Falta visão estratégica para o GN
Nos anos 50, quando decidiu construir a rodovia Belém-Brasília, o então presidente Juscelino Kubitschek ouviu as maiores barbaridades contra a obra: “Não tem significado econômico”, “Uma rodovia que vai ligar o nada ao lugar nenhum”, “Dinheiro jogado fora”. E por aí vai.
Sobre a construção de Brasília, então, nem se fala. JK foi obrigado a ouvir um monte de bobagem. Enfim, um discurso impiedoso contra a nova capital, movido pela oposição ao seu governo, que só diminuiu depois que os militares deram o golpe militar, em 1964, no Jango, e tomaram a decisão estratégica de confirmar Brasília como capital federal.
Este editor não acha qualquer graça no que aconteceu depois de 1964, mas é preciso reconhecer que aqui é inegável que é ponto para os militares. Não se pode negar a História.
Anos depois, quando se construiu a hidrelétrica de Itaipu, também houve oportunidades para as mesmas vozes pessimistas se levantarem contra a usina. O discurso só não teve maior amplitude porque a ditadura militar estava vivendo os seus melhores momentos e as críticas foram gerenciadas da forma como os regimes duros costumam fazer.
O site “Paranoá Energia” está trazendo essas recordações da história contemporânea brasileira para dizer que falta visão estratégica aos dirigentes do País nas discussões sobre o gás natural. Faltam políticos que possam olhar para o futuro e que não estejam preocupados apenas com o dia de hoje. Enfim, estamos falando de visão de futuro, como teve o presidente Juscelino e também tiveram os militares, é preciso reconhecer. O Brasil vai muito mal quando se trata do planejamento no longo prazo.
Alguém pode imaginar o Brasil sem a Belém-Brasília hoje? Ou alguém ainda tem a coragem de dizer que sem a construção de Brasília o País teria hoje o aproveitamento da enorme riqueza gerada pelo Centro-0este? Ou alguém não acha que se não fosse a energia gerada pela usina hidrelétrica de Itaipu provavelmente boa parte do País não teria garantia de suprimento de energia elétrica?
Os políticos atuais não são dotados da coragem cívica de Juscelino Kubitschek, que, apesar das críticas, tocou para a frente a construção da rodovia Belém-Brasília e da nova capital federal, entre outros projetos extraordinários que caracterizaram a sua histórica gestão.
Da mesma forma, é de se elogiar a determinação do regime militar em construir a hidrelétrica de Itaipu, com a ressalva que, naquela época, a oposição estava amordaçada. E ainda havia a oposição da Argentina, que temia que suas terras poderiam ser inundadas se um dia as comportas da usina fossem abertas.
Estes comentários são necessários face à falta de visão estratégica que se observa hoje no País em relação à interiorização da rede de distribuição de gás natural.
Antes o nosso gás natural era produzido em pouca quantidade, o que levou o Brasil, inclusive, a firmar o acordo de importação do gás boliviano. Mas, com a exploração do petróleo e gás natural na região do pré-sal, o Brasil dispõe agora de uma riqueza que não pode ser ignorada e nem desperdiçada.
Então, já está passando da hora de fazer aquilo que a Argentina já fez há muito tempo, que é aumentar a sua rede de distribuição de gás natural, fazendo com que o insumo deixe de ser distribuído apenas nas áreas mais próximas do litoral brasileiro.
Está na hora de levar o gás natural para dentro do Brasil, aproveitando uma riqueza econômica extraordinária que a Natureza nos reservou. Com o gás natural espalhado por aí, o Brasil seguramente será outro. Só não vê quem não quer.
Só que existem aqueles que só olham para o próprio umbigo e trabalham contra. Defendem seus interesses empresariais, mas que, neste caso específico, não são os mesmos interesses do Brasil como Nação.
Houve uma surpreendente associação entre empresas que atuam fortemente na área de mineração (portanto, agressoras do meio ambiente) e institutos que defendem o meio-ambiente. Todos unidos, sabe-se lá como, contra a expansão da rede de gás natural no Brasil. E tem gente que acredita nesse blá-blá-blá.
Dentro do Congresso Nacional e junto à mídia atua um forte lobby empresarial formado por empresas que, num passado relativamente recente, se beneficiaram de pesados subsídios em favor da energia elétrica por elas consumida. Espertamente, ficaram quietinhas e estão ainda gozando do subsídio há muito tempo, em contratos de longo prazo. Como diz o ditado, pimenta nos olhos dos outros é refresco.
Hoje, esse lobby tenta barrar a expansão da rede de distribuição de gás natural pelo interior, sob o argumento que isso impactará as contas de luz dos consumidores. Ou melhor, as contas dessas empresas. Dizem que são subsídios contrários aos interesses do País, mas não falam dos seus próprios subsídios.
Nenhuma dessas empresas, na realidade, pensa no desenvolvimento do Brasil e nos benefícios que o uso do gás natural poderá proporcionar ao processo econômico, na medida em que ele seja espalhado pelo País.
De forma egoísta, essas empresas pensam unicamente nas suas contas de luz e no quanto têm de pagar no final de cada mês. Em outras palavras, de que forma seus acionistas serão ou não impactados nas respectivas rentabilidades dos seus negócios.
Essas situações precisam ficar bem esclarecidas para que não pairem dúvidas a respeito de quem está a favor e contra o desenvolvimento do Brasil.
O site “Paranoá Energia” não tem qualquer dúvida que aqueles que jogam contra a interiorização da rede de distribuição de gás natural, usam de artimanhas linguísticas apenas atrasar o desenvolvimento.
E a parte da classe política que aceita esse jogo apenas mostra que não tem visão estratégica em relação ao País e aceita o lobby passivamente, sem discutir os seus argumentos em profundidade.
O espírito de JK poderia iluminar esses congressistas que olham para a História de forma míope. É importante incorporar a visão estratégica que tinha JK nos anos 50 na discussão atual do gás natural. E deixar de cair no conto do vigário de empresas que deliberadamente falsificam a História apenas pensando nos seus balanços.