Energia é mercado de ficção
Em uma recente reunião entre a empresa de consultoria contratada e comercializadores de energia, uma das conclusões é mais antiga do que o rascunho da Bíblia. Trata-se de uma questão sobre a qual os próprios operadores do mercado vêm refletindo sobre isso há muito tempo. Eles sabem disso no dia a dia das suas operações. Ninguém precisa dizer isso para os agentes.
Curiosamente, eis o que diz o último relatório que a associação dos comercializadores, a Abraceel, enviou às empresas associadas, após a mencionada reunião:
“Os associados também pontuaram que o estudo poderia se aprofundar na melhoria dos dados de entrada e na qualidade da informação. Na visão de alguns, são muitos dados de vazão, chuva, cota e carga que são medidos diariamente, mas sem confiabilidade. Dados falhos e que carecem de consolidação antes de serem entregues implicam no gasto de muito tempo e esforço para reconstrução de dados. Os associados concordaram que com dados de entrada ruins, continuaremos a ter respostas ruins dos modelos. Por isso, uma depuração dos dados de entrada é uma etapa inevitável na modernização dos modelos e que pode ser uma solução quick-win, com baixa complexidade e alto custo-benefício”.
A questão é muito simples de se entender e não é preciso ser um gênio para se compreender dessa forma.
Se você tem uma máquina para moer cenoura e, em vez de cenoura, você coloca nabo na máquina, a distinta vai moer nabo e não cenoura. Depende apenas do que você vai colocar na máquina.
É o que acontece com os programas computacionais, que sempre dispõem de dados ruins na entrada. Por isso, a resposta desses modelos, nestes casos, só pode ser equivocada, o que leva a constantes correções e provocam inúmeros transtornos entre os agentes.
O Brasil é um País magnífico, ninguém duvida. Entretanto, uma das características do povo brasileiro é a enorme dificuldade para se tomar decisões. Aqui, fica-se viajando e dando voltas, entra ano e sai ano, com workshops, infindáveis reuniões, seminários, comissões, etc, tudo para camuflar o principal, que é o medo de tomar as atitudes que precisam ser tomadas quanto ao mecanismo de formação de preços da energia elétrica.
Uma delas consiste em enterrar esses modelos computacionais, que são belas peças matemáticas, provavelmente até metafísicas, mas de valor duvidoso, substituindo-se pelo entendimento direto entre vendedores e compradores de energia na hora de comprar e vender.
De certa forma é triste dizer isto, mas enquanto existirem esses programas computacionais dando as cartas, sob absoluto controle do MME, ONS, CCEE e Aneel, é perda de tempo ficar falando em mercado de energia elétrica no Brasil. O que temos entre nós é uma espécie de ficção, meio parecida com o mercado, mas que não é o mercado. É só uma brincadeirinha, do tipo para inglês ver.