O ML cresce e faz História
O setor elétrico brasileiro viverá um momento histórico logo na virada de 2023 para 2024, quando quase 13 mil empresas estarão aptas à migração para o mercado livre de energia elétrica, de acordo com comunicados já feitos às distribuidoras que as atendem hoje.
É uma mudança e tanto e todos aqueles que são defensores do mercado livre estão na expectativa desse momento, pois ele representa mais um passo significativo na luta que tem sido implantar e consolidar o mercado livre no Brasil.
Segundo informações prestadas pela associação dos comercializadores de energia, a Abraceel, desse total quase 12 mil unidades consumidoras (94%) são consumidores de menor porte, com demanda menor de 500 kW, beneficiadas pela Portaria 50/2022.
Será um momento histórico, fruto do trabalho de muita gente. Dezenas, talvez centenas de pessoas que trabalharam com dedicação até agora para que o mercado livre desse esse salto.
É difícil destacar nomes, pois muitos contribuíram para que se chegasse ao momento atual. Um deles seguramente é o ex-ministro de Minas e Energia (governo Bolsonaro), Adolfo Sachsida, que num belo dia pegou a caneta e simplesmente tomou uma atitude que foi solenemente evitada por todos os seus antecessores durante 20 anos.
A Portaria 50/2022, do Ministério de Minas e Energia, concedeu o direito de escolher o fornecedor de energia elétrica a todos os consumidores do Grupo A, composto por aqueles que são atendidos em média e alta tensão, a partir de janeiro de 2024. Simples assim. Com uma Portaria, Sachsida permitiu que quase 13 mil consumidores se incorporassem ao mercado livre. Parabéns, ministro Sachsida. O Sr mostrou coragem política, sensibilidade e determinação. Não ficou no nhem-nhem-nhem que caracterizou seus antecessores.
A Abraceel lembrou há poucos dias que, antes da Portaria 50/2022, apenas consumidores com demanda maior do que 500 kW estavam autorizados a migrar para o mercado livre de energia, no qual fornecedores e consumidores negociam bilateralmente as condições do fornecimento, como prazo, fonte da energia, preços, flexibilidades e outras facilidades, produtos e serviços. Agora, os de menor porte poderão participar também do mercado livre de energia.
Se Sachsida foi o nome na área institucional, este site gostaria de lembrar que, no mundo dos comercializadores, muita gente contribuiu para se chegar ao momento atual.
Impossível citar todas essas pessoas. Mas, por uma questão de Justiça, o site “Paranoá Energia” entende que merecem ser lembrados dois nomes que representam a ideia maior de mercado. Dois nomes que representam dezenas que trabalharam para que isso pudesse acontecer.
O primeiro seguramente é Walfrido Avila, presidente da comercializadora Tradener. Hoje, a Tradener é a cabeça de um grupo vigoroso, que conta com geração hidráulica, eólica e térmica a gás, entre outros negócios.
Mas, na segunda metade dos anos 90, quando ninguém sabia o que era mercado livre de energia elétrica, coube a Walfrido Avila a coragem e o pioneirismo de largar um emprego público, acreditar numa ideia, pegar uma pastinha e sair praticamente de porta em porta de potenciais clientes, oferecendo um produto (a energia livre) do qual ninguém sequer ouvira falar.
Tempos duros. Avila não desistiu, apesar das dificuldades. Não apenas continuou a correr atrás de clientes, como também fez muito para ajudar a edificar o arcabouço legal do mercado livre, pois nem mesmo os técnicos do governo, da Aneel, do MAE (hoje CCEE) e do ONS sabiam do que estava sendo falado.
Num ritmo que é historicamente impossível de ser igualado, Avila criou a primeira comercializadora (a Tradener), assinou o primeiro contrato com um consumidor livre (a Carbocloro) e foi o motor que resultou na criação da Abraceel, da qual, aliás, foi presidente nos primeiros tempos.
Outro nome que o “Paranoá Energia” faz questão de lembrar é Francisco de Lavor. Hoje fora do mercado, por circunstâncias de negócios, Chico, como é mais conhecido, é uma figura emblemática do mercado livre.
Antes de trabalhar com energia elétrica, ele construiu a sua vida empresarial nas áreas de commodities agrícolas, câmbio e mercado de capitais. Quando surgiu a ideia do mercado livre de energia elétrica, ele a “comprou” imediatamente, pois percebeu que havia uma lógica naquela história de transformar a energia numa espécie de mercadoria, da mesma forma que o ouro ou os produtos agrícolas.
Numa época em que, tirando meia-dúzia de pessoas que tinham noção de mercado, a área de energia elétrica era totalmente dominada pelos eletrossauros, coube a Chico injetar entusiasmo diariamente na Abraceel, mostrando que o novo mercado era factível e possuía enorme potencial.
Se hoje o ML é a potência que é com certeza deve isso também a Chico de Lavor e este site faz questão de reconhecer a sua importância, mesmo que depois ele tenha tido problemas empresariais que o afastaram da atividade.
“Esse avanço, que é muito positivo, deve ganhar ainda mais velocidade quando as medidas de simplificação do processo de migração que estão em fase de análise forem efetivas. Isso trará um grande e benefício para os consumidores interessados em migrar ao mercado livre de energia”, disse Rodrigo Ferreira, atual presidente-executivo da Abraceel, que hoje comanda o espetáculo.
O mercado livre não está isento de problemas. Um deles é aceitar passivamente a existência de preços da energia elétrica formados por programas de computador. Agindo assim, fica uma ideia que existem operadores que simplesmente não sabem fazer preços para comprar e vender energia elétrica. E se apegam comodamente ao conforto do preço feito pelo computador. Existem várias contradições, que serão tratadas em outro momento.
Aqui, este editor se orgulha de, numa outra encarnação, ter dado uma modesta contribuição à consolidação e expansão do mercado livre. Faz este registro no “Paranoá Energia” com orgulho e cumprimenta não apenas Walfrido Avila, Chico de Lavor e Rodrigo Ferreira, aqui citados, mas todos os que de alguma forma têm participado ao longo dos anos desse esforço notável de modernização do setor elétrico brasileiro através do mercado livre.