O CVaR anulou o gol da Cpamp
Embora reconheça o empenho e a dedicação do pessoal que trabalha na Comissão Permanente para Análise de Metodologias e Programas Computacionais do Setor Elétrico, mais conhecida pela sigla Cpamp, este editor não consegue, por mais que se esforce, levar a sério essa história de preços do setor elétrico definidos por programas computacionais.
Talvez tenha sido uma boa iniciativa, há quase 30 anos, quando o SEB foi virado pelo avesso e o mundo estava ávido por mudanças tecnológicas. Mas hoje está claro que esses programas são apenas uma fantasia feita para enriquecer consultores e gênios matemáticos. Utilidade prática zero, confundindo aqueles que acreditam na beleza dos mercados e que consideram mais simples vender energia elétrica por tanto e comprar por tanto. Exatamente como a banana numa feira livre.
O pior de tudo é que o setor elétrico ficou refém desse monstrengo tecnológico e está difícil encontrar uma saída. Empurra-se com a barriga, criam-se novos programas, já se sabendo que qualquer novidade está destinada ao fracasso.
No dia 19 passado, este editor assinou um comentário no site “Paranoá Energia” (que algumas pessoas às vezes confundem e ligam prá cá perguntando se é do “Paranóia Energia” e o editor diz que sim, pois o nome é muito bom) dando conta de um workshop que a Cpamp realizou nesta quarta-feira, 28 de junho, para fechar as mudanças que pretende introduzir nos programas computacionais.
Este editor apurou que a reunião foi um desastre. Nada deu certo. Dizer que foi um show de horrores é pouco. E teve gente da própria Cpamp que reconheceu que a situação está feia mesmo, de vaca não reconhecer bezerro, de tanta inconsistência técnica que existe no novo modelo que está sendo proposto pelo Cepel.
Esta sigla esconde um ninho de gênios matemáticos que já deu o que tinha que dar, mas que ainda continua mandando no setor elétrico brasileiro mesmo depois da privatização da Eletrobras. Todo mundo ganhando muito bem, graças a Deus.
Pois bem, no dia seguinte à fracassada reunião da Cpamp, nesta quinta-feira a associação dos comercializadores de energia, a Abraceel, reuniu o seu grupo técnico e ficou decidido que, pela primeira vez, a associação deverá se manifestar frontalmente contra a implementação do chamado Newave Híbrido, que é o objeto da consulta pública em andamento e que foi o tema do workshop.
Os integrantes do GT da Abraceel concluíram que a proposta do governo representa um tiro no pé e que o processo de implementação sugerido pela Cpamp não está com nada.
Esses comercializadores não são idiotas a solta no mercado. Ao contrário, entendem como poucos como é esse negócio de comprar e vender energia elétrica. E têm um faro especial para perceber quando algo vai dar errado. Jogar dinheiro fora não é exatamente com eles.
Só que uma coisa é o reconhecimento da realidade pelos integrantes do chamado grupo técnico, que reúne o pessoal que bota a mão na massa. Outra coisa é o papel político da associação. Por uma dessas situações absolutamente contraditórias do mercado e que nunca foram bem explicadas, a Abraceel, como instituição, jamais foi fundo na crítica aos programas computacionais que formam os preços da energia elétrica. Sempre ficou ali, na periferia, dando uma no cravo e uma na ferradura. Às vezes fazendo uma crítica leve, mas sempre fechando com quem decide.
O fato que ninguém pode negar é que os comercializadores se acomodaram e se acostumaram a fechar os seus contratos utilizando a referência dos programas computacionais. Não podem agora, simplesmente, dizer que não sabiam. Ao contrário, sempre souberam que era assim, tipo uma peça de ficção.
Ao longo dos anos, a Abraceel sempre passou um pano nessa aberração e conviveu muito bem com os algoritmos engendrados pelos gênios matemáticos do Cepel e sempre corroborados pelos brilhantes consultores.
Há mais de 20 anos, a associação dos comercializadores tem feito vista grossa e só agora, pela primeira vez, talvez esteja se preparando para uma crítica frontal à Cpamp, embora há muito tempo saiba que esses programas são furados e que ficaram menos representativos ainda com a introdução de mudanças significativas na geração elétrica, com a entrada da energia solar, da eólica e da geração distribuída. Pensando bem, nunca é tarde para tomar uma decisão corajosa.
É triste dizer isto, mas ninguém sabe dizer hoje como se encontra o ponto de equilíbrio. Criou-se um monstro e ele é que manda no SEB.
Em tom de galhofa naturalmente, mas em tom profético, este site escreveu no dia 19 de junho:
“Se algum dia descer um disco voador na Esplanada dos Ministérios e dele sair um alienígena a primeira coisa que ele dirá será, considerando que são seres muito inteligentes e que conhecem todas as línguas do Planeta Terra: “Quero ir numa reunião da Cpamp. Tenho muito interesse em conhecer os programas de computador que definem os preços do setor elétrico brasileiro. Isso é muito revolucionário e queremos aplicar essa metodologia no nosso planeta. Somos uma civilização avançada, mas não conseguimos ainda chegar no nível da Cpamp, do Cepel e dos gênios matemáticos brasileiros que criaram os programas”.
A turma da Cpamp está por aí, meio desesperada, procurando soluções para os programas computacionais. Tem apelado direto aos gênios do Cepel e às consultorias técnicas, que alimentam esse mundo dos programas computacionais que formulam os preços do setor elétrico.
Resta saber se algum homenzinho verde, perdido na imensidão do Universo, ainda está interessado em saber o que a Cpamp tem a dizer. Se até a Abraceel, que foi sua aliada firme, está pulando fora do barco, não será um alienígena qualquer que vai resolver o problema.
Os homenzinhos são verdes, mas não se deve menosprezá-los, pois são pragmáticos. Não gostam muito de ficção.
O troço tá feio.