Mercado livre dobra de tamanho
O ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, assinou portaria que amplia o mercado livre e permite aos consumidores ligados na alta tensão usufruir dos benefícios proporcionados por esse segmento do mercado (Leia a manchete deste site).
É uma decisão que tem caráter histórico, queiram ou não os adversários do mercado livre, goste-se ou não de Sachsida. Nas contas do MME, 106 mil novos consumidores estão aptos a partir de agora para fazer a opção para serem livres, sem depender do suprimento das distribuidoras locais, que durante anos trabalharam contra a ideia.
Para se ter uma ideia do que representa a decisão do ministro, é preciso comparar com o quadro atual do ML, no qual já existem 30 mil unidades consumidores classificadas como livres. Outras 69 mil são elegíveis, mas não fizeram a opção para o ML e preferiram, por qualquer razão, permanecer no mercado cativo das distribuidoras.
Consumidores livres classificados como tal são pouco mais de 10 mil. Ou seja, o mercado livre (realidade mais potencial) a partir de hoje está simplesmente dobrando de tamanho. É uma excelente oportunidade de negócios para os agentes de comercialização, ao mesmo tempo que aumenta o tamanho da responsabilidade de cada um deles. A fase de amadorismo e aventureiros no ML já acabou há muito tempo.
O interessante nesse episódio é verificar que o ministro Adolfo Sachsida fez um gesto relativamente simples. Apenas pegou uma caneta, um papel com 13 linhas digitadas e, sem medo de ousar, assinou o seu nome. Simples assim. Ao mesmo tempo que se deve valorizar e destacar a atitude de Sachsida, não se pode deixar de perguntar por qual razão seus antecessores não o fizeram, já que a lei o permitia há muito tempo.
Por alguma razão vários queridinhos do SEB não assinaram uma portaria como essa. Enrolaram, enrolaram, enrolaram. Apenas enrolaram. Talvez por motivos políticos (o PT, vale lembrar, passou todo o seu período de governo lutando bravamente contra a ampliação do mercado livre e é muita cara de pau do seu principal ideólogo na área de energia vir a público, na véspera da eleição, dizer agora, que defende o ML).
Talvez tenha sido por apreço à burocracia e medo do que poderia vir pela frente. Ou então por mero enquadramento partidário, como fizeram os paus mandados de governos petistas que assumiram o MME sem ser vinculados ao partido.
O fato é que algumas pessoas deveriam esclarecer porque nunca assinaram uma portaria semelhante e preferiram se omitir e condenar o mercado brasileiro de energia elétrica ao atraso: Dilma Rousseff, Maurício Tolmasquim, Nelson Hubner, Edison Lobão, Márcio Zimmermann, Eduardo Braga, Fernando Coelho Filho, Moreira Franco e Bento Albuquerque.
Este site, que sempre apoiou o desenvolvimento do mercado livre, reconhece a importância da atitude política corajosa e cumprimenta o ministro Adolfo Sachsida. Embora com idas e vindas às vezes inexplicáveis, a CCEE e a Aneel também apoiaram o ML, de forma às vezes meio envergonhada. O ONS deveria fazer uma mea culpa e reconhecer que trabalhou contra durante a maior parte da sua existência.
Dobrar o tamanho de um mercado não é apenas o produto de uma canetada. Ao longo de mais de 20 anos, vários executivos ligados à associação dos comercializadores, a Abraceel, ou às empresas a ela vinculadas, trabalharam como formiguinhas, para que essa ampliação ocorresse e o Brasil finalmente esteja agora no caminho irreversível da liberdade total de mercado, igualando-se a outros países.
Enfim, com algum atraso estamos apenas dando ao consumidor de energia elétrica mais uma parcela do protagonismo e o respeito que ele merece. Que o consumidor de telefonia, por exemplo, já havia conquistado no final dos anos 90.
Nesse contexto, o site “Paranoá Energia” gostaria de destacar dois nomes que representam essa luta histórica dos comercializadores. O primeiro é Walfrido Avila, que criou a primeira comercializadora, a Tradener, assinou o primeiro contrato do ML e fundou a associação.
O segundo é Chico de Lavor, que não nasceu empresarialmente no setor elétrico. Ao contrário, veio dos mercados de commodities e de câmbio, mas se lançou de corpo e alma na edificação do mercado livre de energia elétrica e, com a sua energia pessoal, é um exemplo para muita gente, mesmo que alguns de seus negócios não tenham tido o sucesso esperado e ele hoje esteja no segundo plano. Mas tem uma história que não se pode negar.
Além de Walfrido Ávila e Chico de Lavor, dois empresários mais do que representativos dos primeiros momentos de pioneirismo do ML, este site gostaria de destacar outros nomes que contribuíram de alguma forma para edificar esse mercado: Paulo Cezar Tavares, Walter Froés, Paulo Cesar Fernandes da Cunha, Cristopher Vlavianos, João Carlos de Abreu Guimarães, Mário Luiz Menel da Cunha, Renato Volponi Lício, Luiz Maurer, Ricardo Lima, Oderval Duarte, Paulo Pedrosa, Marcelo Moraes, Marco Antônio Sureck, os irmãos Cláudio e Valmor Alves, Rodrigo Albuquerque Mello, Claudio Monteiro, Gustavo Machado, Mikio Kawai Jr e Rubens Takano Parreira, entre outros.
Alguns desses já não estão no mercado livre. O mais admirável na história empresarial de vários desses nomes é que resolveram apostar na novidade e começaram como comercializadores numa sala de 40 metros quadrados e uma secretária. Vendiam uma ideia que naquela época poucas pessoas sabiam o que significava. Hoje, depois de muita dedicação, sacrifício e incompreensão, dominam um negócio que vale bilhões, razão pela qual os bancos estão de olho nas oportunidades comerciais do ML.
A próxima etapa já está desenhada por Sachsida. No comunicado sobre o assunto disponibilizado na internet, o MME garante que “o próximo passo, de abertura total do mercado, permitirá o acesso de todos os consumidores de energia elétrica ao mercado livre. Em breve o tema será discutido em consulta pública específica para tratamento dos consumidores de baixa tensão. A iniciativa está em linha com a modernização do setor e com a premissa do MME de ter o consumidor como protagonista, sem a necessidade de criação de subsídios que distorçam o mercado”. Que assim seja.