Alexandre Silveira também gosta do culto à personalidade
Quando se trabalha durante muitos anos, em Brasília, na cobertura das iniciativas do Governo Federal, uma das primeiras coisas que os jornalistas aprendem é como é difícil para as autoridades resistirem à tentação do culto à personalidade.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, também está sendo vítima dessa idiotice, sem que ele mesmo seja um idiota. Ao contrário, tem sido um ministro correto e trabalhador, atuando dentro das limitações que a ação política permite.
Agora, por exemplo, o Ministério de Minas e Energia disponibilizou em sua homepage, na internet, um documento de 22 páginas, exaltando o alinhamento total da Pasta a uma iniciativa histórica do Partido dos Trabalhadores denominada “Planejamento Estratégico Participativo”.
É até irônico. Durante os 100 primeiros dias de gestão do Lula 3, as lideranças do PT fizeram o que era possível para derrubar Silveira, que pertence ao PSD e entrou no Governo numa composição estranha do seu partido. Em São Paulo, o PSD dá total apoio ao governador Tarcísio de Freitas, que é um aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Só que o tempo foi passando e, decorrido um ano e meio do Lula 3, Alexandre Silveira foi suficientemente competente para se enturmar com os companheiros do PT. Hoje é amigo fraterno do ministro da Casa Civil, Rui Costa, um dos que queriam derrubá-lo no início de 2023.
Na Esplanada dos Ministérios, analistas políticos são praticamente unânimes em reconhecer que, hoje, Silveira é visto como um “homem do partido”, mas não do seu partido, o PSD, mas, sim, do PT. Inclusive chegou a presidir uma reunião técnica no MME, com especialistas do setor elétrico, vestindo uma elegante camisa vermelha. Parecia até o Nicolás Maduro, presidente da Venezuela.
Esse namoro de Silveira com o PT é uma circunstância da política. O ministro faz o que pode para agradar ao presidente Lula, à primeira dama Janja, e às principais lideranças nacionais do partido, pois ele sabe como é difícil se manter no Poder, principalmente nesse verdadeiro ninho de cobras criadas chamado Esplanada dos Ministérios.
O que não falta é gente boa de olho grande no cargo de Silveira no MME, querendo a sua vaga. Sua dificuldade é maior ainda porque ele é de um partido minoritário da coalizão que sustenta o Lula 3.
Apesar disso, o ministro Alexandre Silveira talvez poderia tomar alguns cuidados básicos e evitar o culto à personalidade.
Quem se der ao trabalho de abrir o arquivo do tal “Planejamento Estratégico Participativo” vai levar um susto, pois, logo na segunda página, há uma bela foto colorida do ministro, ocupando quase todo o espaço. Não tem nada escrito, sequer um texto-legenda. Apenas a foto, na qual o ministro não dispensou uma elegante gravata vermelha, numa alusão sutil ao seu neopetismo.
Autopromoção não chega a ser um pecado. É apenas de mau gosto. Não combina com a personalidade de Alexandre Silveira, que se esforça para ser elegante.