Discurso das associações está repetitivo e cansativo
Chega a ser comovente e dá até vontade de chorar observar o empenho com que alguns segmentos do setor elétrico se esforçam, junto ao Congresso e à mídia, para impor seus pontos de vista que visam tão somente a manter determinados interesses econômicos.
Agora, por exemplo, algumas associações do setor elétrico se indignaram com uma MP aprovada na Câmara dos Deputados, alegando que as contas de luz poderiam encarecer cerca de R$ 10 bi para os consumidores. Veja a matéria de autoria da Agência Estado, publicada sob contrato por este site: “Parte do SEB reclama de MP aprovada”. Está na seção “O que se diz”.
Essa turma se especializou num chororô sem fim. Qualquer coisa que contraria os seus interesses econômicos torna-se prejudicial aos interesses do País. Isso de certa forma já está cansando e introduz alguma monotonia. Talvez seja melhor perguntar: “Interesses de quem, cara pálida?”
Esse mesmo grupo tem se batido há meses contra a expansão da malha de distribuição do gás natural no Brasil, sob a alegação que a forma de financiamento encontrada impõe custos para o SEB que vão implodir o País. Tremendo blá-blá-blá.
O fato é que está saindo uma riqueza extraordinária na forma de gás natural dos poços do pré-sal e o Brasil não apenas precisa, como tem a obrigação moral de aproveitar tamanha riqueza. Esse gás natural é que, distribuído por grande parte do país, vai mudar o nosso patamar de desenvolvimento econômico, beneficiando largas faixas da população. É lógico que ampliar a rede de distribuição custa caro e a grana tem que sair de algum lugar.
Agora, o mesmo grupo reclama que a MP aprovou um subsídio para o funcionamento de usinas de energia renovável, que vai custar R$ 10 bilhões.
É interessante observar que essa preocupação tem sido manifestada e na prática liderada pela associação que agrupa os grandes consumidores industriais de energia elétrica, a Abrace. Outras associações empresariais do setor elétrico se deixaram envolver passivamente por essa lorota e aprovam sem contestação o discurso do líder espiritual desse grupo do SEB.
Embora sempre atenta aos eventuais subsídios alheios, essa associação aparentemente se esquece dos seus próprios subsídios. Associados da Abrace com plantas industriais localizadas no Nordeste foram amplamente beneficiados por generosos subsídios de energia elétrica que vão até fevereiro de 2037.
A Abrace poderia se lembrar desse detalhe. Mas aparentemente, está ocorrendo algum probleminha de falta de memória dos dirigentes dessa associação.
Em outras palavras, o que está acontecendo no setor elétrico é apenas uma guerra de narrativas, não mais do que isso. Do tipo “quem gritar mais alto, leva”. Nada a ver com racionalidade econômica ou defesa dos interesses do País e muito menos dos consumidores em geral. Aliás, tem sim defesa de um segmento bem específico de consumidores. Apenas a velha defesa de interesses setoriais. Quando o subsídio é dos outros, pau na moleira. Quando é da gente, bom, aí é melhor desconversar e ir até a esquina chupar um picolé, pois está fazendo muito calor.