A política mineira e o MME
Com mais de 120 dias do Governo Lula, o que se observa é que as coisas andam meio de lado na área de energia.
Goste-se ou não do atual Governo, o que não se pode negar é que até agora, como não tem tempo ainda para mostrar realizações, o Governo tem é muito gogó. Muito marketing. Puro marketing.
Só que são ações de marketing que causam confusão, principalmente porque confundem os agentes. Exemplos não faltam.
A preferida do presidente e seus seguidores mais radicais ao que parece é a privatização da Eletrobras, que o presidente considera uma bandidagem.
A empresa deixou de ser estatal, num ato jurídico perfeito, mas o Governo todos os dias vem com um discurso que já está cansando a respeito do mecanismo de transferência da Eletrobras à iniciativa privada. Seria oportuno mudar de disco. Ninguém aguenta mais, pois a eleição já passou faz uns meses.
O Governo durante algum tempo deitou falação contra a Petrobras, mas quando percebeu que, devido às ramificações internacionais, esse era um discurso perigoso, parou de falar no assunto na mesma velocidade com que investiu contra a estatal de gás e petróleo.
Em vez de ficar só no discurso, seria interessante conhecer o que o Governo deseja efetivamente para o mercado elétrico. É a favor da liberação do mercado? É contra? Ninguém sabe. O Governo na verdade não tem propostas e vai costurando no dia a dia, remendando aqui e ali, à medida que os fatos se sucedem.
Agora, por exemplo, o TCU deu uma paulada na cabeça do Governo, mostrando que a governança do setor elétrico não vale nada. É uma governança que, na verdade, não surgiu com o atual Governo, mas que o PT deu uma mãozinha para construir nas suas gestões anteriores. O que o Governo pensa sobre o assunto? Mistério total.
O que se sabe é que é que o Governo se elegeu sem propostas efetivas, naquela base de que era apenas contra “o que aí está”. O discurso colou na eleição. Só que essa política de terra arrasada pode ser boa para manter a militância acesa, mas necessariamente não é boa para o País. Esse é o “X” da questão.
Depois de causar enorme prejuízo ao País, ao empurrar com a barriga durante 100 dias as decisões sobre a formação da equipe do ministro Alexandre Silveira, no Ministério de Minas e Energia, o PT e seus partidos de apoio na coalizão agora não sabem o que fazer.
As questões são claras. O ministro Silveira não é petista. Como não é bobo, vai ocupando o espaço igual água, se equilibrando com competência nesse cipoal que é a coalizão de Governo. Só que, ao que se diz em Brasília, Silveira poderá ser um ministro de tiro curto, pois, embora conduza a Pasta com responsabilidade, seus olhos estariam voltados para a política mineira.
Tendo passado pelo Senado Federal e tendo perdido o direito à reeleição, todo mundo sabe que Silveira é um homem político por excelência e aprecia o jogo político. Suas constantes idas à região metropolitana de Belo Horizonte indicam que seus interesses poderiam estar voltados para a eleição municipal do próximo ano na capital mineira, quando seu nome certamente sairá forte na campanha.
Depois de 2024, seja o que Deus quiser. De todo modo, Alexandre Silveira hoje é um nome a se considerar em qualquer eleição majoritária no Estado, até porque a esquerda praticamente não tem quem a represente em alto nível.
É verdade que Lula venceu a última eleição em Minas, mas isso foi consequência de questões locais envolvendo o ex-presidente Bolsonaro. Na verdade, a esquerda está morta em Minas e para voltar a ter alguma expressão precisará fazer muita força.
Mesmo saindo vencedor para a prefeitura de Belo Horizonte, no próximo ano, Silveira ficará cacifado para o governo do Estado em 2026. É um nome em crescimento no Estado, até porque o senador Rodrigo Pacheco, atual presidente do Senado, não mostra muito fôlego.
Em Brasília, inclusive, já se diz que Pacheco ficaria muito contente com uma indicação para um tribunal superior, o que abriria espaço para Alexandre Silveira se transformar no nome que vai liderar uma ampla faixa de seguidores que por alguma razão não gostam do governador Romeu Zema, que é o outro líder de expressão no Estado, inclusive é candidato a presidente da República.
A política mineira durante algum tempo passou em alto estilo pelos corredores do Ministério de Minas e Energia, como foi nas épocas dos ministros Aureliano Chaves e Paulino Cícero.
Depois veio o ciclo da Bahia e em, seguida, o ciclo petista, em que Minas perdeu o protagonismo. Com Alexandre Silveira, embora esteja em um governo de coalizão com o PT, tudo leva a crer que a política mineira efetivamente volta a dar as cartas no MME.