SEB é melhor que políticos
Algumas conquistas recentes de agentes do setor elétrico mostram claramente como existe uma indisfarçável falta de sintonia entre a vida política e a área empresarial no Brasil.
Isso não é novo e há muito tempo é motivo de reclamações da sociedade contra as lideranças dos partidos políticos. Agora, entretanto, talvez pelo fato de o País estar a menos de um ano de eleições gerais, inclusive para a Presidência da República, a questão assumiu uma dimensão poucas vezes vista. Tem muita coisa acontecendo com os políticos que é difícil de engolir. Eles precisam fazer uma autocrítica e corrigir os excessos.
Na semana passada, um empresário que está construindo uma hidrelétrica que terá capacidade instalada de 14 MW, disse a este site que o cronograma da obra está tão avançado, que a usina deverá gerar dois anos e meio antes da previsão original. “Acreditamos no Brasil, no nosso potencial de desenvolvimento e o País precisa de energia. Por isso estamos correndo com a obra”, afirmou o empresário.
Este é apenas um exemplo de vários casos que ocorrem no setor elétrico. Este site pode citar alguns.
A Neoenergia, por exemplo, acaba de iniciar a operação comercial da Linha de Transmissão Jalapão, LT 500 kV Miracema – Gilbués II – Barreiras II. Essa é, agora, a LT de maior extensão da companhia em operação, com 728 quilômetros passando pelos estados de Tocantins, Maranhão, Piauí e Bahia. A linha foi energizada com 15 meses de antecipação em relação à previsão do contrato assinado com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Da mesma forma, em comunicado ao mercado, a Alupar Investimentos informou que a sua controlada Transmissora Paraíso de Energia S.A. (TPE) foi colocada à disposição do Sistema Interligado Nacional 16 meses antes em relação ao cronograma definido com a Aneel, originalmente previsto para 09 de fevereiro de 2022. O empreendimento está localizado nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro e consiste na implantação da linha de transmissão de 500 kV Fernão Dias – Terminal Rio, com 330 km de extensão.
A mesma Alupar já havia anunciado que a Empresa Diamantina de Transmissão de Energia (EDTE) foi energizada com antecipação de 11 meses, enquanto a Transmissora Paraíso de Energia (TPE) também viabilizou as suas linhas 15 meses antes e a Transmissora Caminho do Café (TCC) 11 meses.
Essas três linhas de transmissão da Alupar formam um corredor espetacular, com 975 km de extensão, 21.333 toneladas de cabos condutores e 1.808 torres, com peso total de 32.024 toneladas. As subestações possuem ao todo 2.850 MVA em capacidade de transformação.
A entrega desses empreendimentos bem antes do prazo revela claramente que, enquanto os partidos políticos se perdem num enorme blá-blá-blá inteiramente sem objetividade, discutindo coisas que só interessam a eles e não à sociedade, deixando transparecer os tamanhos dos egos das personalidades que comandam a política brasileira, a área empresarial está pouco ligando para as filigranas da vida política e investe pesado, pois o seu foco é outro.
Quem conhece os dois lados, sabe que as empresas nesse nível trabalham com planejamento estratégico, orçamentos definidos com rigor, preocupação com a qualificação da mão-de-obra e poderiam talvez fazer muito mais pelo País se houvesse um pouco mais de contribuição da classe política. Exemplo de proposta presa no Congresso Nacional: modernização do setor elétrico brasileiro. Ninguém consegue desenrolar.
Existem no Brasil uns loucos varridos (felizmente uma minoria) que defendem o fechamento das instituições (Congresso, tribunais superiores) e a imposição de restrições aos partidos políticos. O Brasil já embarcou nessa canoa furada de uma ditadura em 1964 e vimos no que deu. Durou 21 anos. As próprias Forças Armadas, que saíram totalmente chamuscadas dessa apropriação indébita do Poder, já fizeram uma análise dessa intervenção violenta no processo histórico e não estão dispostas a repetir a dose.
Tudo isto significa que a classe política precisa aproveitar a campanha que a partir de agora assumirá contornos mais nítidos, com a definição de candidatos em todos os níveis, para debater as questões nacionais com a sociedade de uma forma mais responsável. Os políticos precisam mentir e prometer menos. Também devem eliminar orçamentos secretos e melhorar a gestão pública.
A sociedade não é idiota como alguns pensam e saberá perfeitamente identificar, no dia da eleição, aqueles candidatos que estão efetivamente interessados em resolver as questões nacionais com seriedade e objetividade.
É para isso que servem as eleições. Nem sempre isso se consegue na totalidade, mas as urnas representam a melhor oportunidade para ejetar do processo políticos aqueles que apenas querem iludir os eleitores.
Várias práticas da classe política precisam ser aperfeiçoadas. Mas isso se faz através do voto e do diálogo. Quando se olha para o passado, é possível observar que houve um avanço, mas os políticos precisam fazer mais, inclusive tocar para a frente uma reforma política que reduza o número de partidos, evite o “toma lá, dá cá” e faça com que o trabalho político seja mais objetivo e tenha mais sintonia com aquilo que efetivamente o Brasil precisa priorizar, que é a geração de emprego e renda e a melhoria dos indicadores de proteção social.