Silveira e os amigos do rei
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, foi no mínimo pouco republicano na audiência concedida a um grupo de deputados federais de São Paulo, na quarta-feira, 10 de abril, quando apresentou em seu gabinete uma síntese das ações que o MME vem aplicando sobre a concessionária Enel, que atua no Estado.
Esse tipo de reunião, em geral, é típico de Governo. Não há nada extraordinário no fato de um ministro apresentar a deputados federais o que a Pasta está realizando em relação a determinado problema em determinado Estado.
Entretanto, neste caso específico, o ministro teve um comportamento estranho, pois todos os sete congressistas recebidos pelo ministro Alexandre Silveira pertencem ao PT (5) e ao PSol (2), por coincidência integrantes da bancada federal paulista.
Com um agravante: além de não ter qualquer outro representante de qualquer outro partido, sentou-se ao lado de Sua Excelência, para sair bem na foto, o deputado Guilherme Boulos, que é o candidato do governo à prefeitura de São Paulo.
“Por cerca de uma hora, o ministro fez uma explanação aos deputados sobre as complexidades e desafios do setor elétrico e falou sobre as medidas que estão sendo tomadas. Entre elas, está o endurecimento dos critérios de qualidade, tanto da frequência das ocorrências, quanto da duração das ocorrências no processo de renovação das distribuidoras de energia elétrica”, diz um comunicado do MME distribuído através da internet, com uma foto do ministro e os congressistas.
“Nós estamos preparando medidas severas para a ampliação da qualidade do serviço e da distribuição no país, que vão permitir critérios mais rígidos na prestação dos serviços aos consumidores. Exemplos disso são os índices de qualidade tanto da frequência das ocorrências, quanto da duração das ocorrências, bem como uma regionalização da avaliação dos índices de desempenho, sempre com o objetivo de prestar um serviço adequado não só à população, mas também criar as condições para o crescimento do país, tão necessário para combater as desigualdades”, afirmou Alexandre Silveira, como revelou o mesmo comunicado.
Os episódios envolvendo a concessionária Enel, em São Paulo, são dramáticos, pois envolvem direitos de consumidores (que quase sempre são eleitores) que foram ignorados pela empresa. Na última terça-feira, inclusive, a diretoria da Aneel confirmou uma multa de R$ 165,8 milhões devido à baixa qualidade dos serviços prestados pela Enel.
Tem uma questão que não pode ser ignorada: o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, que se transformou num grande crítico da Enel e tomou iniciativas oficiais pedindo a caducidade da concessão da empresa italiana, é candidato à reeleição. E disputa com quem mesmo? Com o deputado Guilherme Boulos, que é o queridinho do Palácio do Planalto na eleição marcada para o final deste ano.
Além da questão Boulos/Nunes, que é uma briga eleitoral que já está pegando fogo, parlamentares de outros partidos, fora do PT e o PSol, também têm interesse no assunto. Não foram lembrados para a reunião.
Este editor já tem mais de 70 anos de idade e não precisa mais votar em ninguém. Não pode, portanto, ser acusado de estar querendo beneficiar este ou aquele candidato.
Não custa observar que o ministro Alexandre Silveira normalmente é cauteloso ao tomar as suas decisões. Não fez nada de errado ao receber apenas deputados do PT e do PSol, inclusive Guilherme Boulos. Entretanto, a sua atitude foi estranha.
É lógico que poderia ter sido mais generoso e mais republicano recebendo eventualmente outros congressistas e talvez até o próprio prefeito Ricardo Nunes, para ninguém ficar pensando, de forma equivocada, que ele queria beneficiar apenas aqueles que são mais amigos do Rei.