Hora de trabalhar, Silveira
Terminado o primeiro turno das eleições municipais, o prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman, foi um dos vencedores, indo para o segundo turno com um candidato que é apoiado pelo ex-presidente Bolsonaro. Parabéns, prefeito.
Os leitores do site Paranoá Energia devem estar se perguntando: e o que isso tem a ver com o setor elétrico? Absolutamente tudo.
Embora seja presidente licenciado do PSD mineiro, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, está com certeza saboreando a ida de Noman para o segundo turno, pois o futuro da política mineira está completamente ligado ao que vai acontecer com o atual prefeito de BH, se será reeleito ou não.
A derrota do governador Romeu Zema e do ex-prefeito de BH, Alexandre Kalil, que apoiaram o candidato do terceiro lugar, Mauro Tramonte, abre um amplo caminho para Silveira e seu grupo político em Minas Gerais, do qual também faz parte o senador Rodrigo Pacheco.
No desenho da política mineira arquitetado por Silveira e Pacheco, um dos dois será candidato a governador em 2026. O que não for sairá para o Senado Federal. E ambos apoiarão o presidente Lula na campanha presidencial. Do ponto de vista de um governo de coalizão, tudo perfeito e compreensível.
Mas repete-se a pergunta do segundo parágrafo deste texto: o que o MME tem a ver com o futuro da política mineira?
Ora, até o segundo turno das eleições municipais, que será no dia 27 de outubro, o ministro e seu grupo político deverão se envolver até a alma na reeleição de Fuad Noman, o que é muito natural.
Este site apenas lembra que existem várias decisões técnicas dependendo de Sua Excelência e nenhuma delas vai prá frente. Por exemplo: a escolha do quinto diretor da Aneel.
Há meses, a agência reguladora do setor elétrico só tem quatro diretores, tem decisão cujo resultado é o empate e o quinto nome não sai. Segundo o ministro, a culpa é do Palácio do Planalto. Neste quesito, inclusive, a agência enviou os nomes dos substitutos para Silveira e ele também não se manifestou. O troço tá feio, pois o bicho tá pegando nas decisões da Aneel e falta diretor.
Além da Aneel, a ANP está tocando o seu dia a dia com um diretor substituto, pois Sua Excelência também não tem tempo para cuidar desse assunto. Virou moda nas agências ligadas ao MME.
Como se diz em Minas, essas indicações são importantes, mas não passam de café pequeno. Trata-se apenas de um nome. Bota no Diário Oficial, manda para o Senado e está resolvido. Mas não se resolve ainda sim.
E o que se poderia dizer de coisas mais complexas, como o novo modelo do setor elétrico, a respeito do qual tanto se fala e pouco se faz? A questão vem sendo sucessivamente adiada. O próprio ministro chegou a dizer que o novo modelo sairia em agosto e nada. Tá com cheiro de 2025, pois é o tipo de coisa que deverá exigir intervenções do Poder Legislativo. E por aí vai. Existem outras questões que dependem de Sua Excelência. Leilões de energia, por exemplo.
Como dirigente político-partidário é justo o ministro de Minas e Energia aparecer na festa de comemoração da confirmação do nome de Fuad Noman para o segundo turno em BH. Só quem já trabalhou na política sabe o significado disso em termos de adrenalina.
Esse talvez seja o grande equívoco da indicação de Silveira para o MME. O presidente Lula demonstrou pouquíssimo apreço pela área energética não só em escolher um nome que tinha e tem pouca intimidade com os assuntos da Pasta, como também o mesmo cidadão está envolvido até o pescoço na política partidária de um estado importante da República e compreensivelmente tem que dividir o seu tempo entre a política e a área técnica.
Este site não acha graça em escrever isto, mas o governo gosta tanto de falar em eficiência e Custo Brasil e o doublé de político e titular do MME chamado Alexandre Silveira é claramente um sinal de ineficiência e de aumento do Custo Brasil.
Será que ninguém nunca disse isso para o presidente Lula ou por acaso ele sabe e como tantas outras coisas finge que não é problema dele?