Qual a utilidade do ranking das distribuidoras da Aneel?
É sempre bom tentar descobrir o que pensam os consumidores de qualquer segmento da economia. Assim, o site Paranoá Energia aplaude a iniciativa da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que está começando uma ampla pesquisa nacional para saber a opinião dos consumidores a respeito da qualidade da energia elétrica que chega em sua residência ou negócio. Vejam a matéria na seção “O que se diz” deste site.
O editor do site Paranoá Energia só gostaria de saber, entretanto, o que faz a Aneel com os dados consolidados desse tipo de pesquisa. Eles servem para que, além de as distribuidoras gastarem um bom dinheiro em publicidade, às vezes divulgando situações que não correspondem à realidade. As pesquisas da Aneel não são mentirosas, mas às vezes projetam uma ilusão sobre a realidade em que operam as distribuidoras no Brasil.
Vamos pegar o exemplo de uma empresa problemática, a Enel. No ano de 2023, as três concessionárias de distribuição da Enel ficaram, na pesquisa feita pela Aneel, na beira do ranking: 18º lugar (Ceará) e 21º lugar (Rio de Janeiro e São Paulo). No ano de 2021, a Enel São Paulo já tinha ficado na 19ª colocação, a do Rio em 23ª e a do Ceará 25ª.
Ou seja, a qualidade da Enel no Brasil já vinha caindo pelas tabelas, ocupando a parte final do ranking da pesquisa, mas aparentemente estava tudo bem entre a agência e a concessionária italiana. No entanto, todo mundo viu o que aconteceu nas áreas da Enel nos últimos meses.
As operações da Enel, como se sabe, estão se arrastando no Brasil e a empresa italiana luta desesperadamente para não perder as concessões. Inclusive toma atitudes politicamente arriscadas, ao passar por cima da agência reguladora e se reunir com o presidente da República do Brasil, numa viagem à Itália, quando implorou para não perder as três distribuidoras.
Em 2017, a Enel tomou uma atitude considerada pouco inteligente, na época, de assumir a concessão da distribuição de energia elétrica no estado de Goiás. Era um tremendo pepino e todo o setor elétrico sabia disso. A antiga Celg tinha um histórico de péssima qualidade de serviço, consequência de sucessivas irresponsabilidades na administração da empresa. Bem, cheia de pompa, a Enel assumiu. Tentou, tentou, mas não conseguiu resultado algum. Ao contrário, o serviço só conseguiu ficar pior ainda.
Durante dois anos seguidos, o serviço da Enel, em Goiás, na pesquisa da Aneel, foi classificado como o pior do Brasil. E o que aconteceu com a Enel? Nada. A empresa italiana é que desistiu do negócio, no início de 2023, e transferiu a concessão para o Grupo Equatorial, que tem tradição de pegar distribuidoras falidas e recuperar. Aparentemente, é o que está acontecendo em Goiás. Na realidade, em Goiás, a Enel levou um pontapé no traseiro.
Depois da tal reunião com Lula, a Enel não tem poupado recursos para divulgar o seu trabalho no Brasil. Este editor, que não era lembrado para nada pela Enel, praticamente todos os dias agora recebe material de divulgação da empresa. A Enel pelo menos está se movimentando e fazendo alguma fumaça. Já é alguma coisa.
Resta saber o que vai apontar a nova pesquisa da Aneel. Com a palavra os consumidores das áreas de concessão da Enel no Ceará, Rio de Janeiro e São Paulo.