Sinais desanimadores
Embora já esteja mais prá lá do que prá cá, este editor ainda conserva alguma lucidez. E nessa faixa estreita do pensamento, arrisca-se a dizer publicamente que anda desanimado com os sinais que o Governo emite na área de energia.
A Petrobras está totalmente entregue à vontade das lideranças sindicais de petróleo e gás. Elas dão a palavra final na principal estatal brasileira. Embora timidamente vale lembrar que o Governo anterior havia avançado um pouco em relação à privatização da empresa, processo que já foi totalmente enterrado pelo atual Governo.
Na área de energia elétrica, o Governo não esconde que gostaria de reverter a privatização do segmento de distribuição. É verdade que algumas concessionárias não têm contribuído em nada para ajudar a defesa da iniciativa privada na área, mas esses eventuais escorregões não invalidam o processo. Servem até para aperfeiçoar as mudanças introduzidas no SEB na década de 90. O Governo tem uma visão oposta.
A área de defesa dos consumidores no Ministério da Justiça, que é uma espécie de trezoitão cano curto apontado para as empresas brasileiras, anda impaciente e já alegou que está investigando o SEB, com vistas à cassação das concessões de distribuição. Deus Pai.
Em Minas Gerais, a Cemig corre o risco de ser federalizada, ou seja, tchau privatização. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que tem óbvios interesses eleitorais no Estado, não esconde de ninguém que gostaria de ver a Cemig sob o guarda-chuva da sua Pasta.
Não é necessário ser um gênio para adivinhar o que Silveira pretende fazer com uma Cemig federalizada, uma proposta maluca que encontra eco em muita gente boa que oferece apoio ao presidente Lula.
Aliás, não é apenas a estatal mineira que corre perigo. Toda a área de distribuição está na corda bamba, pois o Governo — como já mostrou no Amapá — não esconde que gosta desse negócio de controlar contas de luz de consumidores, que são eleitores e que por isso mesmo rendem votos. Investidores estrangeiros, há anos no Brasil, estão querendo cair fora da energia elétrica, pois já sabem o que pode vir por aí.
Os sinais preocupantes não são apenas esses. O complicado Governo Bolsonaro, que sempre pareceu a este editor mais perdido do que cego em tiroteio (não tem jeito, pois o chavão é o que melhor explica a ideia), conseguiu milagrosamente produzir dois ótimos resultados na área de economia.
Um foi a independência do Banco Central. A nossa inflação no ano passado foi de apenas 4,69%, contra 211,2% na Argentina, a título de comparação, e poucas pessoas foram tão atacadas pelos militantes petistas (presidente Lula à frente) quanto o presidente do Banco Central.
Agora que a inflação foi derrubada, fica todo mundo pianinho, fazendo cara de desentendido. Sumiram os valentões de plantão que atacavam diariamente o presidente do BC. Eles, os políticos, acreditam piamente que o Palácio do Planalto e o Ministério da Economia controlaram a inflação.
O segundo resultado foi justamente na área de energia, na relativamente curta gestão (apenas sete meses) do ministro Adolfo Sachsida à frente do MME. Sachsida teve a coragem suficiente de escancarar o mercado de energia elétrica como ninguém tinha feito antes. A milhares de consumidores está sendo dada a oportunidade, a partir deste mês, de ingressar no mercado livre e escolher o supridor de energia elétrica. Ponto para o ex-ministro.
Ele não parou por aí: atacou a parte tributária que impactava as contas de luz e os preços dos combustíveis nas bombas. Através de mudança na Constituição, aprovada no Congresso, derrubou uma série de interesses de governadores, que sempre jogaram contra os consumidores de energia elétrica e combustíveis. Lula e seu povo atacaram fortemente essa decisão do Governo anterior. Bom, eles também atacaram o Plano Real. Então,…
Como a atividade política se caracteriza sobretudo pelas atitudes mesquinhas em relação ao que foi executado pelos dirigentes que saíram do Poder, Lula, empossado, tratou logo de fuzilar essas realizações de Sachsida. Investiu e tem investido pesadamente contra o mercado livre.
Este editor não tem qualquer dúvida que na primeira vez que ocorrer algum problema de suprimento no atual processo de abertura do ML, o Governo petista virá com força para dizer: “Não falamos que ia acontecer?” E vai tentar melar o jogo, pois não faz outra coisa, desde 2003, quando o presidente Lula iniciou a sua primeira gestão.
O Brasil é um país curioso, pois em certos momentos gosta de andar para trás. Na área de energia, os sinais são evidentes: os atuais dirigentes do País estão doidos para reviver o passado, reestatizando, manipulando contas de luz à procura de votos, enfim, tomando uma série de decisões infelizes que aparentemente já havíamos superado.
Só aparentemente. Porque o atraso está por aí, vivíssimo da silva e pedindo passagem.