Cadê o conselho da Abraceel?
Durante os três dias do 13º Encontro Anual do Mercado Livre, que terminou neste sábado, em um resort localizado nas imediações de Salvador, vários participantes demonstraram curiosidade com a falta quase que total de conselheiros da associação co-organizadora do evento, a Abraceel.
Participou apenas a conselheira Camila Schoti. Ninguém viu lá os conselheiros Alessandro de Brito Cunha, Daniel Marrocos, Eduardo Diniz, Paulo Tarso, Paulo Toledo e Ricardo Motoyama. Nem mesmo o presidente do Conselho de Administração, Ricardo Lisboa, assinou o ponto no encontro.
Em conversa com este site, teve gente que viu nessas ausências apenas uma coincidência, ainda resquício dos momentos mais agudos da pandemia. Outras fontes acham que pode ter sido algo mais do que isso, mas não sabem explicar o que teria sido exatamente.
O fato concreto é que este é o evento em que a associação mais se envolve e foi criadora dele, junto com o Grupo Canal Energia. Durante anos, o encontro teve a presença maciça dos conselheiros da Abraceel.
Uma explicação talvez esteja na mudança geracional. Hoje, são conselheiros mais jovens, que têm obviamente a legitimidade dos seus pares, pois se submeteram à eleição direta e foram eleitos para o Conselho de Administração, seguindo as exigências do Estatuto Social. Só que eles não viveram a epopeia que foi criar esse mercado. Não têm a História do segmento junto com eles. E também em muitos casos não são os donos das comercializadoras e, sim, executivos contratados. Nestes termos, o Conselho teria perdido representatividade.
No passado, os conselheiros representavam integralmente o espírito pioneiro das mudanças que eram indicadas junto com a grande novidade que seria a adoção do mercado livre de energia elétrica. Nesse período, surgiram verdadeiras lendas do mundo executivo desse segmento do setor elétrico.
Mesmo sabendo o que significa correr o risco que é esquecer o nome de alguém, o site Paranoá Energia lembra de algumas “feras” que contribuíram com inteligência, muito trabalho e ousadia para criar o mercado: Paulo Cezar Tavares, Walter Froés, Walfrido Avila, Paulo Cesar Fernandes da Cunha, Chico de Lavor, Cristopher Vlavianos, João Carlos de Abreu Guimarães, Mário Luiz Menel da Cunha, Renato Volponi Lício, Luiz Maurer, Ricardo Lima, Oderval Duarte, Paulo Pedrosa e Rubens Takano Parreira.
Também é possível citar os nomes de Marco Antônio Sureck (hoje na Echoenergia), os irmãos Cláudio e Valmor Alves (da Electra), Rodrigo Albuquerque Mello (da Kroma), Claudio Monteiro (que tem enorme história como operador do mercado financeiro e de energia elétrica, tendo participado das comercializadoras Coomex e Matrix), Gustavo Machado (que ainda está firme no mercado, através da Nova, um dos patrocinadores do encontro, por sinal) e Mikio Kawai Jr (que começou a vida de comercializador numa pequena sala alugada e hoje tem múltiplos interesses na área de energia elétrica, inclusive a geração).
É verdade que alguns já não estão na atividade, outros não estão no Brasil. Mas pioneiros como Walfrido, João Carlos, Cláudio Alves e Menel estavam lá no evento. Curiosos como crianças, interessados ainda em saber a direção para onde o mercado está querendo se dirigir. O que ninguém entendeu mesmo foi a ausência daqueles que eventualmente continuam no mercado e, mais do que isso, ocupam posição no Conselho da Abraceel.
A associação tem um equilíbrio político delicado que é feito com muita sensibilidade. Não é fácil conduzir a política interna da Abraceel e isso ocorre no nível do Conselho de Administração. Algumas pessoas acreditam que essas ausências representam um sinal que precisará ser decodificado a partir de agora, principalmente considerando que a associação está atravessando um momento de transição entre os seus executivos.
Depois de muitos anos à frente da Diretoria-Executiva, o economista Reginaldo Medeiros cederá o seu lugar ao jornalista Rodrigo Ferreira. Ambos possuidores de ótimas credenciais, capacidade de trabalho e que dispensam apresentações. Resta saber se o Conselho de Administração estará à altura dos desafios que se apresentam para o mercado livre de energia elétrica, principalmente a necessidade de compatibilizar a ansiedade com a expansão do mercado e a necessidade de aumentar as exigências de garantias e salvaguardas nas operações do dia a dia.