BC é grande exemplo para Aneel
Um leitor atento entrou em contato com este site para lembrar um dado incontestável: a diretoria da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que tem encontrado enorme dificuldade para enquadrar a Enel SP em algum dispositivo legal e assim colocar um ponto final na polêmica concessão que hoje pertence à empresa italiana, deveria se mirar num exemplo que está a pouquíssimos kms de distância da sede da agência reguladora do mercado elétrico.
Trata-se do presidente do Banco Central. Indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, o economista Roberto Campos Neto tem garantia de permanência no cargo até dezembro de 2024. E, como ninguém neste País, faz valer o seu mandato, rebatendo numa boa todas as porradas que tem levado durante a atual gestão do presidente Lula.
E por qual razão Campos Neto seria um exemplo para os diretores da Aneel? A questão é simples: muita gente boa no setor elétrico (e este site comunga da ideia) entende que a agência reguladora do setor elétrico foi capturada pelo Ministério de Minas e Energia no que diz respeito ao tratamento a ser dado à concessionária Enel, de São Paulo.
O posicionamento da Aneel em relação ao tema é extraordinariamente coerente. Não faz nada e deixa o pau quebrar. A empresa italiana faz o que quer em São Paulo. A Aneel, que deveria zelar pelo conforto e bem-estar de todos os consumidores do País, lava às mãos quando o assunto é a cidade de São Paulo. Total submissão aos interesses políticos do Poder Executivo.
De fato, Campos Neto é um exemplo para todos os dirigentes que são detentores de mandatos neste País. Ninguém sofreu mais do que ele as pressões do Poder Executivo e dos seus apoiadores no Congresso Nacional.
Roberto Campos Neto foi indicado pelo presidente anterior. Quando o presidente Lula assumiu o atual mandato, logo de cara entrou em conflito com o presidente do Banco Central e insistiu em inúmeras oportunidades que ele deveria deixar o cargo.
Lula bateu pesado em Campos Neto. E mesmo faltando apenas três meses para terminar o mandato de Campos Neto, Lula não deixa passar uma oportunidade sequer para continuar batendo. O mesmo fizeram o ministro da Fazenda, a presidente nacional do PT e dezenas de integrantes do partido espalhados pelo Brasil inteiro.
Homem frio e corajoso, o presidente do BC nunca piscou. Continuou fazendo o seu trabalho, subindo a taxa de juros quando era necessário, mexendo no câmbio e manejando a política monetária dentro dos limites legais.
O Brasil hoje tem uma inflação relativamente baixa e o PT, nestas horas, se esquece que foi graças à política anti-inflacionária aplicada pelo BC que o monstro está sob controle. Se dependesse de algumas pessoas do Governo, provavelmente a inflação teria ido para o espaço, da mesma forma que foi durante a gestão da incompetente presidente Dilma, para quem um “pouquinho” (só um pouquinho) de inflação era bom para o País. Coitado do Brasil: até hoje os efeitos produzidos pela caótica gestão da Dilminha estão por aí.
Essa é a questão que se discute aqui: a importância dos mandatos dos dirigentes das agências reguladoras, para que eles possam resistir à truculência dos donos do Poder. Se o presidente Lula e o ministro Alexandre Silveira, por alguma razão desconhecida tratada na não menos misteriosa reunião realizada na Itália, não querem a caducidade da concessão da Enel de São Paulo, a Aneel não tem que abaixar a cabeça e aceitar a pressão.
Ao contrário, está aí o exemplo de Roberto Campos Neto. Mandato de dirigente de agência reguladora (não podemos esquecer que o Banco Central é a agência reguladora do mundo financeiro) serve para isso. Apenas para resistir à pressão do Poder Executivo e tomar as decisões que precisam ser tomadas. Não é somente para enfeitar currículos, como parece ser no caso da Aneel.
Já está passando da hora de a diretoria da Aneel deixar de ser provinciana e entender como o jogo é jogado.