presidente Joe Biden acaba de organizar é extraordinário, pois mostra como os países mais poderosos do mundo ainda enxergam nos Estados Unidos um parceiro responsável, condição que tinha deixado de existir nos quatro anos da alucinação produzida por Donald Trump. Só puxa-sacos igualmente despreparados enxergavam méritos em Donald Trump. Biden não olha apenas para as mudanças climáticas, o que é muito relevante, mas também está de olho nesse novo modelo energético.
Durante a sua gestão, Trump deu sinal verde para aproveitamento de gás natural em áreas de ambiente extremamente frágil. O “fracking” deitou e rolou na era Trump, mas já tinha tido a mesma exposição durante o Governo Obama. O “fracking” sem dúvida foi uma mancha na gestão Obama e que Trump apenas consolidou.
Tudo indica que o presidente Biden em algum momento vai colocar um freio no “fracking”, corrigindo o desastre ambiental permitido por Barak Obama.
É preciso acompanhar com atenção de agora em diante e perceber como vão reagir, no campo energético e da proteção ambiental, os filhotes de Donald Trump que existem ao Sul do Rio Grande. O presidente Jair Bolsonaro certamente está encalacrado. Além de ter feito campanha para Trump, fez todas as apostas erradas em relação ao meio ambiente. Desestruturou os órgãos de controle e fiscalização, incentivou a destruição provocada pelo garimpo, permitiu o desmatamento em larga escala na Amazônia e não protegeu as reservas indígenas.
Na reunião virtual organizada pelo presidente americano, Bolsonaro fez um discurso que pouca gente levou a sério. Dias antes do discurso de Bolsonaro perante a comunidade internacional, seu desqualificado e arrogante ministro do Meio Ambiente foi alvo de uma queixa-crime formulada não por um político da esquerda radical, mas…por um delegado da Polícia Federal, que o acusou de proteger quadrilhas que provocam o corte ilegal de árvores.
Ainda temos muito chão pela frente, até entrarmos na mesma sintonia de Joe Biden ou da vice Kamala Harris. Mas os americanos deram um grande passo à frente e não apenas o Brasil, mas todo o Planeta Terra agradece.