CCEE x Abraceel: façam as pazes, senhores. O ML agradece
A falta de entendimento entre a associação dos comercializadores de energia elétrica, a Abraceel, e a CCEE, neste momento, é uma péssima notícia para todos aqueles que vivem a tão sonhada abertura do mercado livre.
Como mostrou a matéria publicada por este site (e que alcançou enorme repercussão, mesmo numa hora em que se fala apenas de Copa do Mundo e de troca de Governo), está faltando um pouco de juízo aos dirigentes dos dois lados.
É verdade que, visto sob a ótica dos comercializadores, não é mole ficar 20 anos esperando a abertura do mercado e, quando ela está para sair, um dirigente de outra associação faz uma manobra completamente demagógica e imbecil, embaralhando tudo no âmbito do Congresso Nacional.
Também não é culpa dos comercializadores se um Governo liberal na área de energia elétrica e totalmente afinado com o mercado livre perde a eleição e será sucedido por outro, que, em relação ao tema, pode-se dizer que no mínimo tem saudade da extinta União Soviética, odiando mercados em geral.
Mas é culpa da Abraceel, sim, dizer no seu relatório aos associados que a CCEE é um bando de malandros que desejam somente “tungar” a dinheirama ganha pelos agentes de comercialização.
Por sua vez, uma reclamação dos comercializadores é altamente procedente. A CCEE não pode, de repente, sugerir à Aneel que, para dar um jeitinho na conta do GSF, deveria tirar quase R$ 300 milhões dos comercializadores.
É lógico que a CCEE poderia esperar mais uns dias e perguntar assim ao pessoal do PT, que está reassumindo o Governo: “Escutem, vocês, que são uns gênios e que quebraram o setor elétrico brasileiro, com a MP 579, poderiam agora, quem sabe, consertar a porcaria que fizeram lá atrás. Talvez tenham uma boa ideia agora. Que tal?”
De fato, essa confusão do GSF é a cara do PT. No final de 2012, a presidente Dilma, que precisava desesperadamente se reeleger em 2014, queria reduzir os preços da energia elétrica na base da canetada. Mas o efeito foi o contrário, pois o risco hidrológico (GSF) estava na espreita e pronto para espetar uma conta de quase R$ 50 bilhões nos agentes.
Quando se olha no retrovisor, observa-se que, em 2013, as tarifas do SEB de fato caíram cerca de 20%. Dona Dilma foi reeleita em 2014, também com uma ajudinha de taxas de juros marotas. No ano seguinte, as tarifas do mercado elétrico explodiram e o castelo de cartas acabou desmoronando em 2016, com o desfecho que todos nós conhecemos.
No último balanço do Mercado de Curto Prazo, a CCEE reconhece que liquidou R$ 517 milhões nas operações referentes a outubro de 2022, de um total de R$ 1,65 bilhão contabilizado. Ou seja, no processamento, realizado mensalmente, a CCEE registrou R$ 940 milhões ainda represados por conta de liminares contra o pagamento do risco hidrológico (GSF, na sigla em inglês) no mercado livre.
É a forma mal conduzida como a CCEE pretende liquidar esses R$ 940 milhões que irritou os comercializadores, pois a Câmara quer imputar ao segmento a responsabilidade pelo pagamento de exatos R$ 282 milhões. De fato, até este editor, que é bobo, reclamaria se recebesse uma conta assim de hora para outra.
Todo mundo sabe que os seres mais inteligentes do planeta estão no setor elétrico brasileiro. É cada ego gigantesco. Neste caso, o que se vê claramente é que existe uma guerra de egos e que tudo pode ser resolvido com a velha e boa conversa.
Ninguém de verdade pode acreditar que a CCEE está a fim de acabar com a Abraceel ou com os comercializadores. Bobagem total pensar uma coisa dessas. Por outro lado, também é um enorme exagero o pessoal da CCEE achar que o o mercado deseja destruir a CCEE. Um precisa do outro.
Na realidade, a única pessoa que se conhece que gostaria de reduzir o tamanho da Câmara pela metade é o editor deste site, que é de opinião que a CCEE assumiu muitas funções que não correspondem as suas finalidades originais, seu custo é elevadíssimo e pago pelos consumidores, tem um quadro de empregados competente, mas caro, e poderia simplesmente se fundir com o ONS, outro organismo demasiadamente inflado do nosso setor elétrico. Mas este editor é apenas um idoso pensador, meio maluco, que não tem o poder de mexer nas estruturas do SEB.
Dito isso, seria mais do que oportuno que a CCEE e a Abraceel sentassem num banco de jardim e conversassem de uma forma, digamos, no mínimo mais respeitosa.
Poderiam tirar as suas diferenças de vários modos: cuspe à distância, palitinho, porrinha. Que tal um jogo de dados? O que não tem sentido é esse disse-me-disse, essa fofoca de comadres, enquanto os adversários do mercado livre, que não querem a abertura e detestam ouvir falar na sua expansão, assistem da janela, felizes com todo esse festival de intrigas inúteis.
Façam as pazes, senhores. Reflitam sobre isso. O mercado livre de energia elétrica no Brasil agradece.