A Enel e a apatia das autoridades
A Agência Estado, que, sob contrato, disponibiliza conteúdo de informação para o site “Paranoá Energia”, distribuiu o seguinte texto na manhã desta quinta-feira, dia 28 de março:
“A Rua Paim, na região central de São Paulo, voltou a sofrer com falta de eletricidade na noite desta quarta-feira, 27. Imóveis residenciais e comerciais ficaram às escuras, e moradores tentaram organizar um panelaço em protesto.
A rua ficou sem luz em vários momentos na última semana, e a concessionária Enel, responsável pelo fornecimento de eletricidade, chegou a instalar geradores. A eletricidade havia sido restabelecida na terça-feira, 26.
Após o novo apagão, na noite desta quarta-feira, a Enel informou que “equipes da distribuidora estão no local trabalhando para identificar a causa da falha na rede subterrânea que afetou o fornecimento de energia em um trecho da Rua Paim”.
A companhia informou que seguirá com equipes atuando na rede subterrânea “até restabelecer o serviço para todos os clientes”.”
Este site já emitiu a sua opinião várias vezes a respeito dos serviços prestados pela concessionária Enel, em São Paulo, e não vai ficar aqui gastando tempo com essa empresa. Como se diz na roça, lá no interior de Minas, é mais ou menos como chover no molhado. Haja paciência com a Enel.
Este site, entretanto, gostaria de voltar a uma questão associada à Enel, que é a total apatia do Estado (leia-se MME e Aneel) em relação ao trabalho da Enel.
É difícil tentar entender por qual motivo a agência reguladora e o ministério não fazem absolutamente nada com mais vigor em relação à concessionária de São Paulo. É, ao mesmo tempo, inexplicável e revoltante. Aparentemente, a Enel tem a certeza da impunidade e faz o que quer em São Paulo. Deita e rola.
Todo mundo está careca de saber que, se um empreendedor de PCH, por exemplo, deixa de encaminhar determinado documento à Aneel dentro do prazo estipulado pela agência, esse empreendedor está lascado. A fiscalização da Aneel vai prá cima, multa, faz o diabo. Fala grosso e é uma truculência total. Apenas por causa de um papel cuja entrega atrasou alguns dias.
Alguém sabe dizer o que leva a Aneel a tratar um agente de um jeito e outro agente de outro jeito? Com esses empreendedores de PCH a Aneel é uma espécie de cão chupando manga. Com a nossa querida Enel, a Aneel é toda paciência, cheia de nhem-nhem-nhem, paz e amor. Enquanto isso, o consumidor de São Paulo está sofrendo com o atual concessionário. Se você é hipertenso e tem que subir 15 andares pela escada, o problema é seu.
É possível que o lobby esteja comendo solto em torno da agência para não punir a Enel. Porque é óbvio que não basta multar, como a Aneel já fez. Ou divulgar uma nota oficial, como o ministro Alexandre Silveira.
O “Paranoá Energia” é um site pequeno, dirigido ao público especializado. Não tem notícias de futebol e nem mulher pelada. Seus leitores são contados às centenas e não aos milhares, pois este editor também se recusa a turbinar a audiência e a embarcar no blá-blá-blá das chamadas redes sociais.
Mesmo sendo pequeno, o “Paranoá Energia” tem sofrido a ação dos lobbies a favor da Enel. Basta sair alguma coisa no site e logo liga alguém superpreocupado com a velha conversa: você está sendo injusto com a Enel; a Enel tem feito um bom trabalho, mas opera em condições adversas; a Enel é isso; a Enel é aquilo. Só coisa boa, querendo fazer a cabeça deste editor, que é um idoso muito chato e desconfiado.
Ninguém que faz lobby em favor da Enel tem coragem de dizer que a empresa italiana, em 2023, apresentou um lucro líquido pequenininho, apenas um troco, de 3,44 bilhões de euros, contra 1,68 bilhão de euros em 2022.
Esses números dizem respeito à Enel como um todo no mundo. Seria muito interessante se a Enel viesse a público para abrir os seus livros contábeis e informar quanto as operações em São Paulo impactaram o resultado global da empresa, positiva ou negativamente.
Ora, se os lobistas não tiram o olho do “Paranoá Energia”, atentos ao que sai sobre a Enel, é possível imaginar que eles também estejam como urubus rondando o MME e a Aneel.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, soltou uma nota oficial sobre a Enel e ficou nisso. A Aneel permanece na sua olímpica indiferença. Além da empresa italiana, vale lembrar que as autoridades do setor elétrico já contam com outro abacaxi para descascar, que é a Amazonas Energia, uma distribuidora igualmente cheia de problemas.
Filosoficamente, os governos controlados pelo PT não gostam de tomar atitudes contra as distribuidoras. Isso está na gênese da gestão do PT, em 2003. O professor Maurício Tolmasquim, hoje diretor de Renováveis da Petrobras, sempre advogou a tese que as autoridades precisam, antes de tudo, proteger as distribuidoras, a ferro e a fogo, pois é através dela que entra o dinheiro do setor elétrico brasileiro. E que depois é repartido.
Então, se isso ainda está valendo, embora Tolmasquim esteja hoje vivendo no exílio dourado da Petrobras, não haverá uma solução para a Amazonas Energia e tampouco para a Enel. As autoridades não farão absolutamente nada, a não ser tomar atitudes cosméticas, para enganar a opinião pública.
Os consumidores que se cuidem e tenham um bom estoque de velas ou lamparinas em suas casas. Ou então que sejam supridos por energia de geradores portáteis, como ocorre em São Paulo.
Para quem não sabe, esses geradores têm sido utilizados em larga escala em países que vivem situações de guerra, como Somália, Sudão ou a Faixa de Gaza, onde os sistemas elétricos foram bombardeados. Algumas ruas em São Paulo estão vergonhosamente vivendo na mesma situação. Mas os acionistas da Enel, lá em Roma, estão muito felizes com certeza.