É preciso melhorar o planejamento do SEB
A rápida expansão dos parques de energia renovável no Brasil (solar e eólica) começa a viver uma situação que, de certa forma, é um problema do bem, mas que precisa ser administrado com rapidez e racionalidade.
Quando a área empresarial percebeu que a energia renovável era a bola da vez, foi relativamente fácil mobilizar dinheiro de investidores interessados em apostar no novo filão. Isso aconteceu mundialmente e, no Brasil, não foi diferente. Os equipamentos ficaram mais baratos, as áreas técnicas aprenderam a lidar com as novas fontes de geração e a regulação acompanhou o desenvolvimento disso tudo.
Foi uma explosão. Na região Nordeste, a energia renovável a cada dia bate recordes de geração, o que é muito bom para o País e o meio ambiente agradece. Dezenas de projetos solares e eólicos estão em fase de desenvolvimento e construção e a expectativa é que toda essa energia limpa brevemente seja injetada na rede. Só que tem um gargalo, que se chama transmissão.
Ao mesmo tempo que o Brasil assiste à expansão da energia renovável, também tem crescido a rede de transmissão. Só que num ritmo mais lento e já existem casos em que algumas plantas de geração solar ou eólica não conseguem escoar a produção para a carga, o que é um absurdo. Afinal, mostra um enorme erro de planejamento.
Em plena crise energética, o ONS está sendo obrigado a cortar a geração de geradoras eólicas durante a madrugada, por restrição de transmissão. O que acontece na prática? Uma geração valiosa está escorrendo pelo ralo, o que tecnicamente se conhece como “constrained-off”, mas os geradores eólicos recebem assim mesmo pela energia produzida. É irracional e altamente prejudicial aos consumidores, mas acontece e não é de hoje.
“Nestes casos, a geração vai para o lixo e nós é que pagamos esse desperdício. O ONS calcula o valor e joga para o ESS. As eólicas, por exemplo, não perdem. Mas alguém tem que pagar. E quem paga é o consumidor, como sempre”, reclamou um especialista em conversa com este site.
O fato é que existem outras situações no meio do caminho nesse descompasso entre geração solar e eólica e linhas de transmissão. Montar as usinas dá um trabalho danado, mas é bem menos do que construir uma linha de transmissão.
É preciso muito chá de erva doce para acompanhar de perto, diariamente, o desenvolvimento e construção de uma linha de transmissão. É uma alucinação, pois é preciso enfrentar obstáculos de toda ordem: sítios históricos ou arqueológicos, rios, matas, montanhas, tribos indígenas, quilombos, plantações de soja, canaviais, atraso na entrega das torres e outros materiais, etc. E por aí vai.
A Alupar há poucos dias divulgou que está antecipando a entrega de três linhas de transmissão, ligando a Bahia ao Espírito Santo, e os números são consideráveis. Segundo a Alupar, em 975 km de linhas, foram utilizadas 21.333 toneladas de cabos condutores e 1.808 torres, com peso total de 32.024 toneladas. As subestações possuem ao todo 2.850 MVA em capacidade de transformação. Apesar de todas as dificuldades burocráticas e de logística, as três linhas foram concluídas antes dos prazos contratuais.
Entretanto, o caso da Alupar não é regra geral. Essas antecipações nem sempre ocorrem e a consequência inevitável é o gargalo na hora de escoar a geração.
Infelizmente, como se fosse parte da nossa cultura, o Brasil já está acostumado com esses eventuais descompassos. O ONS diz que a culpa é da EPE, a EPE diz que é da Aneel, a Aneel diz que é do MME e o MME diz que o responsável chama-se São Pedro. No final, chama-se o pobre do consumidor para pagar toda essa conta e vamos em frente.
Seria infinitamente melhor para todos nós se esses problemas não ocorressem. Contudo, em vários setores da economia brasileira o que se vê diariamente são apenas ilhas de eficiência. No setor elétrico, na realidade, existem algumas dessas ilhas e a contra-parte delas, que atende pelo nome de ineficiência ou de desperdício. Na prática, é o que se costuma chamar de Custo Brasil.