Na distribuição, é possível investir, atender clientes e ganhar dinheiro
O decreto recém-anunciado que vai balizar a renovação das concessões das distribuidoras de energia elétrica é mais uma tentativa para tentar colocar um pouco de ordem na confusão. O “Paranoá Energia” torce para que dê bons resultados.
O contexto, entretanto, mostra claramente que o Governo está cheio de dedos e não sabe direito o que fazer com as distribuidoras, considerando as empresas super-poderosas que estão por trás delas, muitas delas de capital internacional.
Na visão deste site, não há qualquer problema no fato de o País ter um sistema de distribuição baseado em empresas privadas e inclusive controladas por capitais externos. O que precisa ser feito é não deixar essas distribuidoras à solta, fazendo o que bem entendem. Elas simplesmente não podem fugir das metas contratuais que assumiram para atender bem a base de consumidores.
É fundamental que elas saibam que podem ganhar honestamente o seu dinheirinho no Brasil, mas é preciso ficar atentas para o atendimento aos consumidores. Não é possível fazer como uma enorme distribuidora de atuação global, que comprime conscientemente seus gastos de manutenção no Brasil, deixa os consumidores aos deus-dará e quando sai o balanço da empresa, lá fora, o lucro é de alguns bilhões de euros. Isso não tem qualquer graça.
Uma vez o controlador de uma distribuidora pensou em vender a empresa. Procurou um consultor e a resposta foi a seguinte: “Você está doido. Numa distribuidora, o dinheiro pinga no caixa todos os dias. Você só tem que ajustar as suas contas. Distribuidora não se vende, e, sim, se compra”. Esta conversa foi relatada ao editor deste site pelo consultor. É verdade que tempos depois, por uma questão meramente familiar, envolvendo herdeiros, a empresa foi vendida.
No mercado, entretanto, algumas pessoas desconfiam que controlar uma distribuidora, hoje, não é bom negócio no Brasil, face a forte intervenção do Governo no dia a dia desse tipo de empresas, comprimindo a rentabilidade.
Ao mesmo tempo, o mercado de distribuição revela que tem gente habilidosa que sabe ganhar dinheiro com a distribuição de energia elétrica, mantendo relações corretas com os seus consumidores.
Uma dessas empresas é extraordinária, pois tem uma história de 100 anos no mercado de distribuição. Mesmo sendo uma pequena empresa surgida no interior, resistiu à pressão da estatização que existiu durante a ditadura militar e a família dos fundadores manteve o controle da distribuidora. Após a redemocratização, saiu por aí comprando distribuidoras falidas e hoje forma um enorme grupo focado basicamente em distribuição, possuindo também alguma geração.
Um outro grupo surgiu mais recentemente, a partir da tentativa de investidores de diversificar os seus negócios, que, até então, estavam concentrados no mercado financeiro. Esse grupo aproveitou a oportunidade de investidores estrangeiros que se cansaram de perder dinheiro numa distribuidora do Nordeste e comprou a concessão pelo preço simbólico de R$ 1,00, assumindo as dívidas. Estas foram renegociadas e jogadas para a frente, o que foi relativamente fácil para quem vinha do mercado financeiro. A empresa foi saneada.
Esse grupo de investidores não teve medo do contexto social em que ia operar, com grande volume de consumidores de baixa renda. Mesmo assim, a empresa foi saneada com rigor, investimentos foram feitos e os investidores se transformaram num grupo que hoje controla distribuidoras em vários estados. Milagre? Não. Apenas trabalho com inteligência e eficiência.
Enfim, é possível ganhar dinheiro conciliando investimentos e atendimento decente aos consumidores. Sendo assim, não pode deixar de ser no mínimo esquisita a recente conversa que o presidente Lula teve, na Itália, com os controladores da Enel, concessionária que virou sinônimo de péssimo serviço de distribuição no Brasil.
Bem ao seu estilo, Lula passou por cima da agência reguladora e do seu próprio ministro de Minas e Energia, embora este estivesse ao seu lado na conversa com a Enel. Fica se imaginando porque razão um presidente da República se envolve diretamente nesse tipo de conversa, mas aí é apenas uma questão de estratégia. Cada político tem a sua e o presidente Lula deve ter lá os seus bons motivos para chutar todo o arcabouço regulatório do País e negociar diretamente com os italianos.
Outro pepino na distribuição é a Amazonas Energia e há meses o Governo toca a questão com a barriga, pois não está a fim de tomar uma decisão mais forte em ano eleitoral.
Enfim, na distribuição de energia elétrica no Brasil tem de tudo. Inclusive empresas internacionais que tocam o seu negócio calmamente, sem grandes problemas. Nesse Brazilzão repleto de complexidades, cabe ao Governo arbitrar com base no marco legal e não meter os pés pelas mãos. E, obviamente, punir quando alguém merece ser punido.