A bola está com o ONS
O ONS já admitiu, através de nota (veja a manchete deste site) que está operando o sistema no modo segurança, de forma conservadora. O objetivo é claro: evitar novos apagões no curtíssimo prazo, que possam deixar o Governo em dificuldades políticas.
Afinal, o ministro Alexandre Silveira está cortando um dobrado por ter associado o apagão à privatização da Eletrobras e também por ter chamado a polícia. O que ele menos quer no momento é mais confusão na forma de um segundo apagão para chamar de seu.
Pode acontecer o que for na esfera política, mas praticamente ninguém do setor elétrico que acompanha o sistema, em Brasília, acredita que o ONS, neste momento, vai diminuir a guarda e sacrificar a confiabilidade. É a sua credibilidade que está em jogo.
Por mais que o Governo queira mandar (e manda) no Operador, seus técnicos não pretendem jogar o nome da instituição no buraco. E simplesmente farão o que precisa ser feito, como indicam os manuais de Engenharia Elétrica. Quanto aos políticos, bem, eles que esperneiem, façam o Diabo, mas aguentem as consequências.
Nesse contexto, acredita-se que o ONS vai reduzir a injeção na rede de energia elétrica gerada por eólicas e usinas solares, para a proteção do próprio sistema. Entre os especialistas do setor elétrico, existe a convicção que as fontes intermitentes de energia são em grande parte responsáveis pelo apagão.
E, ao fazer isso, o ONS vai ouvir o que não quer, pois o Céu vai cair na cabeça dele na forma de pressões de todos os lados, originárias de empresários e políticos. Ninguém quer ver a sua usina fora do sistema, principalmente agora que o Governo e todo mundo se gaba que as energias renováveis vão salvar a Humanidade.
Empresas sempre têm aliados fiéis à disposição dentro do Congresso para fazer discursos e fustigar aqueles que contrariem seus interesses.
Não se trata apenas de tirar usinas eólicas e solares do planejamento imediato da geração. É preciso pensar no amanhã e no que essa decisão pode significar em termos de expansão do sistema elétrico brasileiro através de eólicas e solares. Tem um mundão incalculável de dinheiro sendo canalizado para projetos dessas duas fontes e como ficam essas expectativas de negócio? Esse apagão aplicou uma rasteira em muita gente.
Alguns mantêm a cabeça fria e entendem que existem soluções para isso, sem precisar deixar os executivos do setor elétrico paralisados pela emoção. Uma ideia consistiria em alterar os mecanismos de proteção do sistema elétrico, de modo que ele sofra menos os eventuais impactos provocados por eólicas e solares na geração diária. Isso é algo que pode ser adotado circunstancialmente, não para sempre, pois comprometeria a credibilidade do ONS.
Dando razão ao velho ditado no sentido que as crises geram oportunidades, também existem especialistas que encontram uma solução para o problema atual do SEB no simples aumento das exportações de energia elétrica para o Cone Sul.
Hoje, as exportações estão travadas, pois a energia brasileira está sendo vendida ao preço de geração térmica, mais ou menos R$ 250,00, quando o PLD vale R$ 60,00. Lá fora ninguém é otário e não compra mesmo, pois qualquer negócio precisa sempre ser bom para as duas partes, a que vende e a que compra. E o preço lá fora também está baixo, pois as expectativas de inverno forte não se confirmaram.
Nesse contexto, o Brasil poderia aumentar as exportações, simplesmente reduzindo o preço da nossa energia a ser vendida para Uruguai e Argentina e alinhando mais o preço da energia a ser exportada com o que pensa o mercado comprador. O resultado seria óbvio, na forma de aumento de divisas. É uma ideia que está sendo colocada na mesa. Não tem relação direta com o apagão, mas contribui para que o Brasil tenha mais receita cambial, o que é uma causa nobre.
O fato é que está todo mundo agitado. Ideias surgem de todos os lados e o apagão exacerbou esse estado de espírito. Tudo no SEB, hoje, converge na direção do ONS. Escanteado pelo ministro de Minas e Energia, o Operador está na dele.
Mas precisará tomar decisões técnicas difíceis nos próximos dias, que poderão turvar o seu horizonte político. Uma fonte comentou com este site que não gostaria de estar na cúpula do ONS neste momento, tendo que agradar a gregos e goianos. Qualquer que seja a decisão da Operação, alguém vai chiar.
Muita emoção nos próximos dias no SEB.